O Fonseca nas mensagens de Natal da RTP, em 1968 |
Bem, agora trouxeram-me aqui a foto do meu discípulo Fonseca, o rapaz mais inteligente que conheci.
Quando chegou ao AB4, muito franzino e pequeno, soldado atirador, veio apresentar-se, tive pena dele e arranjei a que fosse o nosso Ordenança. Sabia ler e escrever mal, segunda classe da Primária, no entanto, revelou-se no dia em que se sentou ao lado de um rapaz que estava a estudar para ir a Malange fazer exame, e após umas noitadas ali no Comando, disse que afinal não era difícil essa coisa de estudar.
O Padre Pereira passou a dar-lhe lições e em dois meses fez a quarta e a admissão ao Liceu, em pouco mais de um ano fez o Segundo e o Quinto, e em Malange, de uns poucos somente passaram dois, ele foi um deles.
Quando me vim embora já ele tinha trabalho assegurado no escritório do Pereira Rodrigues, que era também o dono do Hotel.
Era natural de um lugar na zona de Mirandela, viviam de contrabando, e ele costumava dizer que Cristo não passou por ali, nem a pé, nem de bicicleta, só se fosse de burro, porque os burros eram o meio de transporte e não caiam!
Recordar também é viver!
Somente mais uma do "Fonsequinha", como eu o tratava.
Quando vinha algum soldado para se apresentar, passámos a entregar a tarefa ao Fonseca, que era um espectáculo nas perguntas. Pequeno, com um sorriso matreiro, olhando como quem está inspeccionando a farda e a aparência, começava o interrogatório e nós ficávamos à espreita.
A parte mais fantástica foi a seguinte: (não sei se alguém se recordará) a um Soldado da Policia Aérea de seu nome António Olho Azul Rosa, o Fonseca depois de todas as perguntas, todas elas desnecessárias, em silêncio olhou o rapaz, olhou a guia, e sai-se assim: - bem, isto não está conforme, está errado, isto não é uma brincadeira (nós por detrás das portas, ainda não havia balcão, quase que nos mijávamos a rir) e impávido e sereno, continuava a olhar para a guia e para a cara do rapaz, que disse: - foi o que me deram, está ai tudo!
Quando vinha algum soldado para se apresentar, passámos a entregar a tarefa ao Fonseca, que era um espectáculo nas perguntas. Pequeno, com um sorriso matreiro, olhando como quem está inspeccionando a farda e a aparência, começava o interrogatório e nós ficávamos à espreita.
A parte mais fantástica foi a seguinte: (não sei se alguém se recordará) a um Soldado da Policia Aérea de seu nome António Olho Azul Rosa, o Fonseca depois de todas as perguntas, todas elas desnecessárias, em silêncio olhou o rapaz, olhou a guia, e sai-se assim: - bem, isto não está conforme, está errado, isto não é uma brincadeira (nós por detrás das portas, ainda não havia balcão, quase que nos mijávamos a rir) e impávido e sereno, continuava a olhar para a guia e para a cara do rapaz, que disse: - foi o que me deram, está ai tudo!
Pois, mas aqui diz Olho Azul Rosa e tu tens os olhos castanhos! Já não
aguentámos mais!
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