sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

MEMÓRIAS DO LUSO


Decorria o dia 9 de Maio de 1972 (terça feira), quando estava de serviço de cabo de dia ao aeródromo do Luso (AM 44) e fui informado, cerca das 18,30 horas, pelo servente da secção de cargas, Mateus José, de que quando retirava a escada do Nord 6418 para a colocar no Dakota, verificou que a porta traseira do Nord estava aberta e que no interior se encontrava uma pessoa estranha ao aeródromo.
Como a pessoa não foi de novo vista, solicitei ao pessoal de reforço da anti aérea para verificarem a zona da pista, nada tendo encontrado. Verificava as instalações e placa, quando com o farol do gerador (put-put), localizei um individuo da Aerangol, Avelino Masmela, que vinha a sair do hangar e se escondeu. Fui junto dele saber o que estava ali a fazer, quando do mesmo hangar saiu outro individuo, Suelo Samununga ,dizendo que eram os guardas da Aerangol. De nada desconfiei, mas depois de ter sido avisado por um elemento de reforço da anti aérea de que só deveria haver um guarda durante toda a noite, solicitei a comparência urgente, no aeródromo, de um tripulante do Nord afim de verificar se estava tudo bem. Controlados os movimentos do pessoal da Aerangol, um deles, o Avelino, dirigiu-se de modo tímido para os tambores de gasolina, argumentando de que ia buscar gasolina para lavar cobertores. O mecânico do Nord após inspecção nada verificou de anormal.
Após nova passagem junto da Aerangol, verifiquei que ali apenas se encontrava o verdadeiro guarda, tendo o outro individuo, Avelino, desaparecido sem efectuar a lavagem de cobertores tanto mais que os bidons não tinham combustível, o que aumentaram as suspeitas relativamente ao que fazia no aeródromo.
Assim, eu, o mecânico do Nord e um cabo da anti aérea fomos falar com o guarda da Aerangol que várias vezes se contradisse, afirmando inclusive que a lavagem dos cobertores lhe pertencia fazer.

Após uma noite agitada na vida de um Especialista, não restou outra alternativa senão reportar o sucedido ao comando do aeródromo para proceder em conformidade.
Na manhã seguinte, foi com expectativa que vi o Nord descolar para mais uma missão, sem qualquer problema.
Acontecimentos de há muitos anos, e que jamais serão esquecidos, tanto mais que éramos jovens com muita responsabilidade e por isso ainda hoje somos “especiais”.

Seixal, 18 de agosto de 2012