Algures no leste de Angola 1971 - foto de José Carvalho |
Procura-se um Aviador, nem jovem nem velho, apenas antigo. Que tenha sensibilidade para lidar comigo e compreenda minhas manias, pois já estive à beira do desaparecimento e fui ressuscitado – ou restaurado – como dizem por aí… Cada novo pedaço de tela, cada nervura, representa cicatrizes dos lanhos de uma vida de voos e pousos, mais rangidos, estalidos e tendências deste meu corpo – ou fuselagem…
Meu piloto poderá falar quando quiser, mas, sobretudo, terá que saber escutar, ouvir e entender os sons que sou capaz de emitir: como o assobio do vento relativo nos meus contornos; o ronco do meu fiel motor que, às vezes, espouca e tosse, com um bafo de fumaça azulada.
Procura-se um humano que compreenda meus códigos, que talvez sejam mensagens diluídas pelo tempo e remanescentes de aviadores antigos que me conduziram, ou a outros iguais a mim.
Procura-se um aviador que não se importe com meu cheiro de dope, graxa e gasolina, também não se melindre quando eu o respingar de óleo. Deverá ainda saber usar a bússola e ler uma carta seccional, reconhecendo referências no terreno, compensando o vento e mantendo a rota, sem precisar de mostradores elétricos. Este piloto decerto apreciará as pistas de grama e cascalho.
O aviador que procuro deverá saber extasiar-se com minhas antiquadas chandelles, tonneaux e loopings, apenas alegres e espontâneos bailados, sem pretensão a aplausos ou troféus.
Procura-se um aviador que tenha prazer de voar a qualquer hora, mas preferindo decolar ao nascer do sol, ou conduzir-me nas luzes mágicas do sol poente. Meu piloto será um saudosista por certo, sobrevivente do tempo em que um avião era um avião, e não um foguete com asas, recheado de automatismos.
Este piloto será tido como esquisito, pois será reservado e escondido, numa surrada jaqueta manchada de óleo. Será encontrado, junto com poucos iguais a ele, numa boa conversa de hangar.
O aviador que vier por este anúncio será aquele que procure poesia na aviação, que tenha amor pela máquina.
Procura-se este aviador raro que tenha carinho por mim, a despeito de minha idade, e que, principalmente, não permita que lhe arranquem o romantismo.
Interessados dirigirem-se ao Hangar da Saudade, no Campo dos Sonhos, procurar pelo velho, porém majestoso, North American Texan T-6, mais conhecido por “Têmeia”.
Meu piloto poderá falar quando quiser, mas, sobretudo, terá que saber escutar, ouvir e entender os sons que sou capaz de emitir: como o assobio do vento relativo nos meus contornos; o ronco do meu fiel motor que, às vezes, espouca e tosse, com um bafo de fumaça azulada.
Procura-se um humano que compreenda meus códigos, que talvez sejam mensagens diluídas pelo tempo e remanescentes de aviadores antigos que me conduziram, ou a outros iguais a mim.
Procura-se um aviador que não se importe com meu cheiro de dope, graxa e gasolina, também não se melindre quando eu o respingar de óleo. Deverá ainda saber usar a bússola e ler uma carta seccional, reconhecendo referências no terreno, compensando o vento e mantendo a rota, sem precisar de mostradores elétricos. Este piloto decerto apreciará as pistas de grama e cascalho.
O aviador que procuro deverá saber extasiar-se com minhas antiquadas chandelles, tonneaux e loopings, apenas alegres e espontâneos bailados, sem pretensão a aplausos ou troféus.
Procura-se um aviador que tenha prazer de voar a qualquer hora, mas preferindo decolar ao nascer do sol, ou conduzir-me nas luzes mágicas do sol poente. Meu piloto será um saudosista por certo, sobrevivente do tempo em que um avião era um avião, e não um foguete com asas, recheado de automatismos.
Este piloto será tido como esquisito, pois será reservado e escondido, numa surrada jaqueta manchada de óleo. Será encontrado, junto com poucos iguais a ele, numa boa conversa de hangar.
O aviador que vier por este anúncio será aquele que procure poesia na aviação, que tenha amor pela máquina.
Gago Coutinho 1969 - foto de Eduardo Cruz |
Procura-se este aviador raro que tenha carinho por mim, a despeito de minha idade, e que, principalmente, não permita que lhe arranquem o romantismo.
Interessados dirigirem-se ao Hangar da Saudade, no Campo dos Sonhos, procurar pelo velho, porém majestoso, North American Texan T-6, mais conhecido por “Têmeia”.
(Autor desconhecido – Encontrado no salão de estar do ACSP), via Franco Ferreira, tenente-coronel da reserva da FAB
Maravilha. É um avião maravilhoso, pelo menos para mim que devo ter quase a idade dele.
ResponderEliminarCarlos Neves
É bonito pôr aquela máquina a falar, dizendo o que deseja! Um piloto arrojado com esta máquina a voar foi um duo que deixou saudades. Gosto do texto e deixo os meus parabéns ao autor e a quem o publicou.Abílio C. Silva
ResponderEliminarLinda a composição deste "anúncio" que enaltece as qualidades da máquina que para mim era a mais bonita da FAP naquele tempo. Adorei. Parabéns ao autor e a quem o encontrou e publicou.
ResponderEliminarSérgio Durães
OPC 1ª/68
Excepcional, parabéns ao autor e a quem publicou, pela sensibilidade e respeito por esta máquina,E que ela própria exigia respeito.Alguns não sobreviveram para contar.E por falar em romantismo quantas vezes esta bonita máquina aterrou na pistas de cabinda com a luz de candeeiros (aquelas bolas pretas)a petróleo,
ResponderEliminarCarlos Gaspar
Belo avião, fiável, genuíno, inspirava confiança. Pena foi só ter voado nele á boleia em Gago Coutinho em 1967. Continuei a vê-lo em diversos aeródromos mas não tive a sorte de me darem uma boleia. Estou-me a lembrar das rapadas a cortar capim no Ninda e no Muie ou a fazer bombardeamentos com o Capitão Neto Portugal ou a fazer ataque com rocket. Bons tempos.
ResponderEliminarnaquela data em G Coutinho ou é o Estima ou o Renato(+)
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