ESTÓRIAS DE MISSÃO DE UM OFICIAL DA FORÇA AÉREA: ANGOLA – 1992
Cartoon do autor |
Todos os dias, com o aproximar do
pôr-do-sol acabava a atividade aérea e eu ia para as reuniões de coordenação,
com a Comissão Eleitoral de Luena. O objetivo daquelas reuniões tardias era de
reportar aquilo que se tinha feito no dia vigente, bem como de coordenar as
atividades dos vários sectores para o dia seguinte. No caso da campanha aérea,
discutia-se quem é que necessitava de voar e para onde eram os voos. Tentava-se
conciliar a escassez de recursos com a satisfação das várias entidades
políticas, muitas vezes com intenções antagónicas entre elas. Não era uma
tarefa fácil, porque continuava a haver escaramuças e confrontos armados entre
as fações na corrida eleitoral. Após chegar-se a acordo, faziam-se as listas
das necessidades de passageiros e carga para cada meio aéreo, com as respetivas
horas de embarque.
Começava então a parte mais delicada dessas
reuniões – o ajustamento das necessidades à capacidade dos meios aéreos. Para
cada distância a voar tinha de haver uma certa quantidade de combustível. O peso
desse combustível retirava pessoas e carga das aeronaves. Isto nem sempre era
entendido pelos participantes nessas reuniões, que acabavam por viciar a
informação na tentativa de atingir as suas intenções.
Por absoluto desconhecimento ou devido a intenções escusas, a qualidade de informação que nos era cedida era invariavelmente má. Quase nada do que nos era dito pelos vários representantes das entidades politico-eleitorais, batia certo com o que se verificava no dia dos voos. As identificações das listas de passageiros nunca estavam corretas, requerendo negociações de última hora à porta da aeronave. Outro tipo de situação, a roçar o hilariante, eram os valores que nos davam do peso estimado da carga. Eu fazia sempre questão de recordar a capacidade de um MI-17:
Por absoluto desconhecimento ou devido a intenções escusas, a qualidade de informação que nos era cedida era invariavelmente má. Quase nada do que nos era dito pelos vários representantes das entidades politico-eleitorais, batia certo com o que se verificava no dia dos voos. As identificações das listas de passageiros nunca estavam corretas, requerendo negociações de última hora à porta da aeronave. Outro tipo de situação, a roçar o hilariante, eram os valores que nos davam do peso estimado da carga. Eu fazia sempre questão de recordar a capacidade de um MI-17:
- “Meus senhores, nós não vamos retirar
combustível ao voo. Vocês podem carregar um total de 4500 Kg, ou 22 pessoas só
com bagagem de mão.”
Mas
os pesos que a Comissão Eleitoral nos cedia estavam invariavelmente errados e o
conceito de “bagagem de mão” era muito flexível naquelas paragens. A solução
era embarcar as pessoas e a carga prevista, tendo depois o piloto de fazer um
pequeno teste de descolagem vertical na placa. Se a capacidade de sustentação
do MI-17 não estivesse à altura das exigências, ia-se retirando carga até se
atingir o poder de sustentação desejado.
Hilariante contado agora, …, arrepiante vivido na altura!
Hilariante contado agora, …, arrepiante vivido na altura!
Por vezes tínhamos de fazer mais de um voo
para o mesmo destino, com consequências negativas na gestão do combustível
disponível.
(O texto e os desenhos são extratos de um projeto de livro, da autoria de Paulo Gonçalves – Tenente-Coronel TOCART – sobre “Estórias de missão ao serviço da ONU”)
Os editores do Blog agradecem ao Sr.Ten.Coronel Paulo Gonçalves, a cedência das suas estórias vividas em terras do Moxico. Vinte e poucos anos após, representando uma nova geração da FAP, os seus relatos fazem-nos retroceder no tempo e recordar algumas das vivências, que marcaram a nossa geração. Bem Haja.
(O texto e os desenhos são extratos de um projeto de livro, da autoria de Paulo Gonçalves – Tenente-Coronel TOCART – sobre “Estórias de missão ao serviço da ONU”)
Os editores do Blog agradecem ao Sr.Ten.Coronel Paulo Gonçalves, a cedência das suas estórias vividas em terras do Moxico. Vinte e poucos anos após, representando uma nova geração da FAP, os seus relatos fazem-nos retroceder no tempo e recordar algumas das vivências, que marcaram a nossa geração. Bem Haja.
Sobre vacas e aviação, esta é a minha história "top"!
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