quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

11 DE JUNHO DE 1975 EM HC

Henrique Carvalho, 1974. Em primeiro plano o Colégio e a Igreja - foto de Alfredo Anacleto Santos

Nessa tarde de 11 de Junho, também vim para a cidade de carro civil, de um amigo, que me foi buscar à base, para passar um pouco, do cair da tarde pela Bonina e picadeiro lá do sítio. 
Uma vez que ali tinha começado, em 1964/65 o meu secundário, no colégio de Saurimo, por detrás da igreja matriz...
O tiroteio deflagrou ao entardecer e nós, antes do cruzamento da Bonina e do Cine Chicapa, fomos alertados pelas primeiras rajadas vindas do lado do MPLA, que tinha o quartel no armazém do Marques Dias Lda. Uma das ditas estilhaçou os para-brisas do nosso carro, quer o da frente quer o de trás! Saí ainda em andamento e baldei-me para o quintal contíguo à casa do presidente da Câmara, uma vivenda de esquina, pertencente à família Matos.
O Carlos Matos, tinha sido Comando e já tinha saído da tropa. Embora mais velho do que eu, conhecíamos-nos dos tempos de escola, onde ele ia à saída das aulas para ver as "miúdas"! Eu e o meu amigo Gorgulho, passamos até às 4 da manhã, com um cacimbo do caraças, deitados ao toro das árvores do seu quintal, ouvindo aquele zumbido das granadas a sair dos morteiros, que eram as que mais me preocupavam uma vez que se caíssem no quintal iríamos pelo ar. Quer as disparadas do quartel do MPLA, quer as que vinham do lado das (OP) Obras Públicas, onde a FNLA assentou arraiais...
Efeito dos combates entre os movimentos

Tínhamos por companhia um pastor alemão pertencente à família dona da casa. O cão estava ferido e veio deitar-se entre nós...só às 4 da matina, já clareava e como nós, começávamos a ficar destapados, pois a noite ia levantar breve e ficaríamos expostos aos tiros directos do outro lado da rua, pois já tínhamos sido alvejados por 4 elementos que estavam no quintal oposto, ao lado do cinema, os quais foram destruindo o parapeito do muro...
Aí, tomei a iniciativa de rastejar até à porta das traseiras, que como é uso em África, é sempre alta, havia uma escadaria de 4/5 degraus, que me punham ao nível do muro circundante e me exponham a ser baleado. Então rastejei até lá, pondo-me encostado a dita escada, e esticando o braço, batia com o punho na parte de baixo da porta, chamando pelo Carlos Matos! Passado um bocado, ele perguntou, sem abrir a porta, quem era...identifiquei-me bem! Pois o meu apelido familiar, era sonante naquela região. Ao entreabrir a porta, o pastor de salto foi o primeiro a entrar, depois eu, rastejando e o Gorgulho que estava atrás de mim...
Das 4 da manhã até ao meio dia e tal ali permanecemos...os tiros escasseavam pela manhã e de repente começamos a ouvir um megafone em português, com palavras de ordem para cessar o fogo, que se estavam a matar entre irmãos. Era um Capitão do Exército, em pé, num jeep Willys, apenas acompanhado do condutor...entre o meio dia e a uma da tarde, houve uma acalmia, que deu tempo para que toda a cidade de Saurimo ou Henrique de Carvalho, como queiram, se mudasse literalmente para a Base, o AB4.
O resto que conte quem quiser...Ainda quero acrescentar, que no dia 10 de Junho, fizemos uma formação de 3 Alouettes llI em continência à bandeira, eu voava héli canhão! E no dia imediato, estava deitado num quintal a assistir ao que já foi reportado...ainda bem que alguém se lembra destes tristes episódios passados pelas nossas FAs..."Foxtrot".
Depois disto, ainda fui ao Luso, várias vezes nesse carro era
um Ford Taunus 17M RS de cor verde, sem para-brisas nenhum...coisas dos 20 anos, "idade da imortalidade"...
Fui o último piloto de Hélis que passou pelo AB4...saí do Luso a 16 de Agosto de 1975. Fui eu que fui com a delegação do MFA a Camissombo e Veríssimo Sarmento, para desarmar os Catangas...nem me deixaram aterrar dentro do quartel...!


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