quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

O CHIÚME

Chiume - 1972 - foto de Antonio Carvalho da CArt.3514

Os mantimentos chegavam aos aquartelamentos por avião, lancha ou transporte terrestre.
Os helicópteros não costumavam ter este tipo de missão regular mas, lá diz o ditado, não há regra sem excepção. Entre 1972 e 1975, enquanto piloto de helicópteros da Força Aérea 
conheci em Angola um aquartelamento tão desgraçadamente remoto, tão tristemente isolado, que praticamente nem recebia comida: o Chiúme.

Lobo Antunes no Chiúme
"Foi retratado por António Lobo Antunes na obra Os CUS de Judas e só o nome diz tudo. É descrito pelo autor como «o último dos cus de Judas  no leste, o mais distante da sede do batalhão e o mais isolado e miserável: os soldados dormiam em tendas cónicas na areia, partilhando com os ratos a penumbra nauseabunda...Isolados como poucos no cimo de um morro que volta e meia era violentamente atacado, os militares que tinham a desdita de estar no Chiúme chegaram ao cúmulo de, numa dada altura, só terem uma única lâmpada no aquartelamento: quando estavam a jantar, punham a lâmpada no interior para verem o que tinham no prato; depois do jantar, punham a lâmpada cá fora para iluminar o perímetro, não fosse haver azar."

Chiume - 1972 - foto de Antonio Carvalho da CArt.3514


Levar alimentos ao Chiúme era praticamente uma impossibilidade porque a picada estava minada, as Berliets não passavam, os ataques sucediam- se...
Para resolver o problema e não deixar aqueles homens passarem fome, os comandantes do Luso e de Gago Coutinho terão articulado entre si um estratagema alternativo para o transporte dos alimentos: todas as semanas ia um helicóptero «levar o médico ao Chiúme».
Fui com regularidade o piloto destas idas e vindas do "médico", que mais não eram do que um pretexto para transportarem um par de centenas de quilos de alimentos para os infelizes que lá estavam a cumprir comissão.
Chegados ao local, o "médico" apeava-se e o helicóptero voltava a descolar para ir dar uma volta.... e caçar. Era a única maneira de dar àqueles homens carne fresca, tudo o resto era seco ou enlatado. E o ritual repetia-se, semana após semana.

Muitas vezes manobrei o aparelho, o mecânico que estivesse comigo punha a G3 a postos apontada lá para baixo e sobrevoávamos a área em busca de algum animal que se pusesse a jeito para alimentar os militares do Chiúme.

Por:


2 comentários:

  1. Chíúme em Angola
    Antadora em Moçambique, Planalto dos Maconde
    24 horas para ter um litro de Água bebível
    hernâni pereira Fuurriel Miliciano de Artilharia 68 @ 71
    Na Extraordinária companhia da C.Caç 2451
    Boas Festas

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    1. Estive lá em 74 3ª cart / bart 6320. É totalmente verdade. Até a água era da côr da ferrugem .

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