quinta-feira, 28 de agosto de 2025

A "BOLHA", UM LUGAR DE EMOÇÕES!


Assim lhe chamávamos á cabine do Alouette lll devido á sua configuração com os vários painéis de plegsiglasse, que davam a ideia de bolhas e permitiam um ângulo de visibilidade para o exterior de mais de 180 graus.
Na frente duas portas de abrir para o exterior, e duas atrás de correr.
No seu interior á frente o painel de instrumentos, e de cada lado do mesmo na base, um conjunto de pedais para o comando do rotor de cauda, seguido de três bancos equipados com cintos de segurança.

Do lado esquerdo dos dois bancos da direita os respectivos manches de passo geral, e na frente entre pernas os de passo cíclico.
Na base entre os dois bancos da direita o manipulo de travão de estacionamento.
Em cima o pequeno painel para ligação de auscultadores e outros acessórios.
Atrás dois bancos recostáveis e alojamentos para fixação das macas.
Era este o espaço onde Piloto e Mecânico cumpriram as mais diversas missões operando esta eficaz e apaixonante máquina voadora.
Aqui compartilharam momentos que deixaram para sempre uma forte ligação emocional com o ZINGARELHO .
Que sensação levantar rodas do chão qual balão de ar quente subindo um pouco á vertical com o som do silvo do Artouste lll B, iniciando depois a velocidade para a tomada de altitude voando em direcção ao objectivo.
Quando fora das zonas de guerra, desta bolha desfrutávamos de uma visão espetacular de paisagens maravilhosas que os céus de África ofereciam e na embriaguez do vôo nos deixavam deliciados.
Que emocionante uma deslocação de Nampula para Téte, e que a partir da foz do Zambeze em Quelimane voando quase sempre a meia altura por sobre o rio fazendo escala em Mutarara, e desfrutando da beleza que a visão da paisagem estonteante este grande rio Africano nos oferecia na sua caminhada para o Oceano Índico.
Recordo que foi uma deslocação com dois Helicópteros, com os Pilotos Alferes Amilcar José Godinho e Furriel Emilio Malta da Costa, e o outro Mecânico Carlos Alberto Moleiro Lopes.

Já em zona de guerra, cada voo e cada missão eram uma aventura sentindo a adrenalina do perigo iminente, principalmente em Cabo Delgado no Planalto dos Macondes onde frequentemente éramos alvejados, ouvindo o impacto da metralha perfurando o Helicóptero e tentando escapar, por vezes com graves consequências para alguns.
As evacuações e resgate dos nossos camaradas das forças terrestres nas picadas e nas matas eram de uma entrega total para que nem uma só vida se perdesse, por vezes voando nos limites e em condições muito adversas, mas ninguém era deixado para trás.
E ali naquela Bolha era forte o sentimento de Piloto e Mecânico para tudo fazerem pela salvação de tantos jovens.
Infelizmente alguns amputados e com graves mazelas, mas puderam voltar para junto das suas famílias, o que era gratificante para nós .
Tempos longínquos, mas que continuam na memória.
BEM HAJAS ALOUETTE III !
Obrigado ZINGARELHO jamais te esquecerei.

Francisco Serrano Mecânico de Helicópteros
Moçambique 71/72

quinta-feira, 14 de agosto de 2025

UMA HISTÓRIA SOBRE A OTA (Ou a “massajem” com a coronha da Mauser)


A minha incorporação foi a 3ª de 1966, comigo e muitos outros jovens da época foi incorporado um rapaz oriundo de Moçambique, o qual fez a recruta como todos os outros, e no fim desta em vez de frequentar um dos cursos de especialistas, apresentou o diploma do 7º ano liceal, e consequentemente foi para a base aérea de Tancos, a fim de frequentar o curso de oficiais milicianos da PA.

Entretanto nós vamos para os diferentes cursos de especialistas, cursos esses que duravam aproximadamente 8 meses divididos por 2 fases, que correspondiam a 2 novas incorporações. Consequentemente o curso de oficiais milicianos durava apenas pouco mais de 3 meses, e quando nós passamos para a 2ª fase do curso ao mesmo tempo começa a 2ª recruta de 1967, e aparece um aspirante, que não nem mais nem menos que o nosso antigo camarada de recruta a fim de dar instrução a uma das secções dos novos recrutas.
Devido a ter-lhe “subido à cabeça” a sua situação de oficial, começou a dar instrução de uma forma bem dura para a época e os recrutas começaram à boca pequena a protestar.

Uma noite na instrução nocturna no pinhal os recrutas da sua secção decidiram “tratar-lhe da saúde” e nem pensaram duas vezes, na escuridão do pinhal trataram de o “massajar” com as coronhas das mauseres, fazendo que o nosso herói fosse passar o resto da noite ao hospital militar.

Na nossa recruta (3ª de 1966) havia um alferes da mesma terra do nosso aspirante que foi pena não ter sido amansado da mesma forma, o nome salvo erro Bragança, que gostava de humilhar os recrutas.


Por: Orlando Dias Coelho