O 8802 no AB4-Henrique de Carvalho, em 1973 - foto de Anselmo Prodêncio Silva AFAB4 |
Resumo histórico:
O Boeing 707 é fruto da iniciativa privada da empresa construtora. O protótipo, designado Model 367-80, realizou o primeiro voo em 15 de Julho de 1954 e foi largamente utilizado na demonstração do seu potencial como transporte comercial e militar, mantendo-se a voar até 1966, como aeronave de testes.
Nas provas a que os militares o submeteram obteve extraordinário êxito como avião-cisterna, demonstrando grande capacidade para reabastecer em voo os modernos aviões de combate, voando a altitudes e velocidades próximas das utilizadas operacionalmente por estes aparelhos.
Daqui resultou a encomenda feita pela Força Aérea dos Estados Unidos (USAF) de notável quantidade de aviões-cisterna, que receberam a designação Boeing KC-135 Stratotanker. O protótipo desta versão fez o primeiro voo em 31 de Agosto de 1956. A produção foi encerrada em 1964, depois de construídas 732 unidades.
Tomando como base o KC-135, foi estudada a sua utilização como transporte militar, recebendo a designação de Boeing C-135 Stratolifter.
Os C-135A Stratolifter começaram a voar em 19 de Maio de 1961 e os C-135B Stratolifter em 12 Fevereiro de 1962. Foram construídas muitas variantes destes modelos, especialmente concebidas para transporte de pessoal, de feridos em macas e carga geral, assim como posto de comando aéreo, reconhecimento fotográfico e electrónico. OitoBoeing EC-135N foram destinados a trabalhos de radio-telemetria para o Projecto Espacial Apolo.
A versão especialmente preparada para o sistema de controlo e aviso aerotransportado, divulgada pela sigla AWACS (Airborne Warning and Control System), transporta uma enorme antena de radar em forma de disco convexo, destacada sobre o dorso, recebendo a designação de Boeing E-3A Sentry. A USAF começou a receber os E-3A a partir de 24 de Março de 1977.
A versão RC-135 foi usada na vigilância contra os mísseis intercontinentais soviéticos, entre outras tarefas especializadas.
Durante muitos anos, os aviões da versão designada por Boeing VC-137C foram o transporte do Presidente dos Estados Unidos, os conhecidos “Air Force One”.
Em 1955, enquanto decorria o estudo dos Boeing KC-135 Stratotanker, a USAF autorizou o desenvolvimento do estudo tendo em vista a produção de aviões de transporte comercial, que se concretizou com a produção dos mundialmente conhecidos Boeing 707.
O protótipo da versão civil realizou o seu primeiro voo em 20 de Dezembro de 1957. Os primeiros aviões da produção em série destinaram-se à “Pan Am”, que inaugurou o seu primeiro serviço transatlântico com aviões a reacção em 26 de Outubro de 1958.
Cabe-lhes a honra de, em parceria com os Douglas DC-8, terem revolucionado o conceito de transporte aéreo comercial de longa distância. Tripulantes e passageiros puderam então desfrutar de viagens mais rápidas, tranquilas e seguras, ao voar nos novos aviões a reacção por cima do mau tempo. Foram os primeiros aviões a reacção cuja relação custo / eficácia permitiu o seu uso regular.
Com a entrada ao serviço dos novos aviões a reacção mais potentes e mais económicos, a “época de ouro” do Boeing 707 foi abalada. Alguns operadores actualizaram a motorização, tornando a exploração mais económica. De qualquer forma, poucos são os que ainda resistem à idade e à concorrência dos aviões da nova geração que, graças à actual tecnologia, possibilitam índices de exploração de alta rendibilidade.
Sem dúvida que o Boeing 707 foi o avião de reacção de transporte mais importante da sua geração.
Percurso em Portugal:
Os Douglas DC-6 da Força Aérea Portuguesa (FAP) que, desde 1961, vinham mantendo a ligação com a Guiné, Angola e Moçambique, começaram a ressentir-se, não só da idade, mas também do enorme esforço a que estavam submetidos. A sua decadência comprometia seriamente o transporte estratégico para as frentes de combate naqueles territórios.
DC6 dos TAM no AB1 Portela |
Perante esta situação e depois de muitas diligências, conseguiu-se o “milagre” – face ao boicote internacional de venda de material às Forças Armadas Portuguesas devido à Guerra do Ultramar – de o Governo dos Estados Unidos autorizar a Boeing a aceitar o fornecimento a Portugal de três Boeing 707-3F5C, uma versão mista para passageiros e carga, com grandes portas de carga e sistema autónomo de carga e descarga.
A encomenda de três aviões foi feita em 1970, mas o Governo Português só autorizou a compra de dois, comprometendo o planeamento inicial.
O primeiro Boeing 707 chegou a Portugal às 11 horas e 30 minutos do dia 14 de Outubro de 1971 e às 22 horas e 30 minutos desse dia descolou com tropas para Luanda, o que prova a flexibilidade e capacidade de organização da FAP desse tempo. O segundo chegou em 14 de Dezembro de 1971.
Foram colocados no então Aeródromo-Base N° 1 (AB1), situado no Aeroporto de Lisboa, na Esquadra 82, mais tarde Esquadra 132.
A FAP atribuiu-lhes as matrículas 8801 e 8802, correspondendo aos números de construção 20515 e 20514, respectivamente, curiosamente por ordem inversa.
Durante os três anos seguintes cumpriram espectacularmente a sua missão, transportando cerca de 318.000 passageiros do Exército (78%), Marinha (7%) e Força Aérea (15%), além de muitas toneladas de carga, sem que tenham falhado uma missão.
Mantendo-se em operação contínua, conseguiram uma relação de exploração de 10,6 horas de voo / dia. Para tal, foi necessário executar rigorosamente um planeamento bem concebido e contar com a grande dedicação e profissionalismo do pessoal de voo e, principalmente, do pessoal de manutenção.
A exploração destes aviões foi considerada exemplar a nível mundial, com referências elogiosas na imprensa internacional especializada.
O ex-FAP 8801 ao serviço da TAP |
Terminada a Guerra do Ultramar, a FAP deixou de ter justificação para a existência de dois aviões com tão grande capacidade de transporte. Assim, em Outubro de 1976 foram entregues aos Transportes Aéreos Portugueses (TAP). O 8801 recebeu a matrícula civil CS-TBU e o 8802 a CS-TBT. Mais tarde foram vendidos a uma companhia charter a Air Malta e posteriormente à FAI-Força Aérea Italiana, onde foram adaptados a avião-cisterna, que em meados da década de noventa ainda os operava.
Estavam pintados segundo o padrão da FAP para os aviões de transporte, com a parte superior da fuselagem e o estabilizador vertical em branco, limitado por uma faixa em azul escuro ao longo da fuselagem, colocada um pouco abaixo das janelas. As restantes superfícies eram em chapa polida.
Apresentavam a Cruz de Cristo, sobre círculo branco, circunscrito a azul no extra-dorso da asa esquerda, no intradorso da asa direita e nos lados da fuselagem. As cores nacionais, sem escudo, estavam colocadas dentro de um rectângulo nos lados do estabilizador vertical. Os números de matrícula encontravam-se a preto em ambos os lados das asas, alternando com a insígnia e também sobre os rectângulos com as cores nacionais, no estabilizador vertical.
Apesar da sua passagem pela FAP ser breve, os Boeing 707 prestaram serviços de grande valor a Portugal.
Na BA12-Bissau, na versão carga |
Dados técnicos:
a. Tipo de Aeronave (versão 707-3F5C)
Avião quadrirreator terrestre, de trem de aterragem triciclo retráctil, monoplano de asa baixa, revestimento metálico, cabina integrada na fuselagem, concebido para missões de transporte aéreo de longo curso . Tripulação: 4 (2 pilotos, técnico de voo e navegador), mais assistentes de cabina.
b. Construtor
Boeing Aircraft Co. / USA.
c. Motopropulsor
Motores: 4 motores Pratt & Whitney JT-4-A11, de 7.937 Kgf de impulsão.
d. Dimensões
Envergadura....................44,42 m
Comprimento….............46,60 m
Altura………….….........12,92 m
Área alar...................….276,92 m²
e. Pesos
Peso vazio…………….............44.663 Kg
Peso máximo à descolagem....148.325 Kg
f. Performances
Velocidade máxima ……..976 Km/h
Velocidade de cruzeiro......885 Km/h
Tecto de serviço ……...13.000 m
Raio de acção................12.250 Km
g. Armamento
Sem armamento.
h. Capacidade de transporte 190 passageiros ou 40.000 Kg de carga.
Texto extraído de "Aeronaves Militares Portuguesas no Século XX" - Adelino Cardoso
Fotos do AFAB4
Informo que nenhum foi vendido à Air Malta (não charter mas companhia de bandeira) mas sim o CS-TBU foi-lhes alugado pela TAP.
ResponderEliminarForam posteriormente vendidos ao Estado Italiano, tendo integrado a FAI-Força Aérea Italiana após transformação em Cargo-Tankers, com as matrículas MM62150 e MM52151.
Em 2007 o Estado Italiano vendeu-os à companhia privada de reabastecimento aéreo Omega Air, tendo-os substituído por um B-767.
Se consultarem na net por "www.toscanavolo.it", um grupo de entusiastas da aviação sediado na zona da Base Aérea de Pratica di Mare, onde eles pertenciam.
Os 707 da FAP não tinham Pratt & Whitney JT-4-A11, mas sim JT3D-3B, alias como os da TAP (o 1º é um turbojet, o 2ª um turbofan)
EliminarOs dois 707 da FAP para além das versões de passageiros ou carga, também tinham a versão sanitária com macas sobrepostas.
ResponderEliminarEram combi's.
E se bem me parece, continuam a voar com a Omega...
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