quinta-feira, 23 de agosto de 2018

ESQUADRA 121 - "TIGRES DE BISSALANCA"























1967 - Base Aérea N° 12 - Guiné-Bissau 
BREVE HISTORIAL
Inicialmente designada por Aeródromo Base N°. 2, iniciou a BA12 as suas actividades em 25 de Maio de 1961, data em que foi publicada a primeira O.S.(Ordem de Serviço). 
Com um efectivo inicial de setenta (70) homens e doze (12) aviões de vários tipos, tinha a Unidad e como únicas instalações um hangar em acabamento, e umas quantas divisões da aerogare civil.
Estes efectivos iniciais foram aumentando progressivamente e, em Julho de 1961, foi já possível dar um apoio eficaz às Forças Terrestres chamadas a intervir nos incidentes ocorridos nas zonas fronteiriças do norte.
Ao ser comemorado o primeiro aniversário da Unidade, as instalações podiam considerar-se já como sendo as mínimas indispensáveis ao seu funcionamento. Ao eclodir o terrorismo em 1963 encontrou já uma Unidade aérea perfeitamente estruturada e apta, como o demonstrou, a colaborar nas acções repressivas que se foram desenvolvendo.
O rápido crescimento da Unidade, em meios aéreos e efectivos do pessoal, levou a que, em 1965, fosse transformada na Base Aérea N° 12, que deu continuidade às mais significativas tradições do Aeródromo Base N° 2.

1967-69 - Comissão de Serviço. Avião FIAT G-91 R/4

Ao entrarmos no 2° semestre de 1967, começou a apoderar-se a ideia de que estava a aproximar-se o fim da primeira Comissão FIAT na BA12 — Guiné-Bissau e por consequência o seu pessoal iria ser substituído. Assim, dentro da minha especialidade os primeiros a serem nomeados foram os colegas: 2ºSARS MMA - Mário Fernando Dinis Caneiro e José Lino da Silva Carneiro. Como dessa nomeação eu não fazia parte, embora estivesse à espera, passei a desempenhar a função de Chefe da Linha da Frente da ESQ.51, e a partir daí a manutenção a nível de 1° Escalão sofreu alteração, passando a mesma a ser executada pelo 2° Escalão.
Entretanto, os colegas Dinis Caneiro e Lino Carneiro partiram para a Guiné em 10 de Outubro de  1967, ficando eu convicto que não levaria muito tempo a juntar-me a eles, em Bissalanca. De facto tal aconteceu, e em 14 de Novembro de 1967 fui nomeado e para me substituir na Linha da Frente apresentou-se o colega ("Filho da Escola") 1º. Sarg. MMA - António Gomes Gaspar. Após algum tempo de acompanhamento entreguei-lhe a missão que a partir desse momento passou a ser o responsável.
Obs.: - Estava concluído um dos ciclos mais interessantes da minha carreira profissional, já que, fazendo parte da ESQ.51 (1° Escalão - Linha da Frente) desde a sua génese (Agosto - 1958), na companhia de outros colegas, fui o último a deixar a Esquadra com mais de nove (9) anos de colocação na mesma, isto é, em Novembro de 1967.
Antes da minha partida para a comissão de serviço na Guiné-Bissau passou à disponibilidade, por conveniência pessoal, o colega de curso e oriundo também da Aviação Naval, 2º. Sarg. MMA - José da Rocha Lisboa, que, como disse anteriormente cooperou na parte respeitante ao motor "ORPHEUS 803-DII" da Bristol que equipava o avião FIAT G-91 R/4 e incluído no Manual Fiat; por isso aqui fica o seu registo. Neste período também passou à licença ilimitada o 1º. Sarg. MMA - Luís Mendes, autor do Manual Avião F-86F "Sabre" para MMA; este colega foi prestar serviço nos Transportes Aéreos da Guiné Portuguesa (TAGP).


Dezembro 16, nesta data aterrei na BA12, sendo naturalmente colocado na Esquadra 121 - FIAT G-91 R/4 - "TIGRES", fazendo em seguida a respectiva apresentação. Como já tinha trabalhado com quase todos os pilotos da Esquadra e também o mesmo acontecendo com a maioria do pessoal mecânico, todos tinham a certeza que o Cabeleira iria tentar ser como habitualmente, mais um elo positivo na prontidão operacional das aeronaves.
É de referir que foi pela terceira vez que prestei serviço na Guiné-Bissau, já que em 1961 fiz parte da equipa técnica de apoio no "Ferry" Monte Real - Guiné-Bissau com os aviões F-86F "Sabre", ficando depois em diligência durante cerca de três (3) meses, o mesmo acontecendo (diligência) pela segunda vez em 1962.
É de registar ainda que desde 25 de Maio de 1961 até 16 de Julho de 1965 como atrás foi dito, esteve sediado em Bissalanca o Aeródromo Base N° 2 e que a partir desta data passou a constituir a Base Aérea N° 12 da FAP. Naturalmente, que ao apresentar-me na Unidade, esta já possuía todas as condições de estadia no que se refere a alojamento e alimentação, não necessitando assim de recorrer à cidade de Bissau como tinha acontecido em 1961 e 62. Em termos de infra-estruturas também a BA12 já se encontrava equipada com as necessárias e por isso actuava a todos os níveis operacionais.


A Esquadra 121 - FIAT G-91 R/4 - "TIGRES" actuava em missões de reconhecimento fotográfico e visual, bombardeamento, apoio de fogo e escolta de protecção às tropas de superfície, e era constituída pelo seguinte pessoal:

Pilotos
Coronel Manuel Diogo Neto, Comandante da ZACVG
Tenente Coronel Francisco Dias da Costa Gomes-Comandante do G.O. 
Capitão Fernando João de Jesus Vasquez, Comandante de ESQ.
Capitão Joaquim Pedro M. Costa Pereira 
Tenente José Francisco Fernandes Nico 
Tenente Rui Alfredo Balacó Moreira 
Tenente José Manuel Cantharino de Vasconcelos e Sá 
Tenente José Firmino Filipe das Neves.

Equipa Técnica de Manutenção

1SAR MMA Maurício José Casqueiro Ricardo
2SAR MMA Mário Fernando Dinis Caneiro
2SAR MMA José Lino da Silva Carneiro
2SAR MMA José Alberto Rodrigues Cabeleira
FUR MMA Francisco José Laço Padilha
1CABO MMA Fernando Augusto Vilela da Silva
1CABO MMA António Domingos Rijo Capucho
1CABO MMA Silvino de Oliveira Domingos
1CABO MMA Manuel da Costa Lagoa
1CABO MMA Artur Correia de Melo
1CABO MMA Marcelino Evaristo Silva
1CABO MMA Eduardo de Almeida
1CABO MMA Mário C. Santos
1CABO MMA Luís Rodrigo Branco Ferreira Tavares
1CABO MMA Eurico Alfredo de Sousa Lopes de Castro
1CABO MRÁDIO - António Six
1SAR MRADAR -Eduardo Octávio Abreu Neves
1SAR MELEC - Fernando Afonso de Almeida
2SAR MELEC - José Manuel da Silva Ferreira
2SAR MARME - Manuel Armando Correia
2SAR MARME - Virgílio José Morais Alfama
2SAR MARME - Victor Reis

Com a minha colocação na Esquadra constatei não só através dos meus colegas como também pelo número de voos que estavam a ser realizados no Teatro de Operações que o rendimento do 2° Escalão de Manutenção era de vital importância para o sucesso, mas como havia da parte de todos os mecânicos uma perfeita consciência de que os objectivos a alcançar pela Esquadra só podiam ser atingidos com total empenhamento de cada um, a nossa divisa era só uma; tentar manter dos oito (8) aviões Fiat que formavam a Esquadra, sete (7) prontos para voo e esse objectivo era normalmente conseguido com trabalho dentro ou fora das horas normais de serviço, a não ser que alguma aeronave fosse atingida seriamente e nessas circunstâncias como é óbvio tinha de parar mesmo.
O tempo decorria, as operações iam-se realizando e o inimigo que era de uma capacidade de "omni-presença", isto é, estava em toda a parte ao mesmo tempo, teve uma ideia que não foi nada "simpática" e sem existir a menor desconfiança pôs em alvoroço Bissalanca! 

1968 - Base Aérea N° 12 - Guiné-Bissau. Ataque surpresa!

Fevereiro 18, nesta data tinha concluído os primeiros dois (2) meses de comissão e tanto no aspecto físico (estávamos na melhor estação - seca - Dez/ /Maio) como no profissional tudo estava a decorrer como desejava inicialmente, muito embora no aspecto do conflito a opinião generalizada era de que a luta que estava a ser travada com o inimigo era bastante dura, mas daí pensar-se que a BA12 podia ser atacada a qualquer momento não estava nas previsões dos mais pessimistas, mas foi precisamente o que aconteceu!
Eram 22H00 de Domingo, e como habitualmente acontecia para todo o pessoal em geral, era o "timing" ideal de nos dirigirmos aos quartos para fazermos o nosso descanso e no dia seguinte estarmos em forma no cumprimento das respectivas tarefas. Tínhamos acabado de sair do Clube de Sargentos e eu estava inserido num grupo constituído pelos colegas Carneiro e ainda pelo enfermeiro Baptista; quando estávamos precisamente no momento da despedida, começaram a passar pelo ar na nossa direcção, objectos luminosos que julgávamos ser "very-lights", mas de imediato apercebemo-nos que se tratava do lançamento de "morteiros" o que deixava naturalmente a Unidade e todos nós numa situação de perigo iminente. Então, perante tal condição o que aconteceu aos quatro (4) colegas? Cada um correu para seu lado e só nos voltámos a encontrar já passavam das 03H00 da manhã!
Segundo informação obtida mais tarde, alguns minutos após o acontecimento foi movida uma perseguição por tropas pára-quedistas, mas o resultado foi infrutífero.
É de referir ainda que a maioria dos "morteiros" passavam por cima da Base e iam cair a uma distância que já não ofereciam perigo. No entanto, houve alguns que provocaram ainda bastantes danos; um deles até causou a morte a um milícia guinéu que pertencia ao Corpo de Milícias que estava aquartelado na Unidade de Pára-quedistas contígua à BA 12, e um outro caiu junto à central eléctrica provocando ainda alguns estragos.
Entretanto, houve uma certa perturbação psicológica em todos nós, mas como sempre "depois de uma tempestade vem a bonança" começámos, naturalmente, a olhar de novo em frente. Os indicadores da melhor confiança voltaram e consequentemente os níveis operacionais da Esquadra Fiat eram os melhores, muito embora de quando em vez uma ou outra aeronave ao regressar à Base viesse atingida pelo inimigo.


1969 - Entrámos no Novo Ano, a luta contra o inimigo era intensa e para satisfazer melhor as necessidades operacionais mais quatro (4) Fiats G-91 R/4 chegaram a Bissalanca; a sua montagem pertenceu exclusivamente a pessoal das OGMA. Devo referir que tal como aconteceu com oito (8) aviões Fiat, em que a equipa de manutenção tinha sempre na mente sete (7) aeronaves operacionais, a "táctica" para doze (12) aviões era a mesma, isto é, manter prontas para operação onze (11) Fiats (havia sempre uma aeronave em inspecção periódica).
Obs.: - As OGMA tiveram papel importante na manutenção dos Fiat, realizando centenas de IRAN e introduzindo diversas modificações, possibilitando a sua operacionalidade por quase três décadas.
Neste momento, quero deixar o registo que a equipa de manutenção (FAP) manteve sempre as melhores relações pessoais e profissionais com o pessoal das OGMA, tanto na BA12 - Guiné-Bissau como mais tarde no AB7 - Tete (Moçambique), o que contribuiu sem dúvida para o bom rendimento operacional que os aviões Fiat vieram a alcançar em África.
As semanas e os meses iam decorrendo e a comissão de serviço para a maioria do pessoal Fiat começava a aproximar-se do fim (Abril), mas com a falta de mecânicos especializados em Fiat, só em Junho a rendição foi efectuada. Entretanto, com o espaço de tempo referido concluí também a minha comissão; mas alguém tinha de ficar para acompanhar os colegas durante um certo espaço de tempo, já que o ritmo operacional da Esquadra nesse período era muito exigente.

F86 durante operação "Atlas"

Finalmente, sublinho que foi a terceira e última vez (F-86F "Sabre" - duas vezes) que marquei presença na Guiné-Bissau e é de referir que os Fiat G-91 R/4 da Esquadra 121 "Tigres" operaram ao longo de oito (8) anos, realizando cerca de 10.000 horas de voo, com cinco (5) aviões destruídos para além dos atingidos pelo fogo inimigo que conseguiram regressar à Base.
Há a assinalar ainda, que o Comandante do Grupo Operacional TCOR Pilav Costa Gomes ao ser atingido foi obrigado a lançar-se em pára-quedas, mas foi possível ser recuperado.
Mais tarde, em Março de 1973, o TCOR Almeida Brito, piloto de elevada experiência operacional, executando inúmeras missões no Teatro de Operações, foi atingido por um míssil inimigo, morrendo heroicamente ao serviço da Pátria.


Excerto do livro “Trajecto de uma vida – Entre o mar e o ar”
Memórias 1948-1983 do então 2° Sarg. José Rodrigues Cabeleira (falecido)



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