sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

E ASSIM... FUI PARA ANGOLA !

Setembro de 1970, Esquadra nº.11 do GDACI, em Montejunto.

Esquadra nº. 11 Montejunto

Em Montejunto

Setembro mês de aniversário, já com 28 meses de FAP, a vida militar decorria normalmente naquela “estância de férias”, alheado do problema ultramarino pois já não esperava ser mobilizado. A malta do meu curso já tinha quase um ano de mobilização e já tinham sido mobilizados de cursos posteriores ao meu. 
Mas, e nestas coisas há sempre um, num certo dia desse princípio de Setembro, alguém me alerta: pá, já viste a OS ? 
Sendo a resposta negativa, logo recomenda: pois então vai ver…foste mobilizado, vais para a 2ª.RA ! E lá fui verificar…era verdade!
Francamente, não me ocorre qual o estado de espírito em que fiquei, não devo ter ficado muito satisfeito, mas preocupado também não. 
Sabia, que o “contrato” com a FAP era omisso nessa questão, mas que estaria sempre sujeito a essa contingência – não era filho de nenhum doutor (!) . 
Bom, felizmente, tinha sido nomeado para Angola, pois as informações respeitantes tanto á Guiné, como a Moçambique, não eram nada animadoras.
Coincidência, o meu chefe directo o sarg. Lopes, “Nandinho da Columbeira” como ele dizia, também é mobilizado para a 2ª. RA .
Começo, a preparar-me para o “terreno” que me espera e no que respeita á 2ª. RA, sei, que posso ser colocado por ordem de apetência: na BA9, no DMFA2, ambas em Luanda, depois no AB3-Negage e por fim o AB4-Henrique de Carvalho, a base dos castigados, dos “cacimbados”, o desterro, o pior, resumindo...a evitar. 
Mais uma vez estava á vontade, era o mais velho mobilizado, ou dos mais velhos, o pior que me poderia acontecer era ir parar ao Negage, mas já me estava a imaginar no bem bom da capital, Luanda.
Há que preparar também os meus pais, única “responsabilidade” á época, o que francamente me ajudou a de ânimo leve a enfrentar a missão angolana que me esperava.
Duas ou três vezes, me mandaram para embarque, as mesmas vim para casa por falta de transporte. Já estava saturado com esta situação, com as repetidas despedidas, inclusive, já tinha prometido que não voltaria a casa se não houvesse próximo embarque.
No dia 2 de Outubro, surgiu a ordem de comparecer no dia seguinte na Portela, seria agora?!
Aguardando embarque no AT1 Portela

No dia 3, um sábado, lá estava de “armas e bagagens” pronto para seguir para a desconhecida África, e a primeira surpresa: éramos muitos – duzentos –, a segunda surpresa: iriamos viajar num Boeing da TAP especialmente fretado para efeito. Que luxo, carago! O pessoal estava radiante, não era para menos, a maioria – como eu - nunca tinha andado de avião, estava preparado para ir no DC 6 e oferecem-lhe uma viagem de 1ª.classe, com direito a saquinho de viagem TAP, refeições a bordo servidas por simpáticas assistentes…um luxo nos tempos que corriam.
Postal TAP do Boeing 707 Cidade de Lourenço Marques

Viagem agradável, com as mordomias já referidas, sem sobressaltos, aterragem em Luanda julgo que por volta das 23:00h. Seguem-se as formalidades e somos convocados para reunir junto da secretaria da BA9, onde somos separados em vários grupos, que no final se vem a descobrir serem as unidades de destino. Pois bem, em que grupo é que eu estava? Nem mais, no que se destinava ao AB4 e sem direito a reclamação! Constatei desta forma, incrédulo, que essa da “velhice” ser um posto é uma treta. Entre impropérios lá me fui lamentando: cambada de fdp a desta FAP, onde as influências, a cunha, prevalecem.
Local do encontro com o Quim Gomes
Andava neste estado de alma a ver o ambiente da aerogare do aeroporto Craveiro Lopes, quando me deparo com o meu amigo e “conterrâneo” Quim Gomes MELEC, todo aperaltado na sua farda amarela já um bocado desbotada, encontro de todo inesperado, pois poucas notícias tínhamos dele, apenas que já há largos meses tinha terminado a comissão. 
Entre a surpresa, o abraço da ordem, o saber do destino de cada um – ele regressava, finalmente, no mesmo avião – eu, queixo-me da minha sorte de ir para HC.
Talvez para me animar, diz-me o Quim: tem calma, aquilo lá é porreiro, também estive lá !
O Quim lá partiu de regresso ao “puto”, eu por ali continuei, a experimentar a Nocal para habituação ao ambiente.
Um pavilhão de alojamento da BA9
 foto de e com Floriano Silva
Mas, os azares ainda não tinham terminado e a razão da chegada a Luanda, o 3 de Outubro, ser sempre recordado. Como eramos muitos, a BA9 não tinha alojamentos preparados, houve que desenrascar como manda a tropa, a alguns de nós foi destinado um pavilhão sem camas, com falta de algumas placas no tecto e de rede mosquiteira em algumas janelas. Como sabem, um dos grandes problemas em Luanda, para além do elevado grau de humidade, eram os mosquitos, insecto a que sempre fui achacado.
Depois de nos terem distribuído um colchão, respectiva almofada e lençóis, cada qual se desenrascou da melhor maneira para o primeiro sono africano, só que entretanto a mosquitada da zona, talvez alertada pela chegada de sangue novo, não nos deu descanso toda a noite não adiantando utilizar as mais variadas técnicas para os bloquear, os desgraçados até por cima dos lençóis ferravam, pelo menos a mim. De manhã, eram visíveis tantas picadelas que parecia que estávamos com sarampo!
Julgo, que no dia 5 segunda-feira, embarquei para Henrique de Carvalho.
Apesar de tudo e conforme com o tempo vim a verificar, o ter ido para o AB4 foi o melhor que me podia ter acontecido, não havia mosquitos e até voltei a “aturar” o meu estimado Chefe Lopes, pois ele também foi lá colocado!

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