Setembro de
1970, Esquadra nº.11 do GDACI, em Montejunto.
Esquadra nº. 11 Montejunto |
Em Montejunto |
Setembro mês de aniversário, já com 28 meses de FAP, a vida militar decorria
normalmente naquela “estância de férias”, alheado do problema ultramarino pois já
não esperava ser mobilizado. A malta do meu curso já tinha quase um ano de
mobilização e já tinham sido mobilizados de cursos posteriores ao meu.
Mas, e nestas coisas há sempre um, num certo dia desse princípio de Setembro,
alguém me alerta: pá, já viste a OS ?
Sendo a resposta negativa, logo recomenda: pois então vai ver…foste mobilizado,
vais para a 2ª.RA ! E lá fui verificar…era verdade!
Francamente, não me ocorre qual o estado de espírito em que fiquei, não devo
ter ficado muito satisfeito, mas preocupado também não.
Sabia, que o “contrato”
com a FAP era omisso nessa questão, mas que estaria sempre sujeito a essa
contingência – não era filho de nenhum doutor (!) .
Bom, felizmente, tinha sido nomeado para Angola, pois as informações
respeitantes tanto á Guiné, como a Moçambique, não eram nada animadoras.
Coincidência, o meu chefe directo o sarg. Lopes, “Nandinho da Columbeira” como
ele dizia, também é mobilizado para a 2ª. RA .
Começo, a preparar-me para o “terreno” que me espera e no que respeita á 2ª.
RA, sei, que posso ser colocado por ordem de apetência: na BA9, no DMFA2, ambas
em Luanda, depois no AB3-Negage e por fim o AB4-Henrique de Carvalho, a base
dos castigados, dos “cacimbados”, o desterro, o pior, resumindo...a evitar.
Mais uma vez estava á vontade, era o mais velho mobilizado, ou dos mais velhos,
o pior que me poderia acontecer era ir parar ao Negage, mas já me estava a
imaginar no bem bom da capital, Luanda.
Há que preparar também os meus pais, única “responsabilidade” á época, o que
francamente me ajudou a de ânimo leve a enfrentar a missão angolana que me
esperava.
Duas ou três vezes, me mandaram para embarque, as mesmas vim para casa por
falta de transporte. Já estava saturado com esta situação, com as repetidas
despedidas, inclusive, já tinha prometido que não voltaria a casa se não
houvesse próximo embarque.
No dia 2 de Outubro, surgiu a ordem de comparecer no dia seguinte na Portela,
seria agora?!
Aguardando embarque no AT1 Portela |
No dia 3, um sábado, lá estava de “armas e bagagens” pronto para seguir para a
desconhecida África, e a primeira surpresa: éramos muitos – duzentos –, a segunda
surpresa: iriamos viajar num Boeing da TAP especialmente fretado para efeito.
Que luxo, carago! O pessoal estava radiante, não era para menos, a maioria –
como eu - nunca tinha andado de avião, estava preparado para ir no DC 6 e
oferecem-lhe uma viagem de 1ª.classe, com direito a saquinho de viagem TAP,
refeições a bordo servidas por simpáticas assistentes…um luxo nos tempos que
corriam.
Postal TAP do Boeing 707 Cidade de Lourenço Marques |
Viagem agradável, com as mordomias já referidas, sem sobressaltos, aterragem em
Luanda julgo que por volta das 23:00h. Seguem-se as formalidades e somos
convocados para reunir junto da secretaria da BA9, onde somos separados em
vários grupos, que no final se vem a descobrir serem as unidades de destino.
Pois bem, em que grupo é que eu estava? Nem mais, no que se destinava ao AB4 e
sem direito a reclamação! Constatei desta forma, incrédulo, que essa da
“velhice” ser um posto é uma treta. Entre impropérios lá me fui lamentando:
cambada de fdp a desta FAP, onde as influências, a cunha, prevalecem.
Local do encontro com o Quim Gomes |
Andava neste estado de alma a ver o ambiente da aerogare do aeroporto Craveiro
Lopes, quando me deparo com o meu amigo e “conterrâneo” Quim Gomes MELEC, todo
aperaltado na sua farda amarela já um bocado desbotada, encontro de todo
inesperado, pois poucas notícias tínhamos dele, apenas que já há largos meses
tinha terminado a comissão.
Entre a surpresa, o abraço da ordem, o saber do destino de cada um – ele
regressava, finalmente, no mesmo avião – eu, queixo-me da minha sorte de ir
para HC.
Talvez para me animar, diz-me o Quim: tem calma, aquilo lá é porreiro, também
estive lá !
O Quim lá partiu de regresso ao “puto”, eu por ali continuei, a experimentar a
Nocal para habituação ao ambiente.
Um pavilhão de alojamento da BA9 foto de e com Floriano Silva |
Mas, os azares ainda não tinham terminado e a razão da chegada a Luanda, o 3 de
Outubro, ser sempre recordado. Como eramos muitos, a BA9 não tinha alojamentos
preparados, houve que desenrascar como manda a tropa, a alguns de nós foi
destinado um pavilhão sem camas, com falta de algumas placas no tecto e de rede
mosquiteira em algumas janelas. Como sabem, um dos grandes problemas em Luanda,
para além do elevado grau de humidade, eram os mosquitos, insecto a que sempre
fui achacado.
Depois de nos terem distribuído um colchão, respectiva almofada e lençóis, cada
qual se desenrascou da melhor maneira para o primeiro sono africano, só que
entretanto a mosquitada da zona, talvez alertada pela chegada de sangue novo,
não nos deu descanso toda a noite não adiantando utilizar as mais variadas
técnicas para os bloquear, os desgraçados até por cima dos lençóis ferravam,
pelo menos a mim. De manhã, eram visíveis tantas picadelas que parecia que
estávamos com sarampo!
Julgo, que no dia 5 segunda-feira, embarquei para Henrique de Carvalho.
Apesar de tudo e conforme com o tempo vim a verificar, o ter ido para o AB4 foi
o melhor que me podia ter acontecido, não havia mosquitos e até voltei a
“aturar” o meu estimado Chefe Lopes, pois ele também foi lá colocado!
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