quinta-feira, 18 de dezembro de 2025

ENCONTRO NO ALTO CUITO

A 1 de Maio de 1969, em missão com o ten. Andrade a acompanhar os “primos” da Africa do Sul com os seus helicópteros, no Do-27 3408.

Aterramos no Alto Cuito onde havia uma companhia do exército cujo comandante estava ausente, creio que por doença, e quem nos recebeu foi um alferes miliciano. Fiquei com a impressão que o conhecia, mas não era capaz de me lembrar de onde apesar de termos trocado algumas palavras, e ele ter dito que tinha a impressão de me conhecer.

Após este episodio nunca mais pensei no caso.
Entretanto havia um pelotão dessa companhia que estava em patrulha no mato, tinham comunicado que estavam longe, perdidos e sem mantimentos. Foi decidido que se enviaria por avião algo para comerem, só deveriam assinalar onde se encontravam. Comunicaram que estavam perto de um rio, mas não sabiam qual, e a distância a que se encontravam do aquartelamento. Deduziu-se que era o rio Cuito.

Então, como a noite já tinha chegado ficou para o dia seguinte a entrega de pão fresco, e trataram de fazer sacos para transportar o pão, usaram lençóis e alguém os costurou.

No dia seguinte de madrugada descolamos, com o local de carga do avião com cerca de meia dúzia de sacos cheios de pão fresco.

Fomos a voar a baixa altitude ao longo do rio Cuito que era ladeado por uma chana e por uma floresta (conforme se vê na foto abaixo), até que ao fim de algum tempo avistamos os nossos rapazes que se fartavam de gesticular, para nos chamar a atenção, passei para traz, para a zona de carga, abri a porta de estibordo e ao sinal do piloto atirei o primeiro saco com pão, como íamos bastante baixo reparei que o saco ao bater no chão, rasgou-se todo e eram só pães a saltar quase a altura do avião. Entretanto conseguimos lançar os restantes sacos que também se desfizeram, mas a rapaziada conseguiu forrar o estomago.

Entretanto, bastantes anos depois lembrei-me do alferes e também de onde o conhecia: antes de ingressar na Força Aérea, trabalhei no Arsenal do Alfeite e como era jovem saía do trabalho mais cedo para estudar à noite, apanhávamos um autocarro da Marinha que nos levava a Cacilhas todos nós aprendizes, e o alferes era aprendiz como eu, ele trabalhava na oficina de maquinas ferramentas eu na carpintaria de moldes (para a fundição) e era dai que nos conhecíamos.

Por: Orlando Coelho



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