sexta-feira, 10 de outubro de 2025

AVIÃO, TRIPULAÇÃO E PASSAGEIRO ESTAVAM EM BOM ESTADO


O D0-27 3342 TRIPULADO PELO PILOTO JORGE VINHAS E PELO MECÂNICO PORTOCARRERO MACEDO, ATERROU DE EMERGÊNCIA NA ZONA DO MUCUSSO. FUI CHAMADO PARA A MISSÃO DE BUSCA E SALVAMENTO, QUE CORREU PELO MELHOR.

Estive em Angola como mecânico de manutenção de material aéreo (MMA), sempre na linha da frente dos D0-27, T-6 e Austers, entre
18 de outubro de 1972 e 12 de dezembro de 1974.
Pertencia ao Aeródromo Base nº. 4, em Henrique de Carvalho (atual Saurimo), mas estava destacado permanentemente no Ar-Luso, de onde fazia destacamentos no Cazombo, Gago Coutinho, Cuíto Cuanavale, Silva Porto e apoio a operações.
No dia 27 de janeiro de 1973, a missão a N'Riquinha do DO- 27 3342, tripulado pelo alferes piloto JorgeVinhas, era retirar um elemento do Exército e, no voo de ida, levar como passageiro outro
militar. Devido ao mau tempo não conseguiram aterrar no destino.
Então, no dia 28, o objetivo era 
efetuar a missão, só que na rota surgiram nuvens com atividade elétrica e chuva. Começaram a desviar para norte, na tentativa de contornar a tempestade, só que esta parecia persegui-los. Contornaram a tempestade voando para sul/oeste, com os cuidados necessários para não entrar em território zambiano, mas a tempestade não abrandava e o combustível começou a ficar curto...
Consultado o MMA Macedo, tornou-se prioritário encontrar um terreno amplo que permitisse uma aterragem de emergência. Quando saíram do avião prepararam as armas para o que desse e viesse. Estavam sozinhos. Ligaramo rádio (o D0-27 tinha na sua "barriga" uma antena rádio IIF que permitia transmitir para toda a Angola) e chamaram de novo. A BA9 ouviu-os. O sol começou adesaparecer e a inquietação aumentou.

Busca esalvamento.
Ninguém dormiu. Passaram a noite ouvindo ao  longe a tempestade e os barulhos dos animais.
No
Ar-Luso, o comandante da esquadrilha, capitão piloto aviador Neto Portugal mandou chamar-me para me informar que na madrugada seguinte integraria a missão de busca e salvamento. 
Subimos até aos 6.000 pés (cerca de 1.830 m) em direção a N'riquinha. Olhando para o terreno, recordo o nevoeiro que cobria os vales dos rios. Pelas 8h aterrámos no destino. O tempo foi passando sem sinais do avião. Decorridas duas horas, o alferes-piloto José Carvalho, voando em AL III, dá o alerta.

Avistou o D0-27 e informou que ia aterrar junto dele.
Felizmente, tripulação e passageiro estavam "em bom estado" e o avião também. Sobrevoámos o local e, mais tranquilos, regressámos a N'riquinha.


Era preciso abastecer o avião aterrado no mato e alimentar os estômagos das almas que ali tinham pernoitado.

Por Fermelindo Rosado, publicado no CM 3/8/2025



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