quinta-feira, 3 de setembro de 2020

CAÇADA NO CAMAXILO


Foi no Camaxilo, em 1974.
No AM era normal verificar-se escassez de alimentos e sentimos necessidade de ir à caça à noite. 
Constituíamos uma equipe de voluntários e saíamos com o Unimog do destacamento apetrechado com um farolim na  busca de possíveis presas.
Estas caçadas, geralmente faziam-se para norte para os lados do Congo, que ficava 
a menos de duas dezenas de quilómetros, e se apanhássemos caça antes de lá chegar, tanto melhor pois poupávamos tempo e regressávamos mais depressa ao Aeródromo.
AM42 - Camaxilo

A dada altura do percurso, focámos uns olhinhos verdes que revelaram ser de uma cabra de mato, mas o atirador não acertou no alvo à primeira e o animal fugiu.
Já o segundo animal que encandeámos tinha olhos cor de 
laranja, e logo alguém avisou que o melhor era estarmos quietos, confirmou-se depois que tinha razão.
O Especialista Silva, considerado o melhor atirador, desceu do Unimog e procurou aproximar-se o mais possível do animal para poder ter um melhor tiro. O primeiro tiro acertou-lhe mas apenas o feriu, os restantes não lhe acertou, pelo que
 o "bicho" desatou a correr a alta velocidade na direcção da luz, ou seja, do Unimog...de nós, onde nos mantínhamos sentados ! Eu era considerado o segundo melhor atirador e estava de alerta para qualquer eventualidade, o que veio a verificar-se. Quando me apercebi, que o Silva tinha esgotado as munições e a onça apesar de ferida investiu, a correr, ao nosso encontro. Comecei a disparar, mas devido à velocidade do animal e de vez em quando ela sair da zona iluminada pelo farolim, só ao décimo terceiro tiro, quando já se preparava para saltar para cima de nós a consegui atingir. Furei-a no peito, mas continuou viva, fazendo um barulho infernal. Só então o pessoal desceu do Unimog enquanto eu a tentava matar à coronhada, só que o bicho atirou-se à coronha da G3 e a mim, e vi-me obrigado a despejar o resto do carregador para acabar com o problema.
Passado o susto e alguns arranhões, já com as pulsações a voltarem ao normal pudemos verificar que se tratava de facto de uma onça.
A caçada não tinha começado bem e, embora não 
o soubessem, também não iria acabar melhor...
Ainda meio trémulos e desorientados com o susto, seguimos então caminho no Unimog e a dada altura chegámos a uma clareira... onde o veículo se enfiou numa zona pantanosa! Apenas o banco e a parte de cima ficaram à superfície. Definitivamente, aquela caçada não estava escrita nas estreIas. Alguns dos ocupantes conseguiram saltar para terreno firme, outros viram-se forçados a ficar empoleirados no Unimog atascado, mas decididamente precisávamos de ajuda. 
A única opção era uma parte do grupo seguir a pé até ao quartel para trazer reforços e resgatar o veículo, enquanto os restantes ficavam no local, armados até aos dentes não fosse o inimigo aparecer.
Orientando-nos como podíamos, eu e mais dois camaradas pusemos-nos a caminho rumo ao Camaxilo, o que a pé não era fácil encontrar. Andámos durante horas um pouco às cegas, até que decidi subir a uma árvore o que me permitiu avistar, ao longe, uma zona iluminada que me pareceu ser a do quartel. 
Era quase de manhã quando finalmente chegámos ao Camaxilo. Já toda a gente achava que ou nos tínhamos perdido, ou sido apanhados pelos guerrilheiros.
Os adversários 
haviam sido, afinal de contas, um felino enfurecido e um pântano inesperado. Com ajuda vinda do quartel da companhia do Exército, lá regressámos ao local, o Unimog foi resgatado com o poder de uma Berliet e o pessoal que lá estava ainda empoleirado pôde enfim pisar terra firme.
Caça, é que nem vê-la...era a disposição!
Mas, a nossa 
resiliência, a necessidade de comer uma refeição melhor falaram mais alto do que o desânimo e no dia seguinte repetimos a caçada, a persistência foi recompensada com uma suculenta palanca!

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3 comentários:

  1. Camaradas desculpem , mas vão aí uns comentários que não pertencem ao tema . Agradecia que os apagássem s f f . Obrigado

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  2. Lindo , belos tempos . Obrigado Camaradas . HONORAMOS PRINCIPIA .

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  3. Quanto a caçadas, fui mais feliz - Cacei de dia e de noite tendo para tal pedido aos mecânicos de material terrestre do batalhão que me arranjassem o burro do mato Unimog pequeno. E em sortidas várias, lá trazíamos um complemento para as refeições. De actos heróicos é este o resumo. Falhei uma palanca - ainda bem que tal aconteceu , mas ainda hoje a vejo correndo ao lado do unimog . caçadas sem desastres - Deus ainda estava connosco. Soube bem - não se respira mais aquele ar - desmiolado e pretensamente livre - tão arrependido estou de não ter sabido viver melhor o que me calhou em sorte -

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