quinta-feira, 2 de abril de 2020

HISTORIETAS DE N'RIQUINHA

Diogo Sousa junto à placa toponímica de sua criação



Sem lamechices, lá onde até o silencio murmurava...e pequenos tornados de poeira corriam ao longo da pista....
A pista era a Avenida da FAP para nós. 
Ali nasciam ou morriam as esperanças.
Mais do que alimento esperávamos pelo «São Nord»...de oito em oito dias à segunda feira pelo correio. Pela carta ou aerograma....da namorada, da mãe, da mulher, da madrinha de guerra....
Um dia veio um Dakota e trouxe-nos combustível de avião. 
Vinha em bidons de 200 litros selados e uns funis grandes com filtros. Nunca tal tinha acontecido.
Passados uns dias vieram dois T6. Atestaram, creio que vinham de Henrique Carvalho, vinham armados, com ninhos de rocketes, soubemos depois que a missão era bombardear umas ilhas no Rio Cuando, o inimigo estava próximo e não sabíamos.
Ficaram connosco nessa noite e saíram na manhã seguinte.

Por essa época era Comandante de Nord Noratlas o Tenente Alvarenga, que mais tarde no pós 25 de Abril, já Brigadeiro, foi chefe de Estado Maior da Força Aérea, (desentendeu-se com Paulo Portas e demitiu-se) na mesma tripulação vinha também o primeiro sargento piloto Vieira da Silva que mais tarde chegou a comandante nos TAP e dirigente sindical dos pilotos de linha aérea....era primo de um Furriel da nossa companhia, o Carlos Alberto Machado Vieira da Silva,(aquele que jogava hóquei em patins pelo Algés e Dafundo e chegou a ser internacional Júnior)...e fazia-nos um jeitão quando era ele que vinha...trazia para o primo e para nós marisco gelado comprado no dia antes em Luanda... Áh...numa das outras tripulações dos Nords, havia um rapaz meu conhecido, embora mais velho, era tenente navegador, de Olhão, o Mácara, eram dois irmãos gémeos, haviam estudado no Liceu de Faro (daí o eu conhecê-los) ambos serviam na Força Aérea mas o outro era Piloto e segundo me lembro na mesma altura servia em Moçambique.
Isto durante 66 e principio de 67...
A Cª.Caçadores 1521 emanava dos Açores, mais propriamente de Ponta Delgada, do BII18, o pessoal era praticamente de todas as ilhas, excepto sargentos, oficiais e pessoal de transmissões que eram continentais. Nunca cheguei a compreender o porquê, porque quando fiz o CSM (curso de sargentos milicianos) em Mafra haviam muitos rapazes Açorianos como instruendos...uma injustiça que talvez tivesse uma justificação...mas injustiças haviam muitas nas forças armadas. Se tiverem paciência, um dia conto uma de um grande amigo meu de Faro claro, o Ludgero Gema Ramos, era para ser alferes, só lhe faltava uma cadeira do terceiro ciclo, (sétimo ano) chumbou o CSM e acabou como cabo enfermeiro em Luanda.

O nosso agradecimento ao amigo Diogo Sousa pela 
cedência desta "historieta".




Furriel Mil. da C.Caç.1521








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