Durante a II Guerra Mundial, Portugal era uma espécie de campo de emergência para aterragem de aviões de combate em dificuldades. Os principais clientes eram os Aliados, mas os alemães também por aí apareciam de vez em quando. Na maioria dos casos tratava-se de aviões que se dirigiam ou regressavam do norte de África, onde decorriam grandes operações militares.
De acordo com as convenções em vigor, os tripulantes sobreviventes eram entregues às autoridades locais e consulares, para posterior repatriamento. Ficavam alojados temporariamente em residências particulares (pensões, por exemplo) pagas pelo Estado em povoações "discretas" especialmente escolhidas para o efeito. Elvas e Caldas da Rainha faziam parte desse grupo.
Os aviões eram "internados", ou seja, passavam a fazer parte das forças armadas do país que os recebia. Podia ser uma benção, mas às vezes era um pesadelo. Já lá iremos.
Foi assim que em finais de 1942 aterrou de emergência nas proximidades da praia de Vila do Conde um Bell P39 Airacobra da USAF, Força Aérea dos Estados Unidos. Vinha de Inglaterra e dirigia-se para o norte de África quando o motor começou a falhar, o que não era raro nestes aparelhos. Os P39 tinham o motor colocado a meio do avião, por trás do piloto, no intuito de fazer recuar o centro de gravidade. Dessa forma o avião ficava com maior agilidade em combate, só que passava a sofrer de alguns sérios problemas técnicos. Por um lado, devido à sua localização o motor recebia pouco ar de arrefecimento e tendia a aquecer, por outro, o longo veio de transmissão que fazia girar a hélice era uma fonte potencial de avarias graves.
O avião que caiu em Vila do Conde era pilotado pelo tenente Ronald Mueller, que foi rapidamente "despachado" para Elvas pelas autoridades locais. Enquanto isso acontecia, um grupo de pescadores da zona procedeu a uma "limpeza" dos objectos deixados no cockpit pelo apressado piloto. Alguns desses "souvenirs" viriam a ser comprados aos zelosos "limpadores" por um ilustre vilacondense, cuja família ainda hoje os conserva.
Em Portugal "caíram" nada menos que 19 aviões deste tipo. Foi assim formada a esquadrilha OK da Aeronáutica Militar Portuguesa, cujo comandante era o capitão Austen Goodman Solano de Almeida, com quem anos mais tarde tive a honra de trabalhar na TAP.
Devido à qualidade duvidosa dos aviões, à falta de manuais e à inexistência de sobressalentes, a esquadrilha OK viria a desaparecer em pouco tempo.
Bibliografia consultada: "Aterrem em Portugal", de Carlos Guerreiro. Editora Pedra da Lua 2008