ESTÓRIAS DE MISSÃO DE UM OFICIAL DA FORÇA AÉREA: ANGOLA – 1992 |
Cartoon do autor |
A atividade da ONU na placa do aeródromo
de Luena tinha momentos de intenso movimento de pessoas e material. A nossa
presença era absolutamente estranha para os populares que deambulavam pelo
local, buscando apanhar um voo para Luanda. Muitos desses elementos eram
desmobilizados e alguns tinham armas em seu poder.
Certo dia Irritados e em desespero de causa, alguns desmobilizados começaram a manifestar-se violentamente por não conseguirem um voo para fora de Luena. Não tardou e ocorreram os primeiros disparos de armas automáticas.
Comigo na placa, estava um grupo de jornalistas holandeses, que tinham vindo a Luena em trabalho de reportagem sobre a região. Os jornalistas aguardavam por um C-130, ao serviço da ONU, para regressarem a Luanda. Ao ouvirem os tiros, os jornalistas holandeses entraram em pânico e atiraram-se ao chão para não serem alvejados. Havia gritos em Holandês (Flamengo), em Inglês e até estava alguém a chorar. Eu continuei a trabalhar, de um lado para o outro; organizando as bagagens de embarque; falando pela rádio com o pessoal da torre para saber a estima do nosso avião; procurando pelo nosso pessoal de apoio em terra para me ajudar nas tarefas; etc.
Os tiros eram coisa corriqueira por ali, e eu tinha muito assunto para resolver antes do C-130 chegar. Era como se os disparos fizessem parte do cenário de um filme onde, por acaso, eu também participava. Tudo aquilo eram cenários e figurantes do meu filme. Foi nessa altura que ouvi o som de algo a bater no chão ao pé de mim, com muita força. Só depois ouvi o som do disparo. Aquele tiro tinha sido dado na minha direção e, como a bala voava mais rápido que o som, só ouvi o disparo da arma depois do impacto a meus pés. Logo a seguir, ouvi um assobio do lado direito da cabeça e, de novo, o som do disparo veio a seguir. Alguém estava a disparar na minha direção, e não eram balas perdidas. Atirei-me ao chão procurando esconder-me por detrás de alguns volumes que ali estavam para embarcar. Os caixotes não iriam impedir as balas de me atingir mas, pelo menos, ocultavam a minha silhueta ao atirador. Segundos depois começou um arraial de tiros isolados, rajadas de armas automáticas e muita gritaria. Os Ninjas tinham regressado ao aeródromo. A diferença em relação à sua primeira intervenção era que, desta vez, não estavam a usar bastões de madeira mas sim kalashnikovs.
Quando tudo acabou, estavam várias pessoas estendidas no chão da placa, onde o avião da TAAG tinha estado estacionado. O pequeno grupo que foi buscar a antiaérea foi considerado instigador daquela ação, tendo sido algemados no local. Os presos e os feridos foram levados pela polícia antimotim e o ambiente acalmou de novo.
Certo dia Irritados e em desespero de causa, alguns desmobilizados começaram a manifestar-se violentamente por não conseguirem um voo para fora de Luena. Não tardou e ocorreram os primeiros disparos de armas automáticas.
Comigo na placa, estava um grupo de jornalistas holandeses, que tinham vindo a Luena em trabalho de reportagem sobre a região. Os jornalistas aguardavam por um C-130, ao serviço da ONU, para regressarem a Luanda. Ao ouvirem os tiros, os jornalistas holandeses entraram em pânico e atiraram-se ao chão para não serem alvejados. Havia gritos em Holandês (Flamengo), em Inglês e até estava alguém a chorar. Eu continuei a trabalhar, de um lado para o outro; organizando as bagagens de embarque; falando pela rádio com o pessoal da torre para saber a estima do nosso avião; procurando pelo nosso pessoal de apoio em terra para me ajudar nas tarefas; etc.
Os tiros eram coisa corriqueira por ali, e eu tinha muito assunto para resolver antes do C-130 chegar. Era como se os disparos fizessem parte do cenário de um filme onde, por acaso, eu também participava. Tudo aquilo eram cenários e figurantes do meu filme. Foi nessa altura que ouvi o som de algo a bater no chão ao pé de mim, com muita força. Só depois ouvi o som do disparo. Aquele tiro tinha sido dado na minha direção e, como a bala voava mais rápido que o som, só ouvi o disparo da arma depois do impacto a meus pés. Logo a seguir, ouvi um assobio do lado direito da cabeça e, de novo, o som do disparo veio a seguir. Alguém estava a disparar na minha direção, e não eram balas perdidas. Atirei-me ao chão procurando esconder-me por detrás de alguns volumes que ali estavam para embarcar. Os caixotes não iriam impedir as balas de me atingir mas, pelo menos, ocultavam a minha silhueta ao atirador. Segundos depois começou um arraial de tiros isolados, rajadas de armas automáticas e muita gritaria. Os Ninjas tinham regressado ao aeródromo. A diferença em relação à sua primeira intervenção era que, desta vez, não estavam a usar bastões de madeira mas sim kalashnikovs.
Quando tudo acabou, estavam várias pessoas estendidas no chão da placa, onde o avião da TAAG tinha estado estacionado. O pequeno grupo que foi buscar a antiaérea foi considerado instigador daquela ação, tendo sido algemados no local. Os presos e os feridos foram levados pela polícia antimotim e o ambiente acalmou de novo.
Ouviu-se o ronco surdo de um outro C-130 a
aterrar, seguido do som intenso do procedimento de travagem com os motores em
reverse. Era o nosso avião que chegava. Quando os holandeses subiram a bordo,
tinham os olhos vermelhos de terem estado a chorar. Eu tinha o semblante
aparvalhado de ter escapado, por muito pouco, a levar um tiro na cabeça. Tudo
por ter cometido um erro comum neste tipo de operações – baixar a guarda devido
à rotina.
Registei a minha lição número dois, em
ambiente de conflito: - “O Excesso de Confiança mata!”
(O texto e os desenhos são extratos de um projeto de livro, da autoria de Paulo Gonçalves – Tenente-Coronel TOCART – sobre “Estórias de missão ao serviço da ONU”)
Os editores do Blog agradecem ao Sr.Ten.Coronel Paulo Gonçalves, a cedência das suas estórias vividas em terras do Moxico. Vinte e poucos anos após, representando uma nova geração da FAP, os seus relatos fazem-nos retroceder no tempo e recordar algumas das vivências, que marcaram a nossa geração. Bem Haja.
(O texto e os desenhos são extratos de um projeto de livro, da autoria de Paulo Gonçalves – Tenente-Coronel TOCART – sobre “Estórias de missão ao serviço da ONU”)
Os editores do Blog agradecem ao Sr.Ten.Coronel Paulo Gonçalves, a cedência das suas estórias vividas em terras do Moxico. Vinte e poucos anos após, representando uma nova geração da FAP, os seus relatos fazem-nos retroceder no tempo e recordar algumas das vivências, que marcaram a nossa geração. Bem Haja.
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