Na semana de 16 a 26 de Janeiro de 1966, foi desencadeada uma grande operação na zona dos Dembos a partir de Santa Eulália. Foi-me atribuído esse héli tendo como mecânico o 1o. cabo Linder, um puto porreiríssimo com 19 anos. Foi uma operação bastante dura, num terreno muito difícil, com muitas idas e vindas, evacuações, etc. Quem andou por lá sabe como é.
Nos últimos voos notei um agravamento na acção dos pedais, que afectava consideravelmente a estabilidade de voo, defeito que considerei suficiente para não fazer as últimas colocações, reservando-me somente para trazer, como trouxe, o aparelho de regresso a Luanda, mas sem carga nem passageiros.
Manuel J. Barbosa num destacamento |
Chegados a Luanda o héli foi para a manutenção e eu escrevi no livro de voo um relatório circunstanciado. Este aparelho estava destinado a ir fazer um destacamento de 1 mês em Cabinda com outro piloto, que se a memória não me falha seria o Lobato Faria. Depois de efectuados os respectivos arranjos o aparelho foi dado como apto para os voos de verificação que como é óbvio a mim competia fazer, no sábado dia 29 de Janeiro.
Assim comecei os voos com o cabo Linder, o sarg. Vareta da manutenção e o cabo electricista Nogueira. Dois cabos especialistas recém chegados a Luanda mas não destinados à Esquadra 94, pediram-me boleia pois nunca haviam voado em héli. Não autorizei por se tratar de voos de experiência/manutenção e só admitir o pessoal qualificado e destinado a esse tipo de voo. Fazia voos curtos e aterrava na placa da Esquadra 94, mas, não me estava a agradar, pois apesar de estar bastante melhor ainda não o considerava em condições e muito menos para ir para um destacamento tão longe. Fiz, não sei, quantos voos curtos, os mecânicos iam dar um arranjo voltava a descolar e assim passei quase toda a manhã.
Por volta do meio dia, numa das minhas aterragens, veio ter comigo ao héli, o malogrado e grande amigo Ten. Canhoto para me substituir, pois eu tinha sido chamado ao Comandante da Base, que vinha nessa tarde para Lisboa e queria tratar de um assunto pessoal comigo.
Ainda tentei que o Canhoto não descolasse, pois eu estava mais habilitado para avalizar a situação do héli. Tirei o capacete e mesmo em fato de voo meti-me no meu carro e dirigi-me para o comando. Ouço o héli a descolar e até "insultei" mentalmente o Canhoto por não ter esperado por mim. Não cheguei a entrar no comando, porque entretanto soou a sirene da base.
Morro dos veados |
Eram 6 corpos destroçados.
Porquê? Porque o Canhoto deu boleia aos dois teimosos especialistas que ainda estavam na Esquadra 94.
Nunca mais esquecerei esse fatídico sábado dia 29 de Janeiro de 1966.
Nunca mais esquecerei esse fatídico sábado dia 29 de Janeiro de 1966.
Inspecção após acidente |
As causas do acidente, foram apuradas pelos técnicos franceses, que estavam em Luanda, em inspecção aos hélis, como fractura do veio de transmissão do rotor de cauda, por defeito de fabrico.
Seis meses mais tarde, a 5 de Julho, tive o meu acidente no Negage, pelas mesmas causas. Felizmente, ninguém sofreu qualquer dano físico e o aparelho não ardeu porque Graças a Deus tive a rapidez e oportunidade de cortar, atempadamente, o coupe feu e o terreno ser lamacento, o que atenuou o impacto.
Mas acima de tudo esteve comigo a Nossa Senhora do Ar.
Relação dos mortos no acidente do 9251 |
Nunca é demais recordarmos aqueles " que por obras valorosas se foram da lei da morte libertando"
Por:
Manuel J. Barbosa - PIL Esqª. 94 da BA9
Manuel J. Barbosa - PIL Esqª. 94 da BA9
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