Em Julho de 1955 a TAP recebia na fábrica da Lockheed em Burbank, California, o seu primeiro avião "a sério". Até então a companhia portuguesa só tinha usado aviões em terceira ou quarta "mão" provenientes dos excedentes de guerra. Aviões honrados, os DC3 e Skymaster, mas a pedirem reforma mesmo antes de entrarem ao serviço da companhia portuguesa.
Desta vez tudo seria diferente. Tratava-se de receber um novíssimo Lockheed L1049G Super Constellation, avião de médio e longo curso a que foi dada a matrícula CS-TLA. Seria o primeiro de seis aparelhos deste tipo que voaram para a TAP.
O "Connie", como carinhosamente era conhecido, estava equipado com quatro motores Wright Cyclone 972 TC18 DA3, com 18 cilindros e hélices de três pás, cada um deles capaz de debitar 3250 cavalos em regime de descolagem. Estes motores estavam tão "esticados" que por vezes davam problemas; havia até quem dissesse que o "Super" era o mais belo trimotor do mundo. Seriam as más línguas do costume (com algum fundamento, diga-se) mas a verdade é que era mesmo um belo avião, estética e tecnicamente falando. Não falo por experiência própria (mal tinha nascido) mas pela voz daqueles que o voaram.
Terminado o seu valioso serviço em 1967, o belo TLA foi vendido ao governo do Biafra, um estado da Nigéria que se separou do resto do país e passou por uma breve mas muito conturbada existência. O avião ficou baseado em São Tomé e participou activamente na "ponte aérea" destinada a apoiar as centenas de milhar de biafrenses que se viram cercados e sem recursos alimentares com o decorrer da guerra.
Aos comandos do "Connie" ia um português, Artur Alves Pereira, que mais tarde integraria também a mini Força Aérea do Biafra, um pequeno grupo de aviões de treino Harvard T6 "Texan" que desempenhavam missões de ataque ao solo com algum sucesso.
Aos comandos do "Connie" ia um português, Artur Alves Pereira, que mais tarde integraria também a mini Força Aérea do Biafra, um pequeno grupo de aviões de treino Harvard T6 "Texan" que desempenhavam missões de ataque ao solo com algum sucesso.
Terminada a guerra Artur Pereira entrou para a TAP e o velho "Connie" acabou por aparecer no aeroporto de Faro onde ficou estacionado e esquecido durante anos.
Até que um dia alguém se lembrou de lhe retirar o que restava de dignidade e o transformou em restaurante. Vá lá. Se tivesse sido em Bar de alterne, como aconteceu a outros, teria sido bem pior.
Como estas histórias têm sempre um final trágico, um dia surgiram uns quantos rufiões muito zangados - provavelmente clientes a quem foi servido marisco fora do prazo - e pegaram fogo àquilo tudo. Não se aproveitou nada.
Uma pena. Assim se perdeu um dos mais belos aviões que alguma vez ostentaram a bandeira portuguesa.
Excelente artigo, recordo em menino ir ver o super constelation no aeroporto pela mão do meu pai que tinha viajado para Lourenço Marques em trabalho. Deslumbrei-me e nunca esqueci, hoje com 63 anos ainda me impressiona e quase sinto a vibração dos seus motores e o cheiro a combustível. Bem haja
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