O Dakota é o mais célebre avião de passageiros de sempre.
Ainda há alguns a voar na América do Sul. Tive o prazer de, em Angola, voar neles cerca de 12 anos e 10.500 horas !
Um dia, em plena guerra, (na qual estive envolvido até ao pescoço), na carreira do Norte, o Administrador veio ao campo de aviação e pediu-me:
-"Comandante temos uma mulher em perigo de vida, há três dias em trabalho de parto, tem de ser levada para o hospital de Carmona (Uige sede de província) quanto mais cedo melhor! "
-"Comandante temos uma mulher em perigo de vida, há três dias em trabalho de parto, tem de ser levada para o hospital de Carmona (Uige sede de província) quanto mais cedo melhor! "
Tínhamos de ir a Maquela (30 minutos) e voltar.
Acelaramos tudo e na volta deitamos a moça (18 anos) na bagageira da frente num colchão de espuma, da ambulância... e toca a andar, depressinha.
Coloquei o Criado de Bordo (mais tarde Comissário de Bordo) o meu compadre Ramos Queva (negro) a cuidar da moça.
A meio da viagem (1/2 hora) ouço o Queva aflito:
-senhor Comandante está a nascer! Ó Ramos, ajuda, sabes como é...tens nove filhos, que viste nascer em casa!
Elucide-se que eu era o padrinho do número nove!
-senhor Comandante está a nascer! Ó Ramos, ajuda, sabes como é...tens nove filhos, que viste nascer em casa!
Elucide-se que eu era o padrinho do número nove!
Daí a uns minutos:
-Eh, já cá está, é um menino!
Abriu a porta e anunciou aos passageiros:
-É um menino!
Recebeu uma salva de palmas.
Resperei fundo, reduzi a velocidade e dez minutos depois começamos a descer para Carmona e lá foram eles para o hospital...como convinha.
![]() |
Carmona |
Fiquei intrigado com a pressa do nascimento, mas percebi porquê.
A viagem era feita a mil pés (300 metros) de altitude por baixo das nuvens (não havia ajudas rádio) e áquela hora, o aquecimento provocava bastante turbulência.
Foram os abanões que provocaram o parto.
Passados uns tempos o Ten.Cor. Jacinto Medina, meu director, chamou-me á DTA e disse-me:
-Carvalheira, o Governador Geral soube do parto no avião e quer que eu seja o padrinho e você como testemunha!
Assim no sábado, vai á Damba como verificador de pilotos (eu era piloto chefe do Dakota) e baptiza o rapaz em meu nome porque eu vou para Lisboa hoje á noite. Já está tudo tratado e tem aqui a procuração (nesse tempo a certidão de Baptismo era a certidão de Nascimento).
Lá fomos á igreja e baptizámos o miúdo.
Ao assinar a certidão (pelo Medina) li e comecei a rir-me como um perdido.
O miúdo chamava-se, Jacinto António Dakota DTA Capulenda. Nem mais nem menos !
Regressei alegre e divertido a Luanda.
Uns dois ou três anos depois vem o administrador, acompanhdo de uma moça e pela mão um rapazinho bem parecido!
-Beija a mão ao senhor Comandante teu padrinho.
-Ó Joana, não é senhor Comandante. É senhor meu compadre!
Por engano do administrador eu é que era o padrinho (na certidão e na pia Baptismal).
Depois vim para a TAP e nunca mais os vi.
Bonita história, verdade ?
Do Comandante António Rebelo Carvalheira, que foi Piloto da FAP (F84), Comandante na DTA e na TAP
Publicado no Jornal de Famalicão em 1Jul2021
Publicado no Jornal de Famalicão em 1Jul2021