O aumento da guerrilha no Leste de Angola foi seguido pelo aumento dos efectivos das nossas tropas (NT) naquela região. O princípio da expansão das NT para Leste foi, necessariamente, feito aos poucos. Muitas vezes improvisado. Não é com um estalar de dedos que se constroem quartéis ou outras instalações militares. As tendas que, durante algum tempo, serviram de alojamentos em Henrique de Carvalho são um bom exemplo das dificuldades iniciais. Nalguns casos também foram usados meios logísticos civis já existentes. No Luso, por exemplo, o Luso Hotel foi usado para alojar militares. Eu próprio passei lá uns tempos.
A alimentação era outro problema. Antes de ser feito o refeitório no aeródromo, a Força Aérea chegou a usar o Restaurante Pic-Nic, do Sr. Silvares Mendes (Aníbal), como messe. Assim era quando eu lá cheguei. O Sr. Mendes era uma excelente pessoa que andava sempre de calções. Ainda me lembro bem dele.
O Sr. Mendes punha-nos à vontade, e nós éramos tratados mais como filhos do que como clientes. O Sr. Mendes era atencioso e mimava-nos sempre que podia. Comíamos em mesas de quatro lugares e em cada mesa ele punha uma pequena jarra com flores frescas. Um grande erro!...
Nós, pessoal “desterrado”, com cerca de 20 anos de idade e com uma imaginação fértil, descarregávamos stress e irreverência em cima do Sr. Mendes. Éramos mauzinhos! Educados q. b. mas mauzinhos.
Os mais antigos tinham “muita experiência” e uma grande lata. Assim de repente lembro-me do Zé Feijó, do Teixeira de Sousa e do Jorge Oliveira. Com estes três por perto ninguém andava triste.
Uma coisa de que o Sr. Mendes não gostava era que lhe... comessem as flores.
A primeira vez que assisti a essa cena, fartei-me de rir. “Já provaste as amarelas?” – perguntava um de boca cheia, ainda a mastigá-las. “Ó Sr. Mendes, ainda tem destas flores cor-de-laranja?” – gritava outro, levantando na mão um caule já quase sem pétalas. Uma pândega completa.
O Sr. Mendes, desesperado pela razia que lhe fazíamos nas jarras, baixava-se junto à mesa (ficando com a cabeça à altura das nossas) e implorava que não lhe comecemos as flores. O seu pedido quase nunca era atendido mas ele nunca desistiu de alindar as mesas com as flores. No seu entender, estas davam um ar requintado à sala. E davam!
A primeira vez que assisti a essa cena, fartei-me de rir. “Já provaste as amarelas?” – perguntava um de boca cheia, ainda a mastigá-las. “Ó Sr. Mendes, ainda tem destas flores cor-de-laranja?” – gritava outro, levantando na mão um caule já quase sem pétalas. Uma pândega completa.
O Sr. Mendes, desesperado pela razia que lhe fazíamos nas jarras, baixava-se junto à mesa (ficando com a cabeça à altura das nossas) e implorava que não lhe comecemos as flores. O seu pedido quase nunca era atendido mas ele nunca desistiu de alindar as mesas com as flores. No seu entender, estas davam um ar requintado à sala. E davam!
Eu, pessoalmente, preferia as flores amarelas (embora fossem um pouco ácidas). Gostos!...
Ao fim destes anos é com muita nostalgia que relembro aqueles tempos de loucura e a grande ternura e paciência do Sr. Mendes para com aquela cambada de bárbaros devoradores de flores.
O Sr. Silvares Mendes, que já naquela altura era um homem “maduro”, já não deverá estar entre nós. Esteja ou não, eu quero dizer: “Obrigado, Senhor Mendes.”
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