sexta-feira, 8 de maio de 2015

BA7 - S. JACINTO, ENTREGA DOS BREVETS AO P1/69

B.A. Nº. 7 – S. JACINTO – Jan. 1970
CURSO P1/69

Brevetamento de oficiais e Sargentos milicianos pilotos aviadores

Presidida pelo Director do Serviço de Instrução, brigadeiro Krus de Abecassis, que representava o Chefe do Estado Maior da Força Aérea, realizou-se no dia 22 de Janeiro de 1970, na Base Aérea Nº. 7, a cerimónia da entrega de “brevets” aos alunos do curso P1/69. Presentes, também, um representante do Comando Militar de Aveiro, o comandante do Regimento de Infantaria 10, o capitão do porto de Aveiro e outras individualidades. Depois do comandante da BA7, tenente-coronel piloto-aviador Ferreira Valente, ter pronunciado a alocução que abaixo transcrevemos em parte, procedeu-se à distribuição de diplomas e imposição de “brevets” aos 17 alunos, seguindo-se o desfile em continência das forças em parada, sob o comando do 2º. Comandante da Unidade, tenente-coronel piloto-aviador Viriato Marques. Por último houve voos de formação e acrobacias em aviões “T-6”.
Ten.Cor.Ferreira Valente
Após um período anormalmente longo de condições meteorológicas adversas que, associadas a outros factores (que não vem a propósito referir), concorreram para um atraso de um mês no seu processamento, conclui-se hoje, com a presente cerimónia mais um curso de pilotagem – o sexto terminado sob o meu comando.
Dez futuros oficiais milicianos pilotos aviadores e sete futuros sargentos pilotos, pela Ordem de Serviço a ler dentro de minutos, passarão a estar verdadeiramente integrados na Força Aérea em quadros similares e complementares e que, no seu todo, constituem a razão de ser e o pilar mais importante e de mais específico de toda a organização.
Não se duvida que, pelo seu número, pareça pouco significativo o contributo que estes jovens vão proporcionar. Mas, até neste aspecto, haverá de assinalar-se que, pelo menos outros tantos, com eles iniciados nesta escola, em outra unidade continuam hoje a sua preparação e se apressem a completar a sua qualificação como pilotos de aeronaves com características diferenciadas das que operam nesta base.
E então, também até pelo número, se poderá considerar relativamente importante o núcleo dos rapazes que, simultaneamente, ingressaram na Força Aérea para renovar e valorizar os seus quadros de pilotos.
Porém o que é indiscutivelmente notável e exige que cada brevetamento seja uma festa que faça jubilar os corações dos que servem a Força Aérea é que estes jovens são o escol resultante de uma dura selecção de valores e, assim, permitem-nos a quase certeza de que são bem dignos da confiança e da esperança que, elevadamente, neles depositamos.
Por pouco numerosos que sejam são todos os que, em cada época, é possível recrutar e preparar.
Tribuna de honra
Por pouco numerosos que pareçam são sempre uma confortante percentagem a juntar aos poucos que todos somos. E são a certeza consoladora de uma continuidade necessária e um saudável e desejado tonificante para quadros tão duramente desgastados e tão incompletamente preenchidos.
Exmos. Pais dos alunos deste curso: Acidentalmente, tive já o prazer de a vós me dirigir por ocasião da cerimónia do juramento de bandeira de vossos filhos que, então, ocorreu em simultaneidade com o brevetamento do curso anterior.
E, na oportunidade, afirmei-vos que a alteração introduzida por uma escola como esta na ambiência e no regime de vida de um jovem da nossa época, haveria que ser benéfica para a modelação do seu carácter e sem dúvida necessária para a sua formação militar.
Acrescentei que ao sermos aqui aparentemente duros e inflexíveis e indiscutivelmente exigentes – mas pretensamente justos – tínhamos a convicção de que, para além do dever que nos cabia, estávamos desenvolvendo um trabalho que nos dava prazer, pois não duvidávamos que contribuíamos decisivamente para a realização individual de cada um.
Finalizei com a esperança de que o tempo viesse a ser um bom conselheiro e lhes ensinasse um dia
Brig.Krus Abecassis
entregando diploma
que as vicissitudes que por aqui passaram e foram motivo de sofrimento, também elas foram válida achega para a sua formação de homens com ânimo ainda mais forte.
E junto agora, no desenvolvimento da mesma linha de pensamento, que quando se esbaterem as mais dolorosas recordações, será na saudade que lhes ficarão a perdurar tantos acontecimentos felizes que também aqui viveram; será indelével a sã camaradagem que aqui pôde nascer.
Mas a partir de hoje novo estatuto regerá os seus direitos e também os seus deveres. As novas missões que se lhes destinam recomendam novos procedimentos, mas não cessará, para os que os dirigem e comandam, a obrigação de se considerarem, de algum modo, os continuadores do que para eles tendes vindo a ser. 
Assim, ao mesmo tempo que calorosamente vos felicito porque vossos filhos, por seu mérito, alcançaram esta entrada para novas ambições, afirmo-vos que todos os que têm responsabilidades de comando na Força Aérea continuarão a esforçar-se para desvanecer em vós as inquietações, que talvez hoje sintais aumentadas, pelos que entranhadamente amais.
E que sendo eles, sem dúvida, essencialmente vossos, também, sobretudo a partir de hoje, são bem nossos e como tal lhes queremos.
E nesse querer, esse amor, materializar-se-á numa constante e nunca esmorecida preocupação em considerar sempre necessário e imprescindível o seu contributo: logo motivará uma permanente vigília ao seu procedimento, uma contínua obrigação em lhes transmitir mais conhecimento e mais experiência, uma intencional orientação de instruções e recomendações que lhes não tolham o entusiasmo juvenil, mas que lhes desenvolvam um apego ao que se não deve prematura ou inutilmente perder. 
Procuramos, na Força Aérea, ser dignos, com o nosso proceder, da vossa generosa atitude ao confiar-nos os vossos filhos.
Procuraremos amparar os seus passos, perscrutar os seus anseios, ir ao encontro dos seus sonhos e ambições que haveremos de saber temperar com o saber da nossa experiência, também ele possibilitado pelos ensinamentos que os que vieram antes de nós nos transmitiram.
Instrutor e aluno
Quaisquer que sejam as tarefas que lhes venham a ser destinadas, ajudaremos, com entusiasmo em cada dia renovado, a proporcionar-lhes condições para um cumprimento nobre do seu sagrado dever de cidadãos. E haveremos de sentir serena satisfação por um gostoso dever cumprido e um orgulho semelhante ao vosso quando, terminado o seu tempo de serviço na Força Aérea, regressarem para vós, mais completos e valorizados, os filhos que vos saberão melhor amar.
Alunos do Curso P1/69: Abstraindo do transcendente valor da cerimónia de que sois hoje o fulcro, este dia significa para vós o terminar de tantas preocupações e incertezas que preencheram um ano que será inesquecível na vossa vida.
Significa também o prémio individual e do entusiasmo e do querer de cada um de vós, o que me é agradável realçar. Por esse mérito, tanto mais saliente quanto mais difícil foi perder demonstrá-lo, o meu abraço de felicitações.
Sede bem-vindos a este lado da barreira onde os mais velhos vos esperam com amizade, revendo em vós a sua própria juventude, para tantos já distante!
Mas neste transpor deixareis para trás tão-somente um pálido prólogo do que, em muitos aspectos, havereis de viver, muito embora, daqui em diante, com a confiança em vós próprios (que asas abertas ajudam a fortalecer) e com novo estatuto de vida, mais fácil se torna adquirir a consciência das novas e maiores responsabilidades que sobre vós recairão.
Sobre os vossos ombros, mercê da especialidade e funções que vos cabem, muito cedo irão pesar duas tarefas; de vós se esperarão, em breve (e havereis de realizar) o complemento de missões agora aparentemente irrealizáveis.
Sabeis, porém, que sereis encaminhados com segurança.
Ainda não está definido o vosso destino.
Mas julgo que para alguns de vós irá caber a difícil tarefa de transmitir aos que vierem mais tarde, com os mesmos anseios com que aqui chegastes, os ensinamentos que até agora recebestes.
Para outros, mais tarde ou mais cedo, deverá caber-lhe a nobre missão de, em terras distantes, serem os continuadores de uma acção  que não sendo indicada para o nosso próprio julgamento já tem tido eco suficiente para não nos escondermos em modéstia excessiva, mas, pelo contrário, ostentarmos com orgulho o uniforme que vestimos.

Desfile das forças em parada
Como vos irá ser surpreendentemente agradável verificar que fostes capazes de ensinar a outros tantas coisas que, ainda há pouco, vos causaram inquietações, incertezas, noites mal dormidas, sensação de incapacidade!
Como olhareis também embevecidos, os alunos que um dia tereis, quando, em cerimónia igual à de hoje, vos for facultada a honra de lhes poisar asas gloriosas sobre corações a bater em comovido descompasso.
Como aprendereis ainda mais ao tentar ensinar melhor!
E àqueles a quem competir a preparação para ir servir sob céus de outro azul, sobrevoando terras onde se exige a sombra das nossas asas, então já se divisa o horizonte do dia em que sentirão uma força indefinível que impele a servir, com ânimo cada vez mais forte, a Pátria de todos nós.
Para esses, a nobreza da missão que lhes incumbirá, impõe um chamamento às mais másculas qualidades e também aos mais puros sentimentos que distinguem o homem.
Sacrifícios e renúncias e desgaste físico e mental vos irá ser continuamente pedido. E coragem e agressividade e determinação vos irá ser necessária.
Mas, tal como tantos como vós e que antes de vós, ao longo de nove duros anos de provação já demonstraram, eu sei que havereis de ser capazes de dar para além do que se vos pedir. E nesse generoso dar, nesse dar que vai ser fácil, nesse dar sem esperar retribuição, irá o mais belo e valioso contributo de cada um de vós para a certeza de que não foi inútil nem vão o sangue derramado por tantos portugueses, por todos os recantos do Mundo, na edificação e consolidação da mais estranha, mas a mais bela de todas as Pátrias!

Notas: Recolha de informação na Revista “Mais Alto” nº. 130 – Fevereiro 1970
            Compilação e arranjo de texto de:


 





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