quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

A MINHA PARTIDA PARA A TERRA AFRICANA


Domingo, 23 de Agosto. Faz hoje cento e cinquenta e quatro dias que parti de Lisboa. Recordo essa partida como se fosse hoje. Recordo ainda os momentos mais cruéis de uma partida.
- Os meus olhos procuravam entre a multidão sem nada verem. O momento da partida aproximava-se vertiginosamente, o coração quase saltava do peito, um calor estranho apoderou-se do meu corpo. Os ânimos estavam exaltados por todo aquele frenesim, toda a gente falava, gesticulava, porém tudo isso se confundia no meu cérebro, tudo aquilo era vazio. Estava nervoso confesso. Em parte a culpa tinha sido minha porque realmente não quis…sim, eu não quis. Ei-la finalmente, e por mais estranho que possa parecer, ela alegrou tristemente o meu coração porque a dor da despedida é sempre maior, quanto mais tempo nos demorarmos a faze-la, mas o tempo ia passando, agora ainda mais depressa, por isso tive essa triste alegria.
Pouco antes de começarem os beijos e abraços, eu havia corrido para um telefone como que enlouquecido. Disquei um número com a esperança de ser atendido, a espera torna-se angustiante, do outro lado do fio ouve-se o trim-trim de uma campainha, no entanto, ninguém atende. Torno a repetir a ligação, mais uma vez, duas vezes sem obtenção de resposta. Quando poiso o auscultador, os braços caem-me ao longo do corpo, a cabeça baixa-se… um gesto de desespero e resignação.
Caminhei ao encontro dos meus, mas nesse momento queria caminhar noutra direcção, ao encontro que não existia. É o chegado o momento culminante, o momento da despedida dos entes queridos.
Não estou só. Há gente que chora, gente que finge chorar e gente que tenta desesperadamente não chorar. O coração pula, e mais uma vez o olhar procura na multidão,.. brilho…esperança… procura em vão. Há alguém que longinquamente profere:”coitado, procura com certeza a garota e ela não veio”. Olhei instintivamente para a multidão agradecendo mudamente aquela frase.
A despedida não me comoveu até ao momento de abraçar meu pai, ele chorou, nunca o tinha visto chorar, quase não me contive, e foi com grande esforço que suportei o abraço de minha mãe. Depois… não os tornei a ver, desapareci entre os outros que iriam também para essas terras de África no mesmo avião onde eu seguiria. Entrei no avião sem olhar para trás. Sinto-o tremer e rolamos pela pista prontos a descolar. Começamos a rolar e …. rodas no ar. Foi então o último adeus. Dezoito horas depois, estava em África, Angola, terra onde me encontrarei por mais quinhentos e setenta e oito dias.



Sem comentários:

Enviar um comentário