quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

A AMIZADE E IRONIA SATÍRICA, A UM "JOVEM" AGRICULTOR !


2022 "Annus horrible" para o agricultor Esteves!
Aquele rapaz jovial MMA da linha da frente no AB4 e do Luso que se fartava de fazer destacamentos no Cazombo, Cuito Canaval e Gago Coutinho em 1972 até fins de 1974 conhecido por João Esteves, está a passar por um ano agrícola cheio de dissabores que o têm desanimado, pois também é agricultor.
Quando findou a sua prestação na FAP, o João, pela mão de um cunhado, abraçou a arte de caixeiro-viajante e começou na então famosa Tulipa Negra onde percorria o médio e norte do país com predominância em Trás os Montes.
Vendia artigos de decoração tão procurados à época, como faianças, casquinhas, pratas, estanhes, alabastros, cristais e produtos novidade.
O Esteves teve sucesso, adquiriu um duplex no Porto e um terreno agrícola para os lados de Chaves. Este terreno não nivelado, semiabandonado, tinha já algumas oliveiras e  de fruta bichadas. Mandou arrasar socalcos, arrotear terras e plantar dezenas de oliveiras e amendoeiras, tendo prontamente adquirido terrenos contíguos.
A pequena casa de apoio existente que tinha sido um lagar de azeite, otimizou-a e, sem destruir vestígios antigos e funcionais, arquitetou uma casa moderna para toda a família. Construiu também uma piscina de dimensões apreciadas com água corrente e jardins de apoio que, com uma periodicidade anual, nos presenteia com um almoço salutar.
A atividade agrícola é um part time. Ele ainda não deixou de praticar as tarefas que lhe dão o maior gozo. Jogou andebol até aos 50, onde foi cotado como magnífico atleta. Praticou ténis até aos 69 anos, não sei se teve de abdicar por grave lesão num joelho, ou por varizes. Foi campeão nacional de ténis na classe dos moribundos. Aquele Esteves folgazão que conhecemos já acabou, foi há 3 anos em Madrid, num arraial noturno, fraquejou e deixou-o inibido.

O João tem agora 70 anos e todos os dias pega na mala que já não é de madeira e vai visitar os fregueses, agora com acompanhamento ligado às novas tecnologias. Continua a vender produtos de decoração espanhola e italiana, onde tem de se deslocar amiúde, para se atualizar e acompanhar clientes. Vende mesas, cadeiras muito modernas, escaparates, espelhos e novidades. Como ele só tem 70 anos ainda tem mais 15 anos para trabalhar até à reforma final.
No seu projeto agrário tentou aproveitar a potencialidade da região que é sobretudo a exploração do azeite e amêndoa, preterindo a vinha. A vinha foi a primeira a arrancar, pois o seu feitor, que é também enólogo, regente agrícola, o tipo faz tudo, achou que a Quinta tinha demasiadas variedades de castas e nunca poderia produzir um "Terroir" digno desse nome.
Para consumo próprio 
o Esteves compra ao Gilberto o vinho já engarrafado, produzido com uvas produzidas na aldeia. Ao plantar novas oliveiras e amendoeiras procurou incluir os novos processos de rentabilidade e qualidade do produto que queria comercializar. Aumentou o processo de drenagem e extração e recolha de água, instalou sistemas de rega tipo gota a gota, com central de pressão na rede, leitura permanente da humidade dos solos, distribuição do caudal de água computadorizada conforme as necessidades pontuais e o eventual lançamento na rede de substrato.


Tudo corria na perfeição com a previsão atestada pelo 
estado da floração, mas chegou o ano de 2022.
Nós, os leigos, que não percebemos nada de agricultura, já tínhamos tomado da situação alarmante de falta de chuva no Outono e Inverno, o que não augurava nada de bom para as culturas. O Esteves, também de sobrenome Deus, não teve sorte e Ele não lhe valeu. O primeiro aviso foi dado pela pequena produção das cerejas, figos e ameixas cujos bandos famintos de melros e estorninhos se anteciparam à miserável colheita. Nas oliveiras e amendoeiras a falta água mirrou os frutos, mesmo com tratamento fito sanitário, apareceram as doenças e quedas de frutos.
O Esteves que faz o favor de ser nosso amigo e nos acompanhar nas sextas feiras, já não é o mesmo. Aquele cabelo outrora ralo e alinhado deu lugar a uma trunfa rebelde. O bigode farfalhudo, que era a sua imagem de marca, perdeu o vigor e agora parece um pincel de barba com metade das ardas. O próprio nariz, em tempos altivo, parece mais e assemelha-se ao apaga velas usadas nas igrejas.
Este estado de coisas preocupam os amigos de sexta-feira e lembramo-nos de pedir ajuda aos nossos amigos alfacinhas, para rentabilizar aquela máquina que comprou para descasque de amêndoa, que este ano vai estar parada.
A máquina, adquirida a um artesão de Mogadouro, possui já requintes de 
modernidade com uma ligeira afinação ou ajustes, pode descascar pevides de abóbora, um entretenimento obrigatório dos fanáticos do futebol, sobretudo quando o clube do coração está a perder. Como a máquina tem uma altíssima produção é necessário assegurar uma logística eficaz e flexível, mas não só. É obrigatório um armazém, licenciamento, higiene alimentar, embalagem e comercialização.
Pomos à consideração dos nossos amigos a possibilidade de alguém começar com esta indústria pioneira que pode transpor fronteiras. Senão for possível, só podemos desejar ao João Esteves um ano 2023 mais favorável.






TONETA, Dezembro de 2022

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