sexta-feira, 18 de julho de 2025
NÃO HÁ GUERRAS BOAS OU MÁS, ELAS SÃO SEMPRE ACTOS DE TERROR E SOFRIMENTO.
quinta-feira, 3 de julho de 2025
UMA HISTÓRIA DE ÁFRICA, UM MENINO CHAMADO DAKOTA
-"Comandante temos uma mulher em perigo de vida, há três dias em trabalho de parto, tem de ser levada para o hospital de Carmona (Uige sede de província) quanto mais cedo melhor! "
-senhor Comandante está a nascer! Ó Ramos, ajuda, sabes como é...tens nove filhos, que viste nascer em casa!
Elucide-se que eu era o padrinho do número nove!
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Carmona |
Publicado no Jornal de Famalicão em 1Jul2021
quinta-feira, 19 de junho de 2025
EVACUAÇÃO EM CANGAMBA
Por experiência própria tenho a relatar que, na véspera da Páscoa do ano de 1970, estava em Gago Coutinho em destacamento.
Pela tarde já avançada, recebemos um pedido de evacuação do Batalhão em Cangamba.
O Furriel Piloto Abecassis, e eu, prontamente nos pusemos no ar e lá seguimos.
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Cangamba |
Ao chegarmos a Cangamba, fomos postos ao corrente da situação. Dois feridos com uma certa gravidade, que ao invés do que nós pensávamos, não iriam para Gago Coutinho, mas sim para o Luso. Rapidamente os feridos foram acomodados em maca e lá iniciámos o vôo com destino ao Luso.
Sabíamos que o tempo era escasso e que o anoitecer é rápido. Quem andava naquelas andanças com a experiência e conhecimento do terreno, muitas vezes facilitava-se. Em parte foi o nosso caso.
Descolamos com rapidez e passado algum tempo verifiquei que não estávamos na rota certa, pois ao invés de cortamos os rios, estávamos a voar paralelamente. Foi retificada a rota e lá prosseguimos. Passados alguns minutos, dá-se aquilo que ninguém quer, os avisadores sonoros começam a dar informação que estamos sem combustível. Sem perder a noção da gravidade e com calma, pois estávamos a meio caminho, tentámos arranjar um ponto de referência e localizarmo-nos. Estavamos na nascente do rio Luanguinga. Lançamos o pedido de socorro com identificação do local e andamos às voltas para arranjar um buraco. Metemos a DO no chão, retiramos os feridos e levamo-los para a mata, tendo um dos feridos exclamado que não era Luso, pois não! Ficamos aqui hoje e seguimos amanhã, como se fosse normal. Escusado será dizer que os nervos estavam á flor da pele, pois estávamos numa área infestada de guerrilheiros.
De madrugada fui rastejando até ao DO, acionei o comando e como o alarme do combustível não tocou, ficámos com a ideia de haver alguns litros. Sabíamos que a poucos minutos havia um aquartelamento do Exército, em Cassamba, com pista.
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Cassamba |
Olhamo-nos mutuamente e decidimos avançar. Fomos buscar os feridos, metemo-los dentro do DO, com todas as queixas de dores que tinham. Pusemos o motor em marcha, olhamos para a retaguarda e tínhamos a mata a poucos metros, olhamos em frente e o cenário era idêntico, que fazemos, seja o que Deus quiser. Potência no máximo, eu a segurar o travão e a cauda elevou-se até ficar na horizontal. Larga diz o Abecassis, como saímos não sei, só sei que, passados breves minutos avistamos o aquartelamento tendo o motor parado no início da pista.
Os feridos foram prontamente assistidos. Avião abastecido, feridos novamente colocados no DO e novamente no ar para terminar a operação para a qual fomos chamados.
Moral desta história verídica passada no Leste de Angola no ano de 1970, o DO-27 é uma das minhas grandes recordações que ficará eternamente no meu coração.
quinta-feira, 5 de junho de 2025
BEAUFORT JM513 ATERROU NA PRAIA DA FOZ DO ARELHO
O mau tempo e o esgotamento do combustível terão causado a aterragem de emergência no areal na Foz do Arelho, concelho de Leiria. Nenhum dos tripulantes ficou ferido.
Os três aviadores estiveram internados em Portugal durante mais de um mês. A 29 de dezembro regressaram juntos ao Reino Unido.
Em janeiro de 1944 o canadiano Carson Layton Logan, já promovido a oficial, apresentou-se na 5ª Unidade de Treino Operacional da RAF. A 9 de março estava numa missão especial a bordo de uma corveta da marinha - a HMS Asphodel - quando o navio foi torpedeado pelo submarino alemão U-575.
Da guarnição de 97 homens apenas se salvaram cinco. Layton estava entre os desaparecidos e é recordado no Runnymede Memorial, perto de Windsor, no Reino Unido.
Apesar da documentação britânica referir que o avião tinha como destino Gibraltar, aquela base deveria ser apenas um ponto de passagem pois na parte traseira da fuselagem estava pintada a palavra “SNAKE”, um código que indicava que o destino era o sudoeste asiático e que o aparelho não podia ser desviado, retido ou requisitado para outras missões, bases ou unidades enquanto estivesse em trânsito.
O Beuafort ficou na praia, perto da água, durante vários meses porque a aterragem aconteceu numa zona onde era difícil fazer chegar viaturas, máquinas e outros equipamentos.
Durante esse tempo foi visitado e fotografado por várias pessoas. O resgate do avião, retirado aos bocados durante vários dias de trabalho, foi feito por uma equipa especializada do exército português.
João Viegas, que fez parte dessa unidade contou-me, numa entrevista realizada em 2009, que a remoção do avião foi muito trabalhosa e demorada.
Como apenas as peças essenciais - motores e alguns equipamentos mais pequenos - foram marcados para serem reaproveitados, a fuselagem e outras partes foram simplesmente cortadas ou desmanchadas.
Para transportar as diversas partes pelo areal foi construída uma carreta no local utilizando as rodas do próprio avião, como se pode ver numa das fotografias. Para atravessar uma zona com água foram requisitados localmente os serviços de uma barcaça e de barqueiros.
Data: 24-11-1943Local: Ochã - Foz do Arelho - Leiria
Força: RAF 1OADU
Avião Bristol Beaufort IA JM513
Origem-Destino Portreath (GB) → Gibraltar
Tripulação:
F/Sgt C. L. Logan Canada
F/Sgt R. Walters GB
F/Sgt CR. F. Langdale GB
quinta-feira, 22 de maio de 2025
A FAV-FORMAÇÕES AÉREAS VOLUNTÁRIAS EM ANGOLA
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António Carvalheira |
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BA9 1965 |
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No hangar do AB3-Negage |
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Nambuangongo, 5/4/1962 Acidente Auster do Aero Clube de Angola ao serviço da FAV |
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1975 restos de Auster da FAV |
Autorizado por seu filho Francisco Noriega Carvalheira
quinta-feira, 8 de maio de 2025
PRIMEIRO SALTO EM PORTUGAL DAS TROPAS PARAQUEDISTAS PORTUGUESAS
Regressados do “Curso de Espanha” em Julho de 1955, os paraquedistas portugueses, apresentados à Nação em Lisboa logo em Agosto, com grande brilho perante toda a alta hierarquia do Estado, convidados estrangeiros e o público em geral, iam agora ser postos à prova como paraquedistas.
O processo de compra dos primeiros 60 paraquedas foi célere e em 18 de Outubro de 1955, na pista da Base Aérea n.º 3, realizou-se o primeiro salto em paraquedas das Tropas Paraquedistas Portuguesas em território nacional.
Primeiros paraquedas
Paraquedista português no "Curso de Espanha" em Alcantarilla. |
- ataque de uma formação de "comandos" ao Q.G da Divisão
- idem aos órgãos de serviços.
- de aviões
- de paraquedas...»
Logo em 6 de Agosto de 1955 o General Costa Macedo, Chefe do Estado-Maior das Forças Aéreas informa que «…em 15 de Setembro estarão concentrados na B.A. 3 os 5 aviões JU-52 adaptados a transporte de paraquedistas. Dado o estado precário de reabastecimento em sobressalentes, deste tipo de material, só será possível contar com 50% de aviões prontos para voo, em períodos de emprego intensivo. Será, no entanto, possível, por um período curto, contar com a totalidade dos aviões, salvo o caso de ocorrer qualquer imprevisto. Quanto à técnica de lançamento por parte dos pilotos, considera-se ser possível prepará-los até à data prevista…»
Tancos, Outubro de 1955. Da direita, Martins Videira, George Haas, Albuquerque de Freitas e Edgar Cardoso (Comandante da BA 3) |
O capitão paraquedista americano, George Haas, explica aos paraquedistas portugueses o modo como deveriam utilizar o T-10. À esquerda Martins Videira e Albuquerque Freitas. |
Na placa da BA 3 prestes a embarcar nos JU-52 para um dos primeiros saltos em Portugal. |
Batalhão de Caçadores Paraquedistas
18 de Outubro de 1955
Resposta de Martins Videira (10MAI1979):
«…É verdade que em 18 de Outubro de 1955 houve uma sessão de saltos na BA 3, para experimentar os pára-quedas T.10.1. Foi uma sessão de saltos com pessoal;
2. Foi a primeira sessão de saltos em Portugal;
3. Saltei eu, então capitão, e se a memória me não falha, o então Ten. Soares da Cunha, Ten. Durão, Sarg. Gonçalves, creio que ainda outro elemento português, e o Ten. Haas, do Exército Americano que na altura se encontrava em Portugal. Foi este Tenente que nos deu as primeiras lições – chamemos-lhe assim – sobre o T.10. Há uma fotografia do Stick que saltou, que estará no álbum do BCP ou nos arquivos da BA 3. Eu vi a fotografia, mas não a tenho. Tenho uma em que, além de mim figura o Ten. Haas e o então Cor. Freitas (que depois foi CEM da F. Aérea) e o Cor. Edgar Cardoso que na altura comandava a BA 3»
Concluindo
Depois desta sessão inicial as dificuldades com meios aéreos, paraquedas, comunicações e zona de lançamento não abrandaram. Em 6 de Fevereiro de 1956 realizou-se o “primeiro lançamento em massa” – 50 paraquedistas – na Quinta dos Álamos na Golegã e em 14 de Março de 1956 o primeiro salto na Zona do Arripiado, ainda hoje em uso!
O Batalhão de Caçadores Paraquedistas participou realmente nas grandes manobras militares desse ano de 1956 através de lançamento em paraquedas. Nesta época o emprego operacional das tropas paraquedistas ainda não estava perfeitamente definido, a dupla dependência da Força Aérea e do Exército não facilitava os estudos, e hesitava-se entre as acções tipo “comando” e a de uma unidade de infantaria lançada em paraquedas, ambas actuando “atrás das linhas inimigas” e no contexto da guerra convencional que se temia na Europa.
Em breve o inico da Guerra do Ultramar iria clarificar as opções de emprego operacional das Tropas Paraquedistas. Seriam depois 14 anos de guerra anti-subversiva em África.
06FEV1956. Depois do primeiro "Salto em Massa" como então se designou, na Quinta dos Álamos (Golegã). |
Bibliografia
GRÃO, Luís António Martinho, HISTÓRIA DAS TROPAS PÁRA-QUEDISTAS PORTUGUESAS, BCP (1955-61), Tancos, 1994
MACHADO, Miguel Silva e CARMO, António Sucena do, TROPAS PÁRA-QUEDISTAS PORTUGUESAS, 1956-1991, 35.º Aniversário, 1.ª Edição 1991. Edição da revista “Boina Verde”. Corpo de Tropas Pára-quedistas, Lisboa, 1991
MACHADO, Miguel Silva e CARMO, António Sucena do, TROPAS PÁRA-QUEDISTAS PORTUGUESAS, 1956-1993, 2.ª Edição 1992. Edição dos autores. Lisboa, 1992
MACHADO, Miguel Silva e CARMO, António Sucena do, TROPAS PÁRA-QUEDISTAS, A HISTÓRIA DOS BOINAS VERDES PORTUGUESES, 1955-2003, Prefácio Edição de Livros e Revistas Lda., Lisboa, 2003
Agradecimentos:
Arquivo da Defesa Nacional
Arquivo Geral do Exército
Arquivo Histórico da Força Aérea
Arquivo Histórico Militar
Luís Proença
Por especial deferência de Miguel Silva Machado do Blog OPERACIONAL
quinta-feira, 24 de abril de 2025
ARTUR PIRES, METRELHADOR BOMBARDEIRO
Nessa condição fez por vezes equipa com o piloto Humberto Delgado, mais tarde director do Secretariado da Aviação Civil e responsável pelo despacho de fundação da TAP.
Três anos depois, em 1945, juntou-se ao projecto CTA (Companhia de Transportes Aéreos) de Carlos Bleck que visava a criação de uma companhia aérea portuguesa com capitais privados. Artur Pires dedicou-se de alma e coração aos Dragon Rapide e Dakota DC3 da CTA.
Desiludido, fez as malas e partiu para Angola onde durante décadas vestiu a farda da DTA, hoje TAAG.