sexta-feira, 11 de setembro de 2015

O COMANDANTE JOÃO DA CRUZ NOVO


O Comandante Ten. Coronel João da Cruz Novo, (filho de gente da Ria de Aveiro...como eu) chegou ao AB4 em 1966 e terminou a comissão nos fins de 1968. 
Era um homem diferente de muitos outros, constava-se, que além de óptimo piloto, seria um dos melhores cartógrafos portugueses, e como não gostava de se baixar, os outros do seu tempo eram generais, e ele, como homem honesto e de princípios…provavelmente não passaria de coronel!
Em 1968, o ministro do Ultramar Silva Cunha, visita Angola. O roteiro pela província, contemplava uma visita a Henrique de Carvalho. Pois nesse dia, ele foi dar uma volta e não compareceu á “protocolar” recepção ao ministro. Quando regressou, na Messe dos Oficiais, alguém da comitiva lhe perguntou a razão porque não tinha estado presente, e ele com a sua bengalinha a girar, respondeu, eu tenho mais que fazer, e regressou ao CA dizendo que não tinha que dar satisfações aquela gente, este era o Cruz Novo.
Visita do ministro Silva Cunha - foto de Ze Paes
Nesse dia o Sargento PA Neves, um bocado "parvalhão", era ao mesmo tempo o fotógrafo “oficial” da Base, e foi fazer a reportagem da visita do ministro, com uma nova máquina Yashica, dizendo, que tinha num rolo profissional cerca de 80 fotos, que afinal nunca tinha entrado na dita.
Floriano no CA do Comando
No CA, a porta ao meu lado dava entrada para o gabinete do Comando, recordo-me de um Sargento,
que participou de um Cabo, o Capitão Policarpo da Secretaria, não gostou e foi falar com o 2º. Comandante Major Pinho Freire, mas foi o Cruz Novo que o atendeu, ouviu, e mandou chamar o tal Sargento, para mim tem um certo sabor, disse ele Cruz Novo, que aquela malta tinha deixado família, amigos e noivas, outros já eram casados, que eram uns rapazes do melhor que havia, portanto ele estava a mais, e despachou-o para o Camachilo.
O João da Cruz Novo, era de facto uma pessoa aparte, era uma pessoa que pensava por ele mesmo, naquilo que eu sempre assisti, foi sempre um protector dos mais pequenos, embora poucos não se apercebessem disso.
Este, era o João da Cruz Novo que eu conheci, que se sentava connosco a contar anedotas e por brincadeira dizia, que o Pinho Freire era o “Comandante da Pecuária”, aliás afirmação que não deixava de estar correcta, pois era uma das atribuições do 2º. Comandante, gerir a Agropecuária da Base.
Ainda sobre o Major Pinho Freire, deve-se referir, que sendo um desportista praticante, a ele se deve a construção do ringue de andebol e futebol de salão.
Mas, voltando ao comandante Cruz Novo, havia uma serie de pilotos, que tinham medo de pisar o “tapete verde”, se não perguntem a alguns que passaram por essa situação.
Pessoas com medo dele? Esses eram os pilotos ao tempo, o Capitão Acabado sabe bem o que eu digo, e não só, o Capitão Águas e outros, ficavam ali paradinhos para prestarem contas, o que se safava era o Capitão Neto Portugal, que levava aquilo na paródia, porque estava bem protegido. 
23/5/1968 acidente de Neto Portugal
Quando o Capitão Neto Portugal se “espalhou” no Cazombo, (eu digo que se espalhou, porque foi isso que ali no Comando foi dito), ele nessa altura foi teimoso e não tinha condições para fazer o voo e foi arrancado de dentro do avião por um rapaz do Porto, mas deram os “louvores” ao Manuel das “pedras”, que apareceu depois e o transportou num Jeep.
O que o Cruz Novo gritou contra essa injustiça, mas de nada lhe valeu. Era um homem que como dizia, era responsável pelo Comando Operacional, e como tal não queria, que os pilotos andassem a praticar tiro ao alvo a gente que não se podia defender.
Esta é a opinião sucinta, de quem conviveu de perto o dia-a-dia do Comando de João da Cruz Novo. Será susceptível de opinião divergente, mas, penso ter marcado uma época do AB4, como homem e Comandante, de quem infelizmente, julgo, nos temos esquecido um pouco.


1 comentário:

  1. Tem o meu total Acordo,o comandante Cruz Novo não era o terror que alguns pintavam:Era um ser muito Humano

    ResponderEliminar