ESTÓRIAS DE MISSÃO DE UM OFICIAL DA FORÇA AÉREA: ANGOLA – 1992 |
Cartoon do autor |
Conforme o
estipulado nos Acordos de Bicesse, durante o processo eleitoral Angolano de 1992, as duas principais forças em
confronto militar (UNITA e MPLA), tiveram de reduzir os seus efetivos e
desmobilizar combatentes. Ambos os partidos desmobilizavam os seus combatentes
dando-lhes a opção de levarem consigo as armas ligeiras que lhes tinham sido
distribuídas. Toda a gente tinha uma AK-47 Kalashnikov e vários carregadores
cheios de balas.
A questão dos desmobilizados era, talvez,
o maior problema na situação de pós-conflito que Angola vivia. Procurei
informar-me sobre a forma como estava a decorrer o processo de desmobilização.
Segundo me contavam as fontes internacionais, havia uma notória diferença
comportamental entre os dois partidos em conflito.
- “Os desmobilizados da UNITA dão o nome
no centro de desmobilização, formavam a três e regressavam à Jamba. Os desmobilizados
das FAPLA (forças do Governo MPLA) tentavam vender as suas armas no mercado e
vão para o aeroporto à espera de transporte para Luanda.”
Uma pistola militar custava, no mercado
local, 8 000 Kwanzas e uma Kalashnikov 12 000 Kwanzas. Um modesto valor que, no
caso da AK-47, seria equivalente ao preço de um volume de tabaco com 20 maços
de cigarros portugueses. Se a coronha da arma tivesse um trabalho de gravação
esculpido, o preço seria um pouco mais caro.
Em Luena, a parte visível do problema dos
desmobilizados, estava no aeródromo. Chegaram a vaguear por ali quase 400
ex-militares das FAPLA, alguns acompanhados da respetiva família. Todos
aguardavam um avião que os levasse para Luanda. Por definição, em qualquer
conflito, as matérias relativas a desmobilizados são um assunto governamental.
As entidades internacionais podem ajudar, mas não devem substituir o governo
nacional nestas funções. Em resultado disso, as aeronaves ao serviço da ONU,
entre elas o avião C-130 Português que nos trouxe para Angola, não tinham
autorização para embarcar esta gente, a não ser que recebessem a tarefa
específica para o fazer. O que acontecia pontualmente, após um pedido expresso
do Governo Angolano à UNAVEM.
C;130 FAP . foto EMFA |
- “Provavelmente foi um birdstrik [colisão
com uma ave]” – disse o navegador espreitado pela janela – “quando são pequenos
não se conseguem ver bem!”
Depois de muita confusão no exterior da
aeronave, lá se conseguiu carregar os 90 passageiros.
Mais tarde soube que o impacto na asa
esquerda do Hércules, não tinha sido uma ave, mas sim duas balas de
kalashnikov.
(O texto e os desenhos são extratos de um projeto de livro, da autoria de Paulo Gonçalves – Tenente-Coronel TOCART – sobre “Estórias de missão ao serviço da ONU”)
Os editores do Blog agradecem ao Sr.Ten.Coronel Paulo Gonçalves, a cedência das suas estórias vividas em terras do Moxico. Vinte e poucos anos após, representando uma nova geração da FAP, os seus relatos fazem-nos retroceder no tempo e recordar algumas das vivências, que marcaram a nossa geração. Bem Haja.
(O texto e os desenhos são extratos de um projeto de livro, da autoria de Paulo Gonçalves – Tenente-Coronel TOCART – sobre “Estórias de missão ao serviço da ONU”)
Os editores do Blog agradecem ao Sr.Ten.Coronel Paulo Gonçalves, a cedência das suas estórias vividas em terras do Moxico. Vinte e poucos anos após, representando uma nova geração da FAP, os seus relatos fazem-nos retroceder no tempo e recordar algumas das vivências, que marcaram a nossa geração. Bem Haja.
Bem haja também.
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