quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

COBERTOS DE PÓ BRANCO !

Noratlas 6402 em S. Tomé

Em São Tomé, não havia aviões da FAP.
Havia sim uma equipa de pessoal que assistia os que por lá passavam. 
Era o Aeródromo de Trânsito Nº.2. 
Uma ou duas vezes por mês, o Noratlas estava por lá, levando e trazendo passageiros e carga. 
Eram os cabos mecânicos de material aéreo, que tinham a responsabilidade de conferir manifestos de carga e listas de passageiros, na chegada e na partida. 
Um dia, aí por finais de 1973 princípios de 1974 (não consigo precisar) após a chegada do Nord, levámos a escada para a porta lateral do aparelho, para que os passageiros pudessem sair. 
O espanto apanhou toda a gente, pois, conforme os passageiros iam saindo, víamos que grande parte deles vinham cobertos de pó branco. Achando aquilo estranho, perguntei ao sargento mecânico de vôo o que tinha acontecido. 
Um grumete, da marinha portuguesa que vinha para a sua comissão de serviço na ilha, ao sentir-se incomodado com uma carga junto aos seus pés, pegou numa alça que esse volume tinha lateralmente e tentou arrastá-la para longe dele. 
Azar! Pegou precisamente na alça de disparo de enchimento automático do barco salva-vidas. 
Claro que o barco começou a encher e comprimiu os passageiros contra os seus assentos e fuselagem do avião. Segundo o chefe mecânico foi o caos dentro do compartimento. Como os barcos de borracha estavam envolvidos em pó de talco para sua protecção, daí o pó branco. 
Em resultado disso, o avião quando regressou a Luanda, só levou metade dos passageiros e a carga prevista. É que o Nord trazia dois desses barcos porque a viagem era feita sobre o mar e não se punha sequer a possibilidade em caso de emergência ir aterrar em qualquer dos países africanos ali perto.


Por Carlos Gato 



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