quinta-feira, 16 de março de 2023

UMA ESTÓRIA NAS TERRAS DO FIM DO MUNDO - O QUE TIVE DE ATURAR AOS "CARCAMANOS"



Cuito Cuanavale. 
A 24 de Julho de 1969, saímos de Henrique de Carvalho e chegamos ao Cuito Cuanavale, após 4 horas de voo com escala em Cangamba. A pilotar o DO-27, 3430, o tenente Andrade, para uma operação com os helis dos “primos” da África do Sul (SAAF), essa operação envolvia tropas do exército, e pára-quedistas.

O 3430
A 29 deslocamo-nos a Serpa Pinto, e voltamos no mesmo dia. Quando chegamos tinha também chegado um PV-2 que transportava o correio de Henrique Carvalho, foi quando recebi a noticia da morte do meu avô. Com o desgosto, à noite após o jantar, decidi com o meu amigo e camarada Orlando Simões beber uns bagacitos o que deu numa tremenda bebedeira. Na camarata juntamo-nos com os mecânicos dos helicópteros dos “primos” e as pielas deram em que os sul-africanos começaram a provocar e a dizer que os helis deles eram melhores que os nossos T-6 e DOs coisa que eu não gostei.
Um grupo de "primos"

Entretanto viemos para fora sempre a discutir (conversas de bêbados) palavra puxa palavra e as tantas um deles deu-me um soco nos queixos e enfiou-se na camarata onde todos nós dormíamos, tanto pilotos e mecânicos portugueses como sul-africanos. Lá me consegui endireitar e fui atrás dele entrei na camarata onde quase todos dormiam, entrei a vociferar a chamar-lhe todos os nomes do nosso vernáculo. Levantam-se dois “carcamanos” de quase 2 metros de altura, dispostos a “anestesiar-me” para eu sossegar, o Orlando Simões afasta-os, agarra em mim e deita-me na minha cama, que por sinal era junto à porta. Mal consigo “aterrar” vem “carga ao mar” o que fez com que tudo o que eu jantei, que por sinal era feijoada, ficou espalhado junto à porta da camarata, o que fez com que os “primos” e não só, ficassem incomodados com o odor, e abriram a porta fazendo com que o frio e o cacimbo da noite entrasse e eu acabei por pagar as favas.
eu em Cangamba
A 31 voamos para Cangamba onde permanecemos até 4 de Agosto, juntamente com os “primos”, fomos todos dormir na “missão“.
A 2 de Agosto fui no DO-27 com o tenente Andrade, ao Alto Cuito, quando voltamos já não havia espaço para eu dormir na “missão”, então fui obrigado a dormir na prisão do quartel do exército num colchão insuflável, em que tive de o encher várias vezes durante a noite.
A 4 de Agosto voltamos para o Cuito Cuanavale.
Quando ai chegamos verifiquei que a cama que eu ocupava já estava ocupada por outro que por sinal era o nosso camarada Montenegro, entretanto procurei uma cama vaga e encontrei uma de um piloto sul-africano, que se ausentou em missão, e como “quem vai ao mar perde o lugar” fiquei com ela, entretanto o mecânico sul-africano que me tinha dado o soco, nessa noite emborrachou-se e tive que atura-lo, começou a resmungar entre dentes que aquela cama era do Lieutenant, e eu mandei-o levar no ...com o Lieutenant dele. Não é que o “menino” puxa de uma pistola a aponta-me à cabeça, eu que estava a escrever um aerograma para casa, acabei por não saber o que estava a fazer, tinha a esperança de que o Orlando Simões, que estava a dormir na cama em frente à minha, acordasse e fizesse algo para me livrar daquela situação, pois na cama ao lado da dele estava pendurada uma walter dum piloto nosso, mas felizmente o tipo acabou por baixar a arma saiu da camarata e pôs-se aos tiros fora do hangar.
Claro não deixei passar o caso, no dia seguinte informei o tenente Andrade, o que fez com que o “primo” fosse recambiado para a África do Sul.
Provavelmente o Orlando Simões não se recorda destes episódios.

As datas tenho a certeza porque fui buscar à minha caderneta de registo do serviço aéreo.















Por: Orlando Coelho

Sem comentários:

Enviar um comentário