terça-feira, 10 de setembro de 2019

GUERRA NOS CÉUS - HELICÓPTEROS


A Força Aérea utilizou em África, helicópteros Allouette e Puma, e desde o início da sua operação estes aparelhos demonstraram ser dos mais importantes meios para o sucesso das operações contraguerrilha. Foi a aeronave que melhor simbolizou o esforço da Força Aérea na guerra, já que aumentou a mobilidade das forças terrestres, opiou-as pelo fogo, evacuou do campo de batalha os seus feridos, reabasteceu-as de água, de comida e de munições e colaborou ainda no auxílio às populações.
A decisão de adquirir os primeiros helicópteros data de 1957 (Embora desde 1954 a Força Aérea operasse um Sikorski UH-17, nos Açores) data em que o governo decidiu adquirir sete Allouetes ll (ALll) à Sud-Aviation. Estas sete aeronaves começam a actuar em Portugal em 1958.
Em meados de 1961, na sequência do início da guerra em Angola, os ALll foram para o aeródromo do Negage (AB3), sendo deslocados para Luanda (BA9) em Agosto do mesmo ano e substituídos, em Abril pelos ALlll, sendo os ALll transferidos para a Guiné, onde entretanto se abrira uma nova frente de guerra. Quatro deles irão ainda no início de 1966 para Moçambique transportados num DC-6 para guarnecer a nova frente de combate, vindo a ser progressivamente retirados da actividade operacional nos três teatros de guerra, substituídos pelos Allouettes lll
Os Allouettes lll realizavam missões de transporte táctico em operações de helitransporte e heliassalto, de transporte logístico, de evacuação sanitária e de apoio de fogo. Para que estes helicópteros, basicamente uma aeronave civil pudesse ser utilizado como plataforma de armas, houve que o adaptar para ser possível instalar a bordo uma arma eficaz. Durante vários anos o ALlll foi armado com um canhão de 20 mm, montado em suporte a bombordo, operado por um atirador que o disparava através da porta aberta. Este aparelho que apoiava as forças terrestres, protegia outros helicópteros de transporte e fazia reconhecimento armado, teve, durante a guerra o código de “Lobo Mau”. Em 1973, realizaram-se experiências para adaptação de lança-foguetes de 37mm e de 2,75”, que nunca chegaram à fase de emprego operacional.



Em 1970, e fruto da necessidade de as forças portuguesas disporem de helicópteros de maior capacidade de transporte, foram adquiridos também à Sud-Aviation,13 SA 330-Puma, que entraram em serviço em Angola em Outubro de 1970 destinando-se seis deles a Moçambique. Eram bimotores que podiam transportar até 18 a 20 homens (um grupo de combate), o que, dada a sua elevada autonomia, aumentou grandemente a mobilidade das forças terrestres. Estes helicópteros podiam voar de noite, o que representou progresso significativo em relação aos ALlll. Foram intensamente utilizados por forças especiais em Angola, nas missões de intersecção de colunas de guerrilheiros vindos das fronteiras do Congo e da Zâmbia, e serviram também como transporte de evacuação sanitária e de apoio logístico.
As missões de helicópteros para lançar tropas em acções de assalto ou para evacuar feridos tornaram-se cada vez mais perigosas e delicadas à medida que os guerrilheiros aumentavam a sua capacidade para os atacar nos momentos críticos de aterragem e de descolagem. Os de transportes, passaram assim a ser protegidos por outros armados por canhões de 20mm, que sobrevoavam a baixa altitude as zonas próximas dos embarques e desembarques. Os helicópteros de transporte eram habitualmente designados por “Canibais” e os helicanhões
por “Lobos Maus”.


O texto que se segue é a adaptação do relatório de um piloto que comandou uma dessas missões de escolta e protecção, em Março de 1974 durante uma operação realizada por uma unidade de Comandos no Norte da Guiné.

«Os “Lobos Maus” 1 e 2 deram protecção aos “Canibais “quando aterraram para evacuação de alguns elementos de “Bombox” (código de forças terrestres) feridos.
Enquanto “Lobo Mau” 1 preparava a aterragem, o “Lobo Mau” 2, informado que o IN tinha fugido para norte, dirigiu-se naquela direcção ao longo de uma picada que apresentava passagem recente de viaturas. A meio do percurso em zona de vegetação mais densa, deparei com um bidão de combustível na berma. Como me parecesse estranho, voltei ao local e reparei que atrás de uma árvore estava um elemento IN que tentava passar despercebido e conforme eu evoluía em torno da árvore assim se encobria com a mesma. Fiz alguns tiros quando ele tentou deslocar-se para a mata vizinha e vi que ele caiu com as pernas partidas, reparando que no local se encontravam mais quatro elementos emboscados. Depois de bater essa mata, de cerca de 40 metros quadrados, e que não dava qualquer hipótese de escapar a quem lá se encontrava, ao evoluir para oeste deparei com mais dois, que alvejei. Estavam tão juntos que foram atingidos pelo mesmo tiro. Após ter verificado que já não havia qualquer elemento suspeito, fiz um rápido reconhecimento visual na zona e reparei que, pouco abaixo do local onde estava o bidão, se encontrava um morteiro de 120mm,montado sobre rodas. Contactei o “Lobo Mau” 1 e este mandou seguir o grupo “Leopardo” para a zona. Quando este chegou ao local, um grupo emboscado reagiu enquanto retirava para uma mata de palmeiras. Fiz alguns tiros que feriram mortalmente um desses elementos. Depois de contactar “Leopardo” e de me informar que já não havia necessidade da minha presença regressei à base.»
O PAIGC, num manual de instruções apresentava o modo como se devia lutar contra os helicópteros, especialmente para fazer face à nova ameaça dos armados.
«Desde meados de 1966 que os colonialistas tem vindo a usar cada vez mais helicópteros contra nós. Já antes os utilizavam, mas apenas para abastecimento dos seus soldados isolados, para retirar mortos e feridos do campo de batalha e para reconhecimento. Agora os colonialistas estão a usar os helicópteros armados contra nós para fazer mal ao nosso povo e para acções de surpresa contra certos sectores da nossa luta. Já nos fizeram algum mal e poderão fazer muito mais se não tomarmos as medidas necessárias para responder com coragem e força a esta nova tentativa criminosa dos colonialistas.

Fonte: Diário de Noticias
Fotos:
Tratamento e montagem:Aníbal de Oliveira

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