quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

UMA HISTÓRIA SOBRE GASOLINA DE AVIÃO



Após o termino da minha comissão em Angola, fui colocado no AB1 (actual AT1), e como a minha especialidade era MMA, passei a fazer parte da manutenção dos DC-6, aviões quadrimotores, equipados com poderosos motores em estrela dupla, que funcionavam a  gasolina , salvo erro de 114 octanas, notei que quase todos os que possuíam automóvel, que não era o meu caso porque andava de autocarro, procuravam andar com uma pequena pasta, do tipo dos cobradores, na altura, e que eram da dimensão de umas latas de óleo dos travões, formato rectangular, muito úteis para transportar debaixo do braço a dita pasta, com a latinha dentro cheia de gasolina. 
Na “doca” (local onde era colocado o avião para inspecção), uma estrutura onde “ encaixavam” os 4 motores do avião, com plataformas para nós, os mecânicos podermos trabalhar à altura dos motores, e a primeira acção era lavar os motores, usando preferencialmente a gasolina do avião, porque o tetracloreto recomendado era altamente tóxico e nós evitávamos de o utilizar. 
Com esta actividade camuflava-se o gamanço de gasolina, normalmente só  os mecânicos é que deviam retirar a gasolina das torneiras de purga dos depósitos, e enquanto o avião estava na “doca” era um corrupio de “mecânicos” a tirarem gasolina, “para lavagens”, paralelamente por detrás da “doca” havia uma espécie de “armazém” de latinhas rectangulares, que eram posteriormente transportadas dentro das tais pastas de cobradores. 
Algum tempo depois, apareceu na manutenção um 1º.cabo MMA “maçarico”, que me reservo de pronunciar o nome, pertencente a uma família de fadistas da nossa praça, e coisa rara num cabo especialista (não correspondia à versão do celebre fado do cabo especialista), era possuidor de um “carocha” uma autentica bomba um 1604, que “bebia” gasolina a dar com um pau. 
Era um menino, que agora aparece de vez em quando nos ecrãs da TV e diz que as mulheres servem para levar porrada. 
Um dia estando de serviço, vem aquela personagem ter comigo perguntar qual a hora de passar ronda aos postos, respondi-lhe que passava ronda entre as 2 e as 4 da madrugada, perguntei-lhe o porquê de saber a hora da minha ronda, o qual me respondeu, que uma carrinha civil estava junto à delimitação da futura unidade do Figo Maduro (na altura ampliava-se a unidade que deu origem ao AT1), e aguardava por uma zorra com bidões de gasolina que seria rebocada até lá (de notar que cada bidon levava 200L, e ele falou no plural).
A minha resposta foi que me faltavam 6 meses para passar à disponibilidade (passei à disponibilidade no fim de Outubro de 1972), e não estava disposto a correr o risco de ir parar ao forte de Elvas, e portanto se na altura de passar ronda eu visse alguma coisa de anormal, ele e quem mais lá estivesse viriam à minha frente direito ao oficial de dia, lembrei-o que fazia a ronda com uma pistola Walter à cinta.

Orlando Coelho MMA



1 comentário:

  1. Grande Orlando Coelho, um forte abraco do Orlando Simoes

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