sexta-feira, 1 de agosto de 2014

CHEGADA A LUANDA

Luanda, 23 de Março de 1970, pelas 06h00.
Aquele avião de carga ( DC6 ) de que não me recordo a matricula, tinha acabado de aterrar em terra africana, Angola.
Ao abrirem a porta, uma lufada de ar quente fez-me quase de imediato transpirar.
Quando saímos de Portugal (puto) fazia frio, por isso vínhamos, penso que todos, mais ou menos agasalhados por isso, lá estávamos eu de farda amarela, todo bem-parecido com camisa de manga comprida, gravata e dólmen a condizer. Até parecíamos todos, (os Especialistas) gente importante. Realmente a nossa farda era bonita, chamava a atenção e isso enchia-nos de orgulho e vaidade poder usá-la, mas aquele momento preferia ter apenas uma camisa de manga curta, sem mais nada por cima...teria sido agradável.Tal como todos, desci a escada, e pisei solo de Angola (já pela 2ª.vez), já lá tinha estado muitos anos atrás, com os meus pais, vindos de Moçambique. Era ainda um miúdo com apenas dez anos, na minha primeira passagem, mas o cheiro, aquele cheiro característico da terra africana, senti quase de imediato, como se nunca de África tivesse saído. Esta coisa de sentir o cheiro da terra, que contamos tanta vez, a tantos que nunca lá estiveram e não acreditam, é verdade, sente-se mesmo os cheiros, os sons, os sentidos ficam mais apurados.
Entretanto lá nos meteram no autocarro da Base, e fomos para aquela que seria a minha 1ª. experiência de homem livre e preso ao mesmo tempo, aquela que seria a minha casa durante alguns dias, BA9.
Chegado à Base fui apresentar-me à Esquadra de Pessoal. Lá disseram-me que o processo de colocação levava pelo menos uma semana, pelo que estaria livre, mas tendo de apresentar-me sempre na Base (E.P.) todos os dias, para quaisquer notícias sobre a minha colocação.
Depois de me ter sido dado local de alojamento, a primeira coisa que fiz foi tomar banho.
Ainda não tinha chegado ao quarto e já estava outra vez, com o corpo pegajoso tal era o grau de humidade. Cheguei a deitar-me em lençóis molhados, tal era o desconforto do corpo naquele ambiente. Apenas se estava bem num ambiente com ar condicionado caso do nosso clube.
Logo nesse primeiro dia, fui abordado por vários camaradas da especialidade, tentando convencer-me que o “bom” era ficar Luanda. Houve alguns “especiais “que me tentavam com a Esquadra 94. Que era a melhor de Angola, blá.. blá ..blá.. e eu sem ter qualquer  voto na matéria, (lá os ia ouvindo ) e bem que  gostaria, pois parecia-me que seria bom ficar por ali.
Cidade bonita com uma bela baía, muitas esplanadas, sol, praia e muitas miúdas giras, pretas, mulatas, brancas. Claro que logo por isso, era suficiente para ficar apaixonado e acreditar que ali é que eu estaria bem.

Neste entretantos de boa vida vi algumas coisas que me chamaram a atenção de forma muito particular e ao mesmo tempo intrigante. Há imagens que não nos saem da memória e estas são algumas delas.
Certo dia vejo um Especialista dirigir-se para a Porta d Armas, com o “ar" mais desmazelado que já vira, pelo que fiquei na expectativa do que se iria passar quando a sentinela o visse.
Já tinha visto por várias vezes que todos os que saiam da base, quase se apresentavam à sentinela de serviço, este cumprimenta-os, e depois saíam. Até o Comandante, quando fardado, vi sair do carro, o que me surpreendeu muito tal atitude, pois para mim tal era impensável nas outras bases por onde andei.
Voltando ao Especialista, tomei atenção ao seu porte “aéreo” e não queria acreditar no estava a ver. Boné com a pala quase a meio da cabeça, (à reguila), os sapatos a fazerem flap,..flap,..flap,.. ou seja, as solas estavam partidas ou descoladas e um deles, na biqueira tinha um arame de frenar a segurar a sola.
Na maior das calmas aproxima-se da Porta d’Armas passa pela mesma sem que alguém, o sentinela PA o tivesse “visto”.
Não dava para acreditar!
Claro que fiz conversa disto com uns tantos camaradas, mostrando-lhes o quanto incrédulo estava e sem perceber o porquê daquele procedimento.
A resposta veio curta e seca;  ó pá, era um “gajo” do AB4 de certeza. É tudo pessoal “cacimbado”, não ligam nenhum a isto, é pessoal que não “bate “certo....
Depois desta informação fiz tudo para ficar na BA9.
No dia 27 de Março apenas quatro dias de estar em Luanda, tive guia de marcha......
AB4 em Henrique de Carvalho.

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