A cidade do Luso - foto de Gonçalo de Carvalho |
Gen. Bettencourt |
Paralelamente, a Força Aérea, para responder às solicitações desta nova estrutura, cria o Comando do Sector Aéreo Leste (COMSECAR), também sediado no Luso, na dependência operacional do Comando da Região, sendo o apoio logístico e administrativo garantido pelo AB4-Henrique de Carvalho.
Pouco depois de o ex-oficial de operações ter assumido o comando do aeródromo, começaram a surgir atritos com o comandante do COMSECAR do Luso, com reflexos altamente negativos na rentabilidade dos meios aéreos e, consequentemente, no apoio requerido pelo comandante da ZML.
Os problemas resultantes desta situação, obrigaram-me a visitar com uma certa frequência o Leste onde constatei que as relações entre os dois comandos eram muito tensas com queixas de ambos os lados, a unidade aérea do Luso onde estava estacionada toda a frota ligeira (helicópteros e aviões ligeiros) não correspondia, em termos de organização e disciplina, às exigências da guerra com uma taxa de prontidão preocupantemente baixa.
No meio de todo este panorama, nada abonador para a Força Aérea, pareciam salvar-se as relações entre o Comandante terrestre e o Comandante aéreo, ouvindo os maiores elogios da parte do Gen. Bettencourt Rodrigues ao interesse demonstrado pelo responsável da Força Aérea em satisfazer as suas necessidades. Fui informado de que não era por menos empenho do Comandante aéreo que algumas missões não chegavam a ser cumpridas por falta de meios. Tive a sensação de que a responsabilidade pela situação era assacada ao Comandante do AB4.
Depois duma análise profunda de toda aquela problemática, decidi propor ao Comandante da Região a remodelação das estruturas de comando da Força Aérea no Leste de Angola, tendo merecido a sua concordância.
Depois duma análise profunda de toda aquela problemática, decidi propor ao Comandante da Região a remodelação das estruturas de comando da Força Aérea no Leste de Angola, tendo merecido a sua concordância.
Luso - foto de José Carvalho |
Esta intenção levantou uma grande celeuma a todos os níveis de comando, chegando mesmo ao Ministro da Defesa. Mas não cedi nos meus propósitos depois da luz verde do meu Comandante. Com o Gen. Costa Gomes tive uma longa conversa, tendo-se mostrado bastante compreensivo, mas dizendo-me não poder deixar de apoiar o Comandante da ZML. A minha inflexibilidade, perfeitamente fundamentada, conduziu à necessidade de me deslocar a Lisboa para explicar superiormente as razões das alterações de comando no Leste.
Também não percebia os porquês de tanta polémica em torno duma questão que apenas visava uma maior rentabilidade das estruturas aéreas naquele teatro. O Gen. Portugal, ao ser-lhe posto o problema, limitou-se a dizer-me: «Você que arranjou os sarilhos agora vá lá a Lisboa explicá-los ao Secretário de Estado.»
Não me foi difícil explicitar toda a problemática que conduzira àquela situação, na qual não estava em questão a capacidade e empenhamento de pessoas, mas todo um conjunto de factores que inevitavelmente conduziam a uma menor credibilidade da Força Aérea e, o que era mais grave, a uma quebra acentuada na disponibilidade dos meios para satisfazer as necessidades ditadas pela guerra.
O Secretário de Estado ouviu-me com toda a atenção e, sem fazer perguntas, questionou-me: «Quem é que o Cardoso pensa que dispõe dos atributos adequados para o desempenho dessas funções?»
O Secretário de Estado ouviu-me com toda a atenção e, sem fazer perguntas, questionou-me: «Quem é que o Cardoso pensa que dispõe dos atributos adequados para o desempenho dessas funções?»
Cor. Sacchetti |
«Concordo.» Mesmo sem ter falado com ele, sabia que iria aceitar o desafio e responder positivamente às solicitações que lhe iriam ser postas. No fim, a reestruturação limitava-se, na sua essência, a concentrar num único responsável as duas funções: Comandante do AB4 e do COMSECAR Leste.
O então Coronel Sacchetti, acolhido no Luso com uma frieza que considerei excessiva, acabou por fazer jus à sua escolha e foi com grande satisfação que, cerca de um mês mais tarde, numa daquelas reuniões mensais do Comando Chefe, o Gen. Bettencourt Rodrigues afirmava: «Não tinha entendido, e ainda não entendia, a reestruturação que a Força Aérea levara a efeito no Leste, mas com agrado informava que os meios aéreos postos à sua disposição tinham sofrido um acréscimo substancial e, mais importante, era-lhe dado a conhecer, com bastante antecedência, a previsão de prontidão das aeronaves, permitindo-lhe planear a acção terrestre em conformidade.» Não fiquei surpreendido, não só pelo trabalho desenvolvido pelo Cor. Sacchetti que conhecia bastante bem, como também pela frontalidade e isenção do Gen. Bettencourt Rodrigues.
Foi uma longa batalha que a Força Aérea acabara por vencer acabando por dar os seus frutos.
Foi uma longa batalha que a Força Aérea acabara por vencer acabando por dar os seus frutos.
Foto de Gonçalo de Carvalho |
Após a chegada do Major Corbal, iniciou-se de imediato um trabalho de grande profundidade, visando uma maior rentabilidade de todas as unidades aéreas da 2ª. RA.
Em estreita ligação com os comandos das Bases, foram fixadas as taxas de exploração desejáveis para satisfação das solicitações operacionais e estabelecidos os parâmetros-base para cálculo dos módulos de pessoal para garantir essa actividade.
Surpreendentemente, chegou-se à conclusão de que a Região dispunha de pessoal, quanto necessário, em todas as especialidades para atingir os objectivos desejados. Era tudo uma questão de «arrumação» que, embora não tivesse sido do agrado de alguns, acabou por justificar as medidas tomadas.
Acabara-se, definitivamente, a mais que velha e gasta justificação do «não há pessoal». No Leste, o novo comandante, conseguindo taxas de produtividade que ultrapassaram de longe as previsões mais optimistas, apenas se limitou a pedir-me um homem para comandar a unidade de helicópteros Alouette III.
Tratava-se, em concreto, do Cap. Custódio Santana, um profissional muito acima da média nos múltiplos aspectos em que poderia ser avaliado. Mas o Santana estava colocado em Luanda na BA9, não lhe competindo, muito longe disso, ser atirado para o Leste. Não podia deixar de satisfazer o pedido do Sacchetti que eu também fora buscar
à metrópole. Falei por duas vezes com o Santana no meu gabinete. Não foi fácil convencê-lo porque os seus argumentos eram absolutamente válidos mas, invocando o alto interesse do serviço, acabou por aceitar sem ter de recorrer à nomeação oficial que na vida militar é norma mas que, por vezes, contribui para uma menor motivação do pessoal e, consequentemente, uma quebra de rendimento.
Em estreita ligação com os comandos das Bases, foram fixadas as taxas de exploração desejáveis para satisfação das solicitações operacionais e estabelecidos os parâmetros-base para cálculo dos módulos de pessoal para garantir essa actividade.
Surpreendentemente, chegou-se à conclusão de que a Região dispunha de pessoal, quanto necessário, em todas as especialidades para atingir os objectivos desejados. Era tudo uma questão de «arrumação» que, embora não tivesse sido do agrado de alguns, acabou por justificar as medidas tomadas.
Cap.Santana |
Tratava-se, em concreto, do Cap. Custódio Santana, um profissional muito acima da média nos múltiplos aspectos em que poderia ser avaliado. Mas o Santana estava colocado em Luanda na BA9, não lhe competindo, muito longe disso, ser atirado para o Leste. Não podia deixar de satisfazer o pedido do Sacchetti que eu também fora buscar
T.Cor.Sacchetti na despedida do Brig. Bettencourt do comando da ZML |
Deixei de me preocupar com o Leste onde, para além das nossas forças, se dispunha ainda de um destacamento de helicópteros AIouette III sul-africanos. Estava sediado no Cuito-Cuanavale, sendo a sua actividade circunscrita, em exclusivo, ao transporte táctico das nossas forças não estando previsto qualquer envolvimento em combate.
Texto Cor.Silva Cardoso CEM-COMRA2
No seu livro Angola, Anatomia de uma Tragédia.
Fotos do Álbum de fotos do Blog
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