quinta-feira, 5 de julho de 2018

O BOEING 707 DA FAP

O 8802  no AB4-Henrique de Carvalho, em 1973 - foto de Anselmo Prodêncio Silva AFAB4

Resumo histórico:
O Boeing 707 é fruto da iniciativa privada da empresa construtora. O protótipo, designado Model 367-80, realizou o primeiro voo em 15 de Julho de 1954 e foi largamente utilizado na demonstração do seu potencial como transporte comercial e militar, mantendo-se a voar até 1966, como aeronave de testes.
Nas provas a que os militares o submeteram obteve extraordinário êxito como avião-cisterna, demonstrando grande capacidade para reabastecer em voo os modernos aviões de combate, voando a altitudes e velocidades próximas das utilizadas operacionalmente por estes aparelhos.
Daqui resultou a encomenda feita pela Força Aérea dos Estados Unidos (USAF) de notável quantidade de aviões-cisterna, que receberam a designação Boeing KC-135 Stratotanker. O protótipo desta versão fez o primeiro voo em 31 de Agosto de 1956. A produção foi encerrada em 1964, depois de construídas 732 unidades.
Tomando como base o KC-135, foi estudada a sua utilização como transporte militar, recebendo a designação de Boeing C-135 Stratolifter.
Os C-135A Stratolifter começaram a voar em 19 de Maio de 1961 e os C-135B Stratolifter em 12 Fevereiro de 1962. Foram construídas muitas variantes destes modelos, especialmente concebidas para transporte de pessoal, de feridos em macas e carga geral, assim como posto de comando aéreo, reconhecimento fotográfico e electrónico. OitoBoeing EC-135N foram destinados a trabalhos de radio-telemetria para o Projecto Espacial Apolo.
A versão especialmente preparada para o sistema de controlo e aviso aerotransportado, divulgada pela sigla AWACS (Airborne Warning and Control System), transporta uma enorme antena de radar em forma de disco convexo, destacada sobre o dorso, recebendo a designação de Boeing E-3A Sentry. A USAF começou a receber os E-3A a partir de 24 de Março de 1977.
A versão RC-135 foi usada na vigilância contra os mísseis intercontinentais soviéticos, entre outras tarefas especializadas.
Durante muitos anos, os aviões da versão designada por Boeing VC-137C foram o transporte do Presidente dos Estados Unidos, os conhecidos “Air Force One”.
Em 1955, enquanto decorria o estudo dos Boeing KC-135 Stratotanker, a USAF autorizou o desenvolvimento do estudo tendo em vista a produção de aviões de transporte comercial, que se concretizou com a produção dos mundialmente conhecidos Boeing 707.
O protótipo da versão civil realizou o seu primeiro voo em 20 de Dezembro de 1957. Os primeiros aviões da produção em série destinaram-se à “Pan Am”, que inaugurou o seu primeiro serviço transatlântico com aviões a reacção em 26 de Outubro de 1958.
Cabe-lhes a honra de, em parceria com os Douglas DC-8, terem revolucionado o conceito de transporte aéreo comercial de longa distância. Tripulantes e passageiros puderam então desfrutar de viagens mais rápidas, tranquilas e seguras, ao voar nos novos aviões a reacção por cima do mau tempo. Foram os primeiros aviões a reacção cuja relação custo / eficácia permitiu o seu uso regular.
Com a entrada ao serviço dos novos aviões a reacção mais potentes e mais económicos, a “época de ouro” do Boeing 707 foi abalada. Alguns operadores actualizaram a motorização, tornando a exploração mais económica. De qualquer forma, poucos são os que ainda resistem à idade e à concorrência dos aviões da nova geração que, graças à actual tecnologia, possibilitam índices de exploração de alta rendibilidade.
Sem dúvida que o Boeing 707 foi o avião de reacção de transporte mais importante da sua geração.
Percurso em Portugal:
Os Douglas DC-6 da Força Aérea Portuguesa (FAP) que, desde 1961, vinham mantendo a ligação com a Guiné, Angola e Moçambique, começaram a ressentir-se, não só da idade, mas também do enorme esforço a que estavam submetidos. A sua decadência comprometia seriamente o transporte estratégico para as frentes de combate naqueles territórios.
DC6 dos TAM no AB1 Portela

Perante esta situação e depois de muitas diligências, conseguiu-se o “milagre” – face ao boicote internacional de venda de material às Forças Armadas Portuguesas devido à Guerra do Ultramar – de o Governo dos Estados Unidos autorizar a Boeing a aceitar o fornecimento a Portugal de três Boeing 707-3F5C, uma versão mista para passageiros e carga, com grandes portas de carga e sistema autónomo de carga e descarga.
A encomenda de três aviões foi feita em 1970, mas o Governo Português só autorizou a compra de dois, comprometendo o planeamento inicial.
O primeiro Boeing 707 chegou a Portugal às 11 horas e 30 minutos do dia 14 de Outubro de 1971 e às 22 horas e 30 minutos desse dia descolou com tropas para Luanda, o que prova a flexibilidade e capacidade de organização da FAP desse tempo. O segundo chegou em 14 de Dezembro de 1971.
Foram colocados no então Aeródromo-Base N° 1 (AB1), situado no Aeroporto de Lisboa, na Esquadra 82, mais tarde Esquadra 132.

A FAP atribuiu-lhes as matrículas 8801 e 8802, correspondendo aos números de construção 20515 e 20514, respectivamente, curiosamente por ordem inversa.
Durante os três anos seguintes cumpriram espectacularmente a sua missão, transportando cerca de 318.000 passageiros do Exército (78%), Marinha (7%) e Força Aérea (15%), além de muitas toneladas de carga, sem que tenham falhado uma missão.
Mantendo-se em operação contínua, conseguiram uma relação de exploração de 10,6 horas de voo / dia. Para tal, foi necessário executar rigorosamente um planeamento bem concebido e contar com a grande dedicação e profissionalismo do pessoal de voo e, principalmente, do pessoal de manutenção.
A exploração destes aviões foi considerada exemplar a nível mundial, com referências elogiosas na imprensa internacional especializada.
O ex-FAP 8801 ao serviço da TAP
Terminada a Guerra do Ultramar, a FAP deixou de ter justificação para a existência de dois aviões com tão grande capacidade de transporte. Assim, em Outubro de 1976 foram entregues aos Transportes Aéreos Portugueses (TAP). O 8801 recebeu a matrícula civil CS-TBU e o 8802 a CS-TBT. Mais tarde foram vendidos a uma companhia charter a Air Malta e posteriormente à FAI-Força Aérea Italiana, onde foram adaptados a avião-cisterna, que em meados da década de noventa ainda os operava.

Estavam pintados segundo o padrão da FAP para os aviões de transporte, com a parte superior da fuselagem e o estabilizador vertical em branco, limitado por uma faixa em azul escuro ao longo da fuselagem, colocada um pouco abaixo das janelas. As restantes superfícies eram em chapa polida.
Apresentavam a Cruz de Cristo, sobre círculo branco, circunscrito a azul no extra-dorso da asa esquerda, no intradorso da asa direita e nos lados da fuselagem. As cores nacionais, sem escudo, estavam colocadas dentro de um rectângulo nos lados do estabilizador vertical. Os números de matrícula encontravam-se a preto em ambos os lados das asas, alternando com a insígnia e também sobre os rectângulos com as cores nacionais, no estabilizador vertical.
Apesar da sua passagem pela FAP ser breve, os Boeing 707 prestaram serviços de grande valor a Portugal.
Na BA12-Bissau, na versão carga

Dados técnicos:
a. Tipo de Aeronave (versão 707-3F5C)
Avião quadrirreator terrestre, de trem de aterragem triciclo retráctil, monoplano de asa baixa, revestimento metálico, cabina integrada na fuselagem, concebido para missões de transporte aéreo de longo curso . Tripulação: 4 (2 pilotos, técnico de voo e navegador), mais assistentes de cabina.
b. Construtor
Boeing Aircraft Co. / USA.
c. Motopropulsor
Motores: 4 motores Pratt & Whitney JT-4-A11, de 7.937 Kgf de impulsão.
d. Dimensões
Envergadura....................44,42 m
Comprimento….............46,60 m
Altura………….….........12,92 m
Área alar...................….276,92 m²
e. Pesos
Peso vazio…………….............44.663 Kg
Peso máximo à descolagem....148.325 Kg
f. Performances
Velocidade máxima ……..976 Km/h
Velocidade de cruzeiro......885 Km/h
Tecto de serviço ……...13.000 m
Raio de acção................12.250 Km
g. Armamento
Sem armamento.
h. Capacidade de transporte 190 passageiros ou 40.000 Kg de carga.

Texto extraído de "Aeronaves Militares Portuguesas no Século XX" - Adelino Cardoso
Fotos do AFAB4 

4 comentários:

  1. Informo que nenhum foi vendido à Air Malta (não charter mas companhia de bandeira) mas sim o CS-TBU foi-lhes alugado pela TAP.
    Foram posteriormente vendidos ao Estado Italiano, tendo integrado a FAI-Força Aérea Italiana após transformação em Cargo-Tankers, com as matrículas MM62150 e MM52151.
    Em 2007 o Estado Italiano vendeu-os à companhia privada de reabastecimento aéreo Omega Air, tendo-os substituído por um B-767.
    Se consultarem na net por "www.toscanavolo.it", um grupo de entusiastas da aviação sediado na zona da Base Aérea de Pratica di Mare, onde eles pertenciam.

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    1. Os 707 da FAP não tinham Pratt & Whitney JT-4-A11, mas sim JT3D-3B, alias como os da TAP (o 1º é um turbojet, o 2ª um turbofan)

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  2. Os dois 707 da FAP para além das versões de passageiros ou carga, também tinham a versão sanitária com macas sobrepostas.
    Eram combi's.

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  3. E se bem me parece, continuam a voar com a Omega...

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