Apesar de então existir a chamada Guerra Colonial (de guerrilha) nas “Províncias Ultramarinas” em África, desde Janeiro de 1967 que me ofereci como voluntário a: Exército, Marinha, Para-quedistas e Força Aérea.
De todas as entidades obtive resposta, mas as três primeiras, cada uma com seus argumentos, afirmaram e informaram da impossibilidade para me receberem.
Já a Força Aérea, que tinha, e creio que tem, o seu corpo de especialistas constituído por voluntários, informou-me da não aceitação no imediato, por existirem indivíduos disponíveis, em número suficiente, para um período de seis anos, quando a minha disponibilidade era por apenas quatro.
Por essas razões, convidava-me a alterar a candidatura, o que não fiz. Deste modo, o meu ingresso na Força Aérea foi sendo adiado a cada incorporação acontecida em 1967 e 1968, mas do facto a Força Aérea sempre me informava e renovava o pedido para que eu alterasse a proposta de candidatura.
Com estes sucessivos adiamentos chegou-se a Janeiro de 1969, quando a Força Aérea chamou, e aprovou na necessária inspecção militar, os 600 candidatos disponíveis, por um período de 6 anos. Mas como precisavam de mais 40, foram aproveitar dos que se tinham oferecido por 4 anos. E eu fui um deles.
Com o tempo gasto neste “rebuscar” de jovens, chegou o mês de Fevereiro, e os primeiros 600 já puxavam pelo físico, quando deixei o serviço na Repartição de Finanças de S.Pedro do Sul e ingressei, como recruta, na incorporação com destino a um curso de formação de especialistas.
Finda a recruta, e após a distribuição dos candidatos a alunos nos cursos disponíveis, consoante as preferências indicadas e, ou as classificações obtidas, lá fui com os 27 companheiros (em Maio de 1969), e no meu primeiro voo, em avião Skymaster, até à Base Aérea nº 4, em Lajes, Ilha Terceira, Açores, onde então existia, na freguesia de Terra Chã, o único Hospital da Força Aérea Portuguesa. Nesse Hospital Militar, funcionava o curso de formação de Enfermeiros, que incluía as partes teórica e prática, sendo que esta permitia aprendizagem em: Enfermaria, Posto Socorros, Bloco Operatório, RX, Laboratório e Secretaria.
Terminado o curso e colocado na Base Aérea nº. 5, em Monte Real, regressei ao Continente, noutro avião Skymaster, mas desta vez pertença da Força Aérea dos Estados Unidos. Que deu boleia.
Em Monte Real, onde comecei a trabalhar como Enfermeiro nos finais de Fevereiro de 1970, permaneci até Outubro desse mesmo ano, quando saí para a colocação no AB4(Aeródromo Base nº 4), em Henrique de Carvalho, Angola.
A viagem para Luanda, com destino de passagem na Base Aérea nº. 9, em Boeing 707 da TAP, fretado pela Força Aérea foi óptima, durou 8H20m e terminou pelas 2 da madrugada. Porque viajei junto a uma janela do lado esquerdo do avião e já que naquela época os aviões portugueses estavam proibidos de sobrevoar terra africana, tive a oportunidade de ver as Ilhas Canárias, a cidade de Dakar (Senegal) e apreciar o espectáculo que já era Luanda à noite e vista do ar.
A viagem para Luanda, com destino de passagem na Base Aérea nº. 9, em Boeing 707 da TAP, fretado pela Força Aérea foi óptima, durou 8H20m e terminou pelas 2 da madrugada. Porque viajei junto a uma janela do lado esquerdo do avião e já que naquela época os aviões portugueses estavam proibidos de sobrevoar terra africana, tive a oportunidade de ver as Ilhas Canárias, a cidade de Dakar (Senegal) e apreciar o espectáculo que já era Luanda à noite e vista do ar.
A comissão
de serviço foi “realmente” começada mais tarde, após a chegada a Henrique de
Carvalho, em avião Nordatlas (barriga de ginguba, bimotor a hélices).
Porque o
destacamento no AM42 (Aeródromo de Manobra) em Camaxilo integrava 5
especialistas, sendo um deles o Enfermeiro, os outros eram: MELEC, MMA, OPC e
OMET, o meu destino, naquela altura como “maçarico” (o mais novo), foi seguir
quase de imediato para esse destacamento, substituindo o Enfermeiro que lá se
encontrava. Este destacamento situado a Noroeste de Henrique de Carvalho, dista
cerca de 220 Kms e as ligações aéreas eram feitas principalmente pelos DO27, em 1H25.
Outros
aviões da Força Aérea que por lá passavam, e em que também voei, eram:
PV2, DC3; BC e até o Nordatlas .
Convirá deixar referido que neste Camaxilo (AM42), e para além dos 5 especialistas, existiam os elementos da Polícia Aérea que prestavam o apoio: 1 oficial, 1 Sargento, 2 1ºs Cabos e 15 soldados. Sendo que não me desagradava o isolamento vivido e sentido neste destacamento, acabei por passar lá mais tempo do que aquele que me estava atribuído.
Beneficiaram outros Enfermeiros, por continuarem na Base, em Henrique de Carvalho. Quando acontecia regressar à Base, cumpria as funções na Enfermaria e “alinhava” nas deslocações para o AR Luso (Aeródromo de Recurso) e deste, virado a Sul, até N'Riquinha, lá ao fundo.
Sendo o conjunto da Instituição Militar, de forma natural e legal, reciprocamente solidária, os aviões da Força Aérea levavam para muitos locais onde se encontravam militares do exército e existiam pistas (ou picadas, iguais a caminhos) que permitissem aterragens, correio e produtos alimentares frescos, como peixe e carne. Também por esta razão, aterrei algumas vezes em: Cangamba, Cuito Canavale, Mavinga, Lumbala, ….. . Reciprocamente, quando os abastecimentos ao exército eram feitos por aviões civis, quase sempre CESSNA, mono ou bimotores, eu apanhava as boleias sempre que possível.
Terminada a comissão, regressei ao Continente, creio que em 15 de Outubro de 1972, com colocação na Base Aérea nº 7, em Montijo.
O voo aconteceu em Boeing 707 da Força Aérea, demorou 7H40m e fez, ao chegar a Lisboa, a melhor aterragem a que assisti.
Nesta Base (Montijo), onde estive colocado quase 2 meses, não cheguei a fazer qualquer serviço, nem passei no Portão de Entrada, que desconheço. Nas 3 ou 4 vezes que lá fui, fiz o acesso de barco, a partir do Cais da Marinha, em Lisboa. Assim, só percorri o caminho entre o local onde o barco encostava e a Enfermaria. Nesta deixava uma guia e, no momento, recebia outra, para voltar a casa. E enquanto estas viagens decorriam já eu aguardava a possível resposta a uma carta que havia escrito ao Chefe do Serviço de Saúde da Força Aérea a pedir colocação na Base Aérea nº 4, nos Açores, para o tempo que me faltava cumprir do contrato de 4 anos com a Força Aérea.
E a resposta chegou por “mensagem” e a mandar-me embarcar no próximo avião (DC6), quando o Natal estava tão perto.
Beneficiaram outros Enfermeiros, por continuarem na Base, em Henrique de Carvalho. Quando acontecia regressar à Base, cumpria as funções na Enfermaria e “alinhava” nas deslocações para o AR Luso (Aeródromo de Recurso) e deste, virado a Sul, até N'Riquinha, lá ao fundo.
Sendo o conjunto da Instituição Militar, de forma natural e legal, reciprocamente solidária, os aviões da Força Aérea levavam para muitos locais onde se encontravam militares do exército e existiam pistas (ou picadas, iguais a caminhos) que permitissem aterragens, correio e produtos alimentares frescos, como peixe e carne. Também por esta razão, aterrei algumas vezes em: Cangamba, Cuito Canavale, Mavinga, Lumbala, ….. . Reciprocamente, quando os abastecimentos ao exército eram feitos por aviões civis, quase sempre CESSNA, mono ou bimotores, eu apanhava as boleias sempre que possível.
Terminada a comissão, regressei ao Continente, creio que em 15 de Outubro de 1972, com colocação na Base Aérea nº 7, em Montijo.
O voo aconteceu em Boeing 707 da Força Aérea, demorou 7H40m e fez, ao chegar a Lisboa, a melhor aterragem a que assisti.
Nesta Base (Montijo), onde estive colocado quase 2 meses, não cheguei a fazer qualquer serviço, nem passei no Portão de Entrada, que desconheço. Nas 3 ou 4 vezes que lá fui, fiz o acesso de barco, a partir do Cais da Marinha, em Lisboa. Assim, só percorri o caminho entre o local onde o barco encostava e a Enfermaria. Nesta deixava uma guia e, no momento, recebia outra, para voltar a casa. E enquanto estas viagens decorriam já eu aguardava a possível resposta a uma carta que havia escrito ao Chefe do Serviço de Saúde da Força Aérea a pedir colocação na Base Aérea nº 4, nos Açores, para o tempo que me faltava cumprir do contrato de 4 anos com a Força Aérea.
E a resposta chegou por “mensagem” e a mandar-me embarcar no próximo avião (DC6), quando o Natal estava tão perto.
Foi desta
maneira, com embarque no AT1 (Aeródromo de Transito nº.1), conhecido por “Figo Maduro”, que voltei
ao Hospital Militar em Terra Chã, onde fiquei, sem trabalhar, até deixar de ser
militar, mas garanto que não sei a data. Quando me apeteceu, deixei de
frequentar o Hospital e ninguém me disse mais nada.
Se foi assim
a minha ida à guerra, que pareceu fechar-se para eu passar, a verdade é que
ficam sempre sinais e ensinamentos marcantes para cada um dos que por lá
passam. Marcas negativas e positivas, mas sempre enriquecendo o carácter e
humanizando comportamentos.
Por toda a
minha vida estarei agradecido à Força Aérea pela oportunidade que me concedeu.
Ali, e até quando se vai para a cadeia, as pessoas são tratadas como gente.
Quando estive preso, era eu que fechava a sela, pelo lado de dentro.
Quando estive preso, era eu que fechava a sela, pelo lado de dentro.
Notas
finais:
1 – Próximo do fim do curso de enfermagem, e porque sempre chovia, fiquei na cama durante
10 dias consecutivos, mas de perfeita saúde. Os colegas levavam-me comida,
livros e jornais …..;
2 – Foi no
decorrer do curso, que em 20 de Julho de 1969, quando encostado à ombreira da
porta do café “macaco” a dezenas de metros da entrada do Hospital, ouvi pela
Emissora Nacional, pois nos Açores a TV ainda não existia, o jornalista
anunciar: “O HOMEM PISOU A LUA”;
3 – Neste
Hospital, que frequentei com orgulho, existiam e trabalhavam as Enfermeiras
Para-quedistas, que bons serviços prestaram e muito conhecidas se tornaram.
Gostei de as ter conhecido e ter tido como colegas;
4 –Certo dia
na Base Aérea de Monte Real e na qualidade de Enfermeiro/dia autorizei um
maqueiro, num Domingo, a mostrar as instalações dos Serviços de Saúde à
namorada. Naturalmente, confiei e ao fim do dia não fui passar revista. Por
acaso, na manhã seguinte, e porque o Sr. Comandante iria aos Serviços de Saúde,
o chefe da Enfermagem foi conferir a apresentação e viu um quarto revirado. Fez
o que devia, indo pedir-me explicações, mas, eu, nunca disse quem estragou.
Assumi até ao fim, e até hoje;
5 – No AB4,
em Henrique de Carvalho, passei algumas madrugadas a suturar (coser) couros
cabeludos (cabeças). A polícia civil, algumas vezes e para bater, segurava o
cassetete pelo lado oposto e, com isto, as pontas de metal junto ao punho,
fazia imensos cortes nas cabeças dos agredidos.
Como no Hospital civil era frequente não existir pessoal para tratar estes casos, os feridos iam à Base pedir apoio dos Enfermeiros. Com a minha autorização, e mesmo após a meia noite, eles entravam e eu ficava até de manhã a trata-los. Nunca me arrependi de o ter feito, apesar de não ser função minha;
Como no Hospital civil era frequente não existir pessoal para tratar estes casos, os feridos iam à Base pedir apoio dos Enfermeiros. Com a minha autorização, e mesmo após a meia noite, eles entravam e eu ficava até de manhã a trata-los. Nunca me arrependi de o ter feito, apesar de não ser função minha;
6 – Nesses
anos idos de 1971 e 1972 o vírus da cólera andava por Angola e forçou a
vacinação de muitas dezenas de milhares de pessoas. Pela minha parte, e por
minha completa responsabilidade, acompanhei diversas vezes o Administrador de
Posto de Camaxilo até às Sanzalas e vacinei diversos milhares de pessoas;
7 – Quando
no destacamento de Camaxilo (AM42), e porque só existia um indivíduo em cada
especialidade, dava sempre um ar de abandono quando um de nós ia à localidade
de Camaxilo.
Para evitar pontos fracos, teve cada um de nós que aprender um bocadinho da especialidade de cada um dos outros. Na minha ausência não faltava apoio de enfermagem e quando o Operador de Comunicações ou o Meteorologista iam ao rio tomar banho, era eu, sem hesitar que descrevia o “estado do tempo”, incluindo quantidade e tipo de nuvens, bem como transmitia tais dados, por voz, já que nesses momento a grafia estava sempre inoperante;
Para evitar pontos fracos, teve cada um de nós que aprender um bocadinho da especialidade de cada um dos outros. Na minha ausência não faltava apoio de enfermagem e quando o Operador de Comunicações ou o Meteorologista iam ao rio tomar banho, era eu, sem hesitar que descrevia o “estado do tempo”, incluindo quantidade e tipo de nuvens, bem como transmitia tais dados, por voz, já que nesses momento a grafia estava sempre inoperante;
8 – A meio
da comissão, e sem que eu a pedisse, alguém se lembrou de me atribuir e
entregar uma arma (FBP). Mas como eu não gostava, nem gosto, de armas,
pendurei-a num prego sob a torre de vigia, que rematava superiormente com o
depósito da água. E por lá se ficou a apodrecer, mesmo após eu me vir embora,
pois desde o início me recusei a aceitá-la;
9 – A minha
mobilização para Angola foi previamente aceite por mim. Tanto a Base Aérea de
destino, como a data da viagem e o avião escolhido. Grato aos “irmãos
enfermeiros”;
10 – Apesar
da imensidão de Angola, o certo é que só fiz uma viagem (digna de nome) de
carro. E foi entre Luso e Henrique de Carvalho. Estive em bastantes lugares,
mas sempre próximo das pistas onde os aviões aterravam.
Para todos:
Sejam felizes, este ano e nos próximos