Trouxemos Tejo e Tancos no coração,
Ficamos!
Aqui Alentejo terra ardente,
Continua a missão.
Estas palavras em jeito de rima e metricamente desalinhadas podem representar o que foi a grande reorganização da Força Aérea Portuguesa (FAP) no início da década de noventa. Foi o Major Rui Mateus ao tempo, 1992, Comandante da Esquadra 552 ALIII, que me desafiou para as escrever, simbolizando a nossa saída de Tancos para Beja, onde continuaríamos a operar o velhinho e generoso ALIII. Passados 23 anos, ainda lá continuam em grande destaque.
Na realidade, face à entrega por parte Governo Alemão da Base Aérea 11 em Beja, da passagem do Corpo de Tropas Paraquedistas para o Exército e a extinção de operação da BA3 por parte da FAP, muito mudou nos sistemas de armas e na vida daqueles que os operavam.
Relativamente à BA3 e como atrás referi os helicópteros ALIII começaram a operar a partir de Beja, e o Aviocar C212 a partir da BA1 Sintra. A BA3 fica assim liberta dos dois sistemas de armas e é iniciado o processo de entrega ao Exército, a fim de constituir uma unidade de elite daquele ramo das forças armadas.
Relativamente à BA3 e como atrás referi os helicópteros ALIII começaram a operar a partir de Beja, e o Aviocar C212 a partir da BA1 Sintra. A BA3 fica assim liberta dos dois sistemas de armas e é iniciado o processo de entrega ao Exército, a fim de constituir uma unidade de elite daquele ramo das forças armadas.
Por ordens superiores marchei de Tancos para Beja dois meses antes da previsão de chegada dos helicópteros, a fim de coordenar tudo o que estava relacionado com a operação dos mesmos. Como me senti triste sem eles os helicópteros, e todo o pessoal que os operava. Envolvi-me em tarefas nunca antes desenvolvidas. Adaptei-me Ao calor Alentejano, fui-me ajustando à alteração das cores da paisagem, bem como a ausência do Tejo. Queria de forma rápida coordenar tudo para que as máquinas e seus operadores pudessem vir, já que estava assumido que tinham mesmo que vir. Sentia-me só com saudade das máquinas e seus operadores. Dois longos meses de trabalho e quase isolamento, pois não tinha muito conhecimento da Base nem do pessoal que lá prestava serviço.
Criadas as condições para a chegada dos meninos, ei-los! Como me lembro de os ver ao longe numa longa formação. Todos prontos, todos a voar pelo próprio «pé”. Eu mesmo com pouco jeito para a sinalética os quis receber um a um na placa em frente ao hangar, que passaria a ser a sua nova casa. Uma pancada na cabine e um cumprimento aos ocupantes. Tinha chegado tudo o que eu precisava. As Máquinas, a minha gente. Foram dez anos nas terras de Pax Júlia! Lá fui utilizando o gerúndio, habituando-me também à sopa de cação, ao borrego, beldroegas, gaspacho e assim.
Depois veio Angola, mais uma vez! Agora sem guerra, muito melhor seguramente. Mais dois anos sem nada ver ou saber de Tancos. Depois, depois como o tempo não perdoa, começou a chegar altura de dar lugar aos outros. Assim aconteceu! Cumpridas que foram as formalidades de aposentação. Por estranho que pareça de Tancos nem um sinal. Ainda hoje me interrogo acerca de tão prolongada separação!
Finalmente no passado dia 17 aconteceu! Depois de 23 anos, Juntei-me a cerca de três centenas de servidores na BA3 e lá fui. Uns bons quilómetros antes comecei a visualizar o serpentear do Tejo que tanto me marcou. Ainda na margem sul já via a Torre de Controlo e os dois marcantes hangares. Aproxima-se a estrutura e aproximavam-se os companheiros para a jornada de convívio.
Junto à porta de armas os abraços prolongados, as perguntas circunstanciais e todo um sentimento de saudade e nostalgia. Muitos cabelos brancos, muitas caras enrugadas. Quase não dava para falar com ninguém pois sempre se vinham aproximando mais e mais querendo abraços e perguntas. Lá fomos base dentro até encontrar a nossa capela onde o Padre Bernardo nosso capelão muitos anos, se preparava para celebrar a indispensável missa. Os olhos andavam mais que as pernas! As modificações, as diferenças, como tudo tinha mudado! Que coisa estranha o que os meus olhos viam! Finda a missa muito marcada pelas sábias palavras do nosso capelão, dirigimo-nos ao Hangar Norte e Torre de Controlo para a foto de grupo.
Quando entrei naquele hangar que foi meu local de actividade durante muitos anos, fiquei como se algo de estranho me tivesse invadido o pensamento. Lá no primeiro andar o gabinete onde tempos e tempos passei a trabalhar quiçá a pensar. Recatos de uma vida. Estava igual, apenas fechado. Queria ver tudo muito depressa! Estranhamente ou não, no hangar nem um daqueles helicópteros generosos que já falei. Apenas pintados nas paredes como deixamos, os emblemas das várias Esquadras da FAP que operaram helicópteros. Não sei a razão de tão grande impulso, mas algumas lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto sem que tenha tido meios para as evitar.
Senti a fraqueza ou não do ser humano, refugiando-me em local mais recatado procurando esconder a minha fragilidade. Estava a sentir que aquela era última das milhares de vezes que por ali estive.
Nunca mais cá virei
Passear em tuas ruas,
Mas sempre te direi
Que vou ter saudades tuas
Ao fim da tarde depois de um belo repasto em que os companheiros estavam mais interessados em conversar, foram as despedidas sempre dolorosas.
Que belo texto, bem haja quem produziu este hino ao amor, que também o é. Fui cabo especialista 1962/1965 desde a Ota ao Montijo, Monsanto mas trabalhando no Centro de Comunicações do Estado Maior da F.Aérea, e fiquei marcado, bem marcado, por este espírito. Depressa me arrependi de não ter pedido a readmissão, pois depressa senti que tinha deixado partir ingloriamente a minha grande vocação. Um aceno de respeito por essas belas lágrimas que se lhe soltaram e entendo que faz bem em não voltar aonde já foi muito feliz.
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