Algum pessoal do Camaxilo...e o Unimog |
Não direi que fui mesmo aquele que mais tempo permaneceu no Camaxilo, por exemplo, porque também houve alguém que lá esteve seguramente muito tempo. Estou a referir-me ao meu amigo Fonseca MELEC que foi um veterano do AM42. Tive ainda o prazer de conviver com ele no Camaxilo, sendo mesmo aquele que me guiou para reconhecimento da área e me iniciou nas artes sanzalinas! Ele acabaria de regressar ao AB4 após aquela longa estadia no AM ficando eu então ainda por lá algum tempo mais .
Nalguns escritos, pois o local a isso se prestava, fui escrevendo algumas crónicas e reparo agora, após reactivar as memórias que estive exactamente: 11 meses no Camaxilo, 6 meses no Cazombo, com 13 de Henrique de Carvalho, sendo que destes 13 meses alguma parte fosse repartida entre o Luso, Cuito, e Teixeira de Sousa, de onde mantenho ainda um excelente quadro batido a cobre, que por lá me ofertaram, quando na campanha anti-cólera.
Também e segundo alguns rabiscos de ocasião me fazem vir à lembrança uma das composições do quadro de pessoal no Camaxilo que era assim: 1 Oficial , 1 Sargento, 1 ENF, 1 OMET, 1 MELEC e 1 OPCOM, 1 MRAD , 2 Cabos e 12 Soldados PA , 1 SG Condutor e 2 Cozinheiros Civis.
Como recordar é viver, não poderia deixar de passar em claro um episódio que só não teve consequências trágicas porque seguramente a sorte esteve no nosso lado.
Uma daquelas noites como já houveram tantas outras atrás, estava decidido empreendermos mais uma caçada nocturna. Era hábito nos AM´s este tipo de “divagação”, que alguma carne nos trazia.
Geralmente a caçada iniciava-se com a saída do AM logo após o jantar e reunida toda a equipa com verificação do equipamento e lá íamos com o Soldado Pato [SG] a conduzir aquele Hunimog que tão bem conhecia aqueles sinuosos caminhos.
O destino era a Chana do leão. Havia quem dissesse que o homem é só mesmo um grão de nada no meio da chana.
Uma daquelas noites como já houveram tantas outras atrás, estava decidido empreendermos mais uma caçada nocturna. Era hábito nos AM´s este tipo de “divagação”, que alguma carne nos trazia.
Geralmente a caçada iniciava-se com a saída do AM logo após o jantar e reunida toda a equipa com verificação do equipamento e lá íamos com o Soldado Pato [SG] a conduzir aquele Hunimog que tão bem conhecia aqueles sinuosos caminhos.
O destino era a Chana do leão. Havia quem dissesse que o homem é só mesmo um grão de nada no meio da chana.
Um pensador da época de nome Sekulu dizia mesmo num dos seus escritos :
Não andes em círculos ou espiral, o tempo avança! Avança sempre como espada recta crescendo.
É uma chana sem fim o tempo, sem floresta para cercá-lo e como todas as chanas tem vento vestindo brisa ou garro alevantando calemas de muxitos.
Pois era assim mesmo … e foi esse o nosso destino nessa noite.
Após uma caçada até bastante boa, tínhamos já na altura 6 cabras, decidimos então empreender o caminho de regresso. Presto aqui homenagem a um excelente atirador, e amigo, que tínhamos no AM, nessa altura, e que era conhecido pelo dezoito, porque o seu número mecanográfico era 18/71,1.º Cabo PA. Militar de estatura baixa corpo franzino mas de G3 raro era o animal que lhe escapava. Eu, era nessa noite, como em quase todas as outras, o farolinador de serviço, arte que “herdei” do Fonseca [MELEC]. A arte de farolinar devia estar bem associada ao atirador de serviço, pois e para quem não sabe, tínhamos de “puxar” o animal para o mais perto possível de nós até estar ao alcance do tiro, pois ir ao seu encontro quase sempre originaria a fuga do animal.
Após uma caçada até bastante boa, tínhamos já na altura 6 cabras, decidimos então empreender o caminho de regresso. Presto aqui homenagem a um excelente atirador, e amigo, que tínhamos no AM, nessa altura, e que era conhecido pelo dezoito, porque o seu número mecanográfico era 18/71,1.º Cabo PA. Militar de estatura baixa corpo franzino mas de G3 raro era o animal que lhe escapava. Eu, era nessa noite, como em quase todas as outras, o farolinador de serviço, arte que “herdei” do Fonseca [MELEC]. A arte de farolinar devia estar bem associada ao atirador de serviço, pois e para quem não sabe, tínhamos de “puxar” o animal para o mais perto possível de nós até estar ao alcance do tiro, pois ir ao seu encontro quase sempre originaria a fuga do animal.
Lembro que apenas os olhos se distinguiam na noite e só mesmo por estes nós sabíamos que tipo de animal era.
Não é fácil andar de noite, nem de dia, na chana disso tenho eu experiência própria pelas muitas noites perdidas, quer na chana da Cameia quer na do Leão. Perdermo-nos é a coisa mais fácil de acontecer, porque no constante ziguezaguear perdemos a noção dos caminhos.
Era madrugada cerrada, nessa noite não conseguíamos dar com o caminho de regresso. O Pato atravessava por entre mata com e sem trilhos, até que caímos numa vala. O radiador furou e ficamos por ali tentando arranjar maneira de o reparar. Lá conseguimos um reparo de ocasião e iniciámos a marcha.
Estávamos perdidos. O dia nascia e continuávamos perdidos. Mais um dia de caminhos entre o ir e voltar e nada. Mais uma noite a aproximar-se e nós sem rasto de volta. Mais um dia mais percursos. Foi já na 3ª. noite que sem darmos conta estávamos numa sanzala completamente isolada no mato.
A nossa situação foi explicada, graças ao Pato que sendo oriundo de África falava e entendia alguns dialectos. Nessa noite ficamos por ali mas sempre despertos e alertas, o caso não era para menos.
No outro dia e já com as indicações dadas fomos ao caminho andamos todo o dia e já de madruga a dentro avistamos um clarão na noite, que nos pareceu ser do AM.
Era mesmo, pois algumas horas depois estávamos a chegar a casa.
Vínhamos famintos mas por incrível que pareça o Alferes Silva, que na altura comandava o destacamento, não nos deixou comer, alegando que não acreditava que nos tivéssemos perdido, já que quer eu quer o Pato devíamos conhecer bem os caminhos tantas as viagens que já havíamos feito até à chana.
Estávamos perdidos. O dia nascia e continuávamos perdidos. Mais um dia de caminhos entre o ir e voltar e nada. Mais uma noite a aproximar-se e nós sem rasto de volta. Mais um dia mais percursos. Foi já na 3ª. noite que sem darmos conta estávamos numa sanzala completamente isolada no mato.
A nossa situação foi explicada, graças ao Pato que sendo oriundo de África falava e entendia alguns dialectos. Nessa noite ficamos por ali mas sempre despertos e alertas, o caso não era para menos.
No outro dia e já com as indicações dadas fomos ao caminho andamos todo o dia e já de madruga a dentro avistamos um clarão na noite, que nos pareceu ser do AM.
Era mesmo, pois algumas horas depois estávamos a chegar a casa.
Vínhamos famintos mas por incrível que pareça o Alferes Silva, que na altura comandava o destacamento, não nos deixou comer, alegando que não acreditava que nos tivéssemos perdido, já que quer eu quer o Pato devíamos conhecer bem os caminhos tantas as viagens que já havíamos feito até à chana.
Ficámos em “branco” e sem carne, que tinha sido dada na sanzala, afinal teria servido para trocar pela informação do caminho para o AM.
Aqui, e já depois de analisar-mos tudo que havíamos passado, uma pergunta. Como sabiam aqueles estranhos na sanzala qual exactamente o caminho para o AM ?
A resposta foi dada uns dias depois. Estávamos no Posto de Transmissões e na rádio uma notícia de uma emissora ocasional local dava conta do aparecimento de um veículo, perdido, com militares em determinada hora e local. Falavam de nós. Diziam na noticia que estivemos num Posto de Abastecimento Local [ PAL] e que não nos fizeram mal algum porque nos tinham a nós os da Força Aérea por pacíficos, ao contrário do pessoal do exército que eles consideravam muito mais perigosos e nada amistosos.
Aqui, e já depois de analisar-mos tudo que havíamos passado, uma pergunta. Como sabiam aqueles estranhos na sanzala qual exactamente o caminho para o AM ?
A resposta foi dada uns dias depois. Estávamos no Posto de Transmissões e na rádio uma notícia de uma emissora ocasional local dava conta do aparecimento de um veículo, perdido, com militares em determinada hora e local. Falavam de nós. Diziam na noticia que estivemos num Posto de Abastecimento Local [ PAL] e que não nos fizeram mal algum porque nos tinham a nós os da Força Aérea por pacíficos, ao contrário do pessoal do exército que eles consideravam muito mais perigosos e nada amistosos.
E…este foi mais um rabisco no meu Álbum de Recordações do AM42 .
Virgilio Oliveira [ENF]