sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

"CILINHA DO MOVIMENTO NACIONAL DE SAIAS"

Aldeia Formosa


Durante o tempo em que decorreu a guerra colonial criou-se e organizou-se no continente (dizia-se Metrópole) uma liga de solidariedade para com as tropas combatentes nos três teatros de operações (Angola, Guiné e Moçambique).
Este movimento era constituído exclusivamente por senhoras da nata da mais ilustre sociedade portuguesa, e tinha como objectivo transmitir à soldadada uma mensagem de esperança, de carinho, de ânimo, de coragem, como que de acompanhamento maternal, quer através da disponibilização de meios gratuitos de correspondência (os famosos aerogramas, alcunhados de "bate-estradas"), quer através de ofertas que iam desde cigarros a livros, revistas, discos, chocolates e outras pequenas lembranças, e até mesmo pela presença das suas dirigentes no terreno, sobretudo nas épocas festivas do Natal, Páscoa e Fim de Ano.

Chamava-se a isto o Movimento Nacional Feminino, que era presidido pela elegante e atraente esposa do doutor Luís Supico Pinto, que fora um dos ministros dos Negócios Estrangeiros do governo de Salazar, Excelentíssima Senhora Dona Cecília Supico Pinto.

Na gíria militar era conhecida por "a Cilinha do Movimento Nacional de Saias".

Estávamos em Dezembro de 1971, num povoado perdido no sul da Guiné, chamado Aldeia Formosa (para os autóctones o lugar tinha, e ainda hoje tem, o nome de Quebo), onde estava estabelecida a sede de um batalhão de caçadores apoiado por duas unidades de artilharia anti-aérea (uma das quais da responsabilidade do humilde autor destas notas) e por uma companhia de comandos nativos. Tinha esta tropa a missão de controlar a zona em defesa das populações e de, simultaneamente, patrulhar e emboscar na fronteira em dois importantes e perigosos canais de infiltração da guerrilha, conhecidos por Carreiro de Uane e Corredor de Guilége, onde quase todas as noites acontecia tiroteio do bom.

Comandava o batalhão o saudoso tenente-coronel Barros Basto, homem dos seus cento e trinta quilos bem pesados, mestre no bridge e de alcunha "o Baga-Baga", que lhe tinha sido atribuída não apenas por causa das iniciais B.B. mas sobretudo pela sua compleição física, que fazia lembrar aqueles morros enormes construídos em terra barrenta pelas térmitas salalé, a que os nativos chamam precisamente "baga-bagas".

Um belo dia todos os graduados fomos chamados à tabanca que servia de sala de operações e gabinete do comandante, para uma reunião com o Baga-Baga.

Queria o senhor dar-nos conta de que, através de uma mensagem recém recebida de Bissau, havia sido informado que brevemente Aldeia Formosa iria ser visitada por senhoras do Movimento Nacional Feminino, pelo que nos encarregava de instruir devidamente a magalada quanto à sua apresentação, correcção e delicadeza no trato durante a estadia das ilustres visitantes. Não queria, no entanto, que mercê da situação anormal que se iria viver com a presença das senhoras, fossem de alguma forma descurados os procedimentos de segurança tanto do aquartelamento como das pessoas, pelo que tudo deveria decorrer dentro da mais perfeita e rotineira normalidade.

Chegado o dia da visita é activado o dispositivo habitual de segurança à aterragem do avião. Do forno azul que é o céu do meio dia na Guiné logo se ouve o ronco do motor da DO (avião Dornier 27) que se atira sobre a pista, segue desabrida aos solavancos até parar com um grito angustiado das molas do trem de aterragem, depois volta o focinho para a zona de estacionamento e imobiliza-se, expelindo o último lamento.

Portas que se abrem e o alferes piloto que ajuda duas damas a descerem. São elas a Senhora Dona Maria Helena Monteiro de Barros Spínola acompanhada pela sorridente Cilinha, ambas carregadas de sacos contendo maços de cigarros, revistas e as lembranças habituais para distribuição.


Em impecável continência o Baga-Baga acolhe e cumprimenta as senhoras, e lá segue a comitiva, a pé, para o "cavalo de frisa", que é uma espécie de cavalete ou de cancela de madeira, tudo enrolado com arame farpado, fazendo as vezes de porta de armas do improvisado quartel.

Pelo caminho (uns 60 ou 80 metros), a presidente do Movimento Nacional de Saias dirige-se a um operacional que, em calções e tronco nu, sentado num pedregulho mal amanhado, limpa e oleia a sua G3 meio desmontada. O rapaz levanta-se, perfila-se e cumprimenta respeitosamente a senhora, dando-se origem ao seguinte diálogo:

"- Olá. Bom dia, meu jovem."
"- Bom dia, minha senhora."
"- Então pode-se saber o que é que estás a fazer?"
"- Estou a limpar a arma, minha senhora."
"- Ah. Muito bem. E olha lá, tu sabes trabalhar bem com isso?"
"- Estava bem fodido, minha senhora, se não soubesse."

Perante este desfecho de conversa, Baga-baga pune imediatamente o militar com quinze dias de prisão por indisciplina e incorrecção com as pessoas da esposa do Governador e da presidente do M.N.F..

Posteriormente o comandante-chefe, general António de Spínola, manda agravar a pena em um mês de prisão com apresentação do preso no quartel general, em Bissau, às ordens do comando militar.

Soube-se mais tarde em Aldeia Formosa que ao rapaz teria sido dada baixa ao Hospital Militar HM241 e evacuado para Lisboa para o Hospital Militar Principal da Estrela pela neuro-psiquiatria.

Não foi mau. Para aquele, pelo menos, a guerra tinha acabado bem. Outros tiveram menos sorte...

Por: José Reis do seu amigo Baptista

sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

MUNHANGO, ANGOLA, 1969


Na altura estava colocado no Luso, província do Moxico, mas resolvi passar uns dias de férias com o meu bom amigo Luis Ferraz (à direita) para o rever e conhecer melhor uma zona de guerra "a sério". Ideias loucas de juventude.
Lá encontrei também outro Alferes Miliciano (à esquerda), o Fernando Ferreira, que como oficial de engenharia andava às voltas com algumas obras no local. Outro bom amigo, gente do melhor.
Para servir de fundo à fotografia nada melhor que a "pista" improvisada onde aterravam os aviões da Força Aérea sempre que era necessário fazer abastecimentos ou evacuações. Uma pista no meio do mato onde aterrava um avião de longe a longe mas para nós era um aeroporto de luxo.
Na altura nem nos meus sonhos mais delirantes me ocorrera que um ano e picos depois estaria a começar uma longa carreira na aviação comercial. Dizem que é o Destino.
Saudades do Luis Ferraz, um dos melhores amigos que tive na vida.

Por: Comt. José Correia Guedes

sexta-feira, 22 de novembro de 2024

HISTORIETAS DA N'RIQUINHA


...sem lamechices, lá onde até o silencio murmurava...e pequenos tornados de poeira corriam ao longo da pista....

A pista era a Avenida da FAP para nós. Ali nasciam ou morriam as esperanças. Mais do que alimento esperávamos pelo «São Nord»...de oito em oito dias à segunda feira, pelo correio. Pela carta ou aerograma, da namorada, da mãe, da mulher, da madrinha de guerra.
Um dia veio um Dakota e trouxe-nos combustível de avião. Vinha em bidons de 200 litros selados e uns funis grandes com filtros. Nunca tal tinha acontecido. Passados uns dias vieram dois T6. Atestaram, creio que vinham de Henrique Carvalho, vinham armados, (ninhos de metralhadoras e de roquetes) soubemos depois que a missão era bombardear umas ilhas no Rio Cuando, o inimigo estava próximo e não sabíamos. Ficaram connosco nessa noite e saíram na manhã seguinte.
Por essa época era comandante de Noratlas o tenente piloto aviador Manuel Alvarenga de Sousa Santos, que mais tarde no pós 25 de Abril, já Brigadeiro, foi chefe de Estado Maior da Força Aérea, (desentendeu-se com Paulo Portas e demitiu-se), na mesma tripulação vinha também o primeiro sargento piloto Vieira da Silva que mais tarde chegou a comandante nos TAP e dirigente sindical dos pilotos de linha aérea, era primo de um furriel da nossa companhia, o Carlos Alberto Machado Vieira da Silva, (aquele que jogava hóquei em patins pelo Algés e Dafundo e chegou a ser internacional Júnior) e fazia-nos um jeitão quando era ele que vinha, trazia para o primo e para nós, marisco gelado comprado no dia antes em Luanda. Áh...numa das outras tripulações dos Nords, havia um rapaz meu conhecido, embora mais velho, era tenente navegador, de Olhão, o Mácara, eram dois irmãos gémeos, haviam estudado no Liceu de Faro (daí o eu conhecê-los) ambos serviam na Força Aérea mas o outro era piloto e segundo me lembro na mesma altura servia em Moçambique.
Isto durante 66 e principio de 67, a C. CAÇ. 1521 emanada dos Açores, mais propriamente de Ponta Delgada, do BII18, o pessoal era praticamente de todas as ilhas, excepto sargentos, oficiais e pessoal de transmissões que eram continentais. Nunca cheguei a compreender o porquê, porque quando fiz o CSM (curso de sargentos milicianos) em Mafra haviam muitos rapazes açorianos como instruendos, uma injustiça que talvez tivesse uma justificação....mas injustiças haviam muitas nas forças armadas. Se tiver paciência, um dia conto uma de um grande amigo meu de Faro claro, o Ludgero Gema Ramos, era para ser alferes, só lhe faltava uma cadeira do terceiro ciclo, (sétimo ano) chumbou o CSM e acabou como cabo enfermeiro em Luanda.

Por Diogo Sousa da C.CAÇ 1521 do BII 18

sexta-feira, 15 de novembro de 2024

QUANDO O HE-111 ALEMÃO ATERROU EM CASTELO BRANCO, EM 1938


A aterragem de um avião alemão, de marca Heinkel HE-111, que lutava como aliado do General Franco na Guerra Civil Espanhola, na zona de Castelo Branco, provocou estupefacção geral na população local essencialmente rural e com um grau de isolamento que não permitia conhecimento nem contacto com máquinas voadoras.
Fotos raras ilustram a aterragem em Feiteira, Castelo Branco, um acontecimento que na época equivaleria ao avistamento de um Ovni nos dias de hoje.
De acordo com o historiador espanhol Manuel González Álvarez, o aparelho fez parte do primeiro lote a chegar a Espanha, tendo pertencido à Legião Condor e mais concretamente à VB/88, de acordo com a Enciclopédia de La Aviacion Militar Española.


Existe um modelo em miniatura do mesmo avião, à qual foi acrescentada a inscrição “Castelo Branco” na fuselagem. Este avião tinha a insígnia “PEDRO 4”, e na retaguarda a fuselagem tinha uma pintura de cabelo de mulher a andar com o cão e uma garrafa de champanhe no zero no número 2504. A palavra “Castelo Branco” foi pintada no avião provavelmente pelo piloto com a ajuda da população aquando da aterragem naquela zona, como forma de agradecimento. o nome “Castelo Branco” e a numeração táctica do avião também é a mesma do avião que aterrou no distrito português.

Victor Gil em Beirões do Facebook

sexta-feira, 8 de novembro de 2024

ANGOLA, O ADEUS PORTUGUÊS

O alto-comissário português Leonel Cardoso


Declaração da Independência de Angola no Palácio do Governo, em 10/11/1975.
“Das areias de Portugal, anunciadas pelo gajeiro, ninguém presente, além dos presentes. Quão poucos! Não davam para encher dois navios de passageiros.
Foram entretanto chegando o Brigadeiro Telo, o Capitão de Mar e Guerra Gabor Patkoczi, mais alguns oficiais. E muitos jornalistas da televisão, rádio e imprensa, angolanos, portugueses e estrangeiros, convocados para ouvirem a declaração da independência de Angola.


O Alto-Comissário tinha o discurso preparado.
E proferiu-o, com inicio às 12 horas e 10 minutos, no imponente salão nobre do Palácio do Governo, rodeado de todos os seus colaboradores mais directos e de alguns membros do Governo de Transição tendo como única audiência os jornalistas ai presentes.
Após breves palavras de abertura dirigidas a Angolanos e Portugueses concentrou-se nos órgãos da comunicação social: "Dirijo-me também, por vosso intermédio, ao resto do mundo para que tome conhecimento da forma pela qual Portugal se viu na necessidade de proceder à concretização do importantíssimo acto que hoje se realiza.
Lamento sinceramente não me ser possível tomar parte em qualquer cerimónia comemorativa da hora maior na vida do Povo Angolano, dado que, fazê-lo, nas actuais circunstâncias, equivaleria da parte de Portugal a uma ingerência no sagrado direito que assiste àquele Povo de decidir o seu próprio destino."
E mais à frente. "A única recriminação que (Portugal) poderá aceitar é a ter dado provas de extrema ingenuidade política quando concordou com certas cláusulas do Acordo do Alvor. Daí em diante os acontecimentos foram progressivamente fugindo ao seu controlo, à medida que o conflito se internacionalizava e melhorava rapidamente a qualidade e aumentava a quantidade do material de guerra que entrou em Angola por todos os meios.
As cúpulas dos três Movimentos, reunidos em Nakuru, há pouco mais de quatro meses - desta vez sem a presença de Portugal - fizeram uma honesta autocrítica em que unanimemente se consideravam os únicos responsáveis pelos insucessos na execução do que acordaram no Alvor. Mas foram demasiado austeros para consigo próprios pois as culpas cabem menos aos Movimentos do que às potências que colocam nas suas mãos armas mortíferas com que o povo angolano se destrói".
Seguidamente proclamou a independência de Angola, nos seguintes termos: "Portugal nunca pôs, nem poderia pôr em causa a data histórica de 11 de Novembro, fixada para a independência de Angola, que não lhe compete outorgar, mas simplesmente declarar. Nestes termos, em nome do Presidente da República Portuguesa, proclamo solenemente - com efeito a partir das 0:00 horas do dia 11 de Novembro de 1975 - a independência de Angola e a sua plena soberania, radicada no Povo Angolano, a quem pertence decidir as formas do seu exercício."
Acrescentou ainda: "E assim, Portugal entrega Angola aos angolanos depois de quase 500 anos de presença, durante os quais se foram cimentando amizades e caldeando culturas, com ingredientes que nada poderá destruir. Os homens desapareceram mas a sua obra fica. Portugal parte sem sentimentos de culpa e sem ter que se envergonhar. Deixa um país que está na vanguarda dos estados africanos; deixa um país de que se orgulha e de que os angolanos podem orgulhar-se".
E a concluir, depois de exprimir os mais profundos e melhores votos pelo fim da luta fratricida, também pela paz, felicidade e justiça social do povo angolano e ainda pela perenidade de laços fraternos e de respeito mútuo entre os dois povos, declarou: "São estes os votos muito sinceros do último representante da soberania Portuguesa em Angola que, hoje, à meia noite, partirá sem celebrações, mas de cara levantada.

"VIVA PORTUGAL ! VIVA ANGOLA INDEPENDENTE ! "

Seguiu-se uma refeição privada, a última, na sala de jantar da residência, finda a qual houve a comovente despedida de todos os empregados ali em serviço, destacando-se o profissional competente e dedicado, de seu nome Gaspar. 
Nos jardins traseiros do Palácio havia-se concentrado um destacamento do Agrupamento Blindado do Major Moreira Dias que, ao princípio da tarde, escoltava o Alto-Comissário e todos os seus colaboradores até ao largo adjacente à entrada da Fortaleza de S. Miguel, onde se encontrava hasteada a última bandeira portuguesa.

A cerimónia do arriar da bandeira foi feita com todas as honras por uma força conjunta de Fuzileiros, Cavaleiros e Pára-quedistas, na presença do Almirante Leonel Cardoso, que tinha a seu lado o General Heitor Almendra, o Brigadeiro Telo, o Capitão de Mar e Guerra Gabor Patowski, o Coronel Pil. Av. Ferreira de Almeida, eu e o Tenente-Coronel "pára-quedista" Ramos Gonçalves.
Arriada a bandeira, às 15h30, por um marinheiro enquadrado por dois cabos, um de cavalaria e outro pára-quedista, foi de seguida depositada nas mãos do Almirante Leonel Cardoso, que a passou ao ajudante de campo.
Seguiu-se um cortejo automóvel até à Base Naval situada na ilha de Luanda. Dali saímos, às 16h15, em lanchas da Armada até ao "Niassa", onde embarcámos. A bordo, também, o Batalhão de "paras" do Ten-Cor. Ramos Gonçalves.
No "Uíge" embarcava o Agrupamento Blindado do Major Moreira Dias e a pequena Força de fuzileiros constituída pela Companhia do 1.° Tenente Mateus e pelo Destacamento do 1.° Tenente Correia Graça.

Jantámos a bordo, ouvindo o som cavo dos motores dos navios e paquetes ancorados na baía de Luanda.
Poucos minutos antes da meia noite foram levantadas as âncoras, pondo-se o conjunto dos navios em movimento para a saída da baía e, depois, rumo ao norte.
E na serenidade da noite escura angolana, quente, acolhedora, como se fora um filme, o espectáculo de luz e som que, à meia noite em ponto, irrompeu subitamente na cidade de Luanda, traduzido em miríades de rajadas de balas tracejantes, à míngua de fogo de artifício, enquanto um pouco mais a norte, junto à foz do rio Bengo, na região de Quifangondo, a escuridão era rasgada por autênticas "mangueiradas" de fogo trocadas entre a organização defensiva do MPLA apoiada por cubanos e a coluna da FNLA, integrando mercenários e soldados zairenses, que procurava, sem sucesso, chegar à capital angolana no dia da independência.”

Almirante Leonel Cardoso

quinta-feira, 24 de outubro de 2024

VILA DO CONDE E OS AVIÕES


Durante a II Guerra Mundial, Portugal era uma espécie de campo de emergência para aterragem de aviões de combate em dificuldades. Os principais clientes eram os Aliados, mas os alemães também por aí apareciam de vez em quando. Na maioria dos casos tratava-se de aviões que se dirigiam ou regressavam do norte de África, onde decorriam grandes operações militares.
De acordo com as convenções em vigor, os tripulantes sobreviventes eram entregues às autoridades locais e consulares, para posterior repatriamento. Ficavam alojados temporariamente em residências particulares (pensões, por exemplo) pagas pelo Estado em povoações "discretas" especialmente escolhidas para o efeito. Elvas e Caldas da Rainha faziam parte desse grupo.
Os aviões eram "internados", ou seja, passavam a fazer parte das forças armadas do país que os recebia. Podia ser uma benção, mas às vezes era um pesadelo. Já lá iremos.
Foi assim que em finais de 1942 aterrou de emergência nas proximidades da praia de Vila do Conde um Bell P39 Airacobra da USAF, Força Aérea dos Estados Unidos. Vinha de Inglaterra e dirigia-se para o norte de África quando o motor começou a falhar, o que não era raro nestes aparelhos. Os P39 tinham o motor colocado a meio do avião, por trás do piloto, no intuito de fazer recuar o centro de gravidade. Dessa forma o avião ficava com maior agilidade em combate, só que passava a sofrer de alguns sérios problemas técnicos. Por um lado, devido à sua localização o motor recebia pouco ar de arrefecimento e tendia a aquecer, por outro, o longo veio de transmissão que fazia girar a hélice era uma fonte potencial de avarias graves.
O avião que caiu em Vila do Conde era pilotado pelo tenente Ronald Mueller, que foi rapidamente "despachado" para Elvas pelas autoridades locais. Enquanto isso acontecia, um grupo de pescadores da zona procedeu a uma "limpeza" dos objectos deixados no cockpit pelo apressado piloto. Alguns desses "souvenirs" viriam a ser comprados aos zelosos "limpadores" por um ilustre vilacondense, cuja família ainda hoje os conserva.
Em Portugal "caíram" nada menos que 19 aviões deste tipo. Foi assim formada a esquadrilha OK da Aeronáutica Militar Portuguesa, cujo comandante era o capitão Austen Goodman Solano de Almeida, com quem anos mais tarde tive a honra de trabalhar na TAP.
Devido à qualidade duvidosa dos aviões, à falta de manuais e à inexistência de sobressalentes, a esquadrilha OK viria a desaparecer em pouco tempo.


Por: Comt. José Correia Guedes





Bibliografia consultada: "Aterrem em Portugal", de Carlos Guerreiro. Editora Pedra da Lua 2008

segunda-feira, 30 de setembro de 2024

BA3 - TANCOS, BREVETAMENTO DO PH1/70 "CORISCOS"

Na Base Aérea nº. 3 - Tancos, efetuou-se, em 2 de Março de 1971, a cerimónia de entrega de "brevets" a 16 novos pilotos de helicópteros.
Presidiu ao acto o subchefe do Estado Maior da Força Aérea, general Dias Costa. 
Presentes também o director do Serviço de Instrução, brigadeiro Diogo Neto, o 1º. e 2. comandantes do Regimento de Caçadores Para-quedistas, coronel Mário Robalo e tenente-coronel Marques da Costa, e o presidente da Câmara Municipal da Barquinha.

Ao iniciar as cerimónias, o então comandante da BA3, coronel Gomes dos Santos, pronunciou algumas palavras.
Em seguida o comandante da Esquadra de Instrução, capitão Velez Caldas, felicitou os novos pilotos, ao mesmo tempo que lhes desejava felicidades nas suas missões no Ultramar.
Por último usou da palavra o 
subchefe do Estado Maior da Força Aérea, general Dias Costa frisando ser para ele uma enorme satisfação poder presidir pela primeira vez à cerimónia de brevetamento de pilotos de helicópteros exactamente na Unidade onde tinha sido durante alguns anos comandante e onde muito aprendera. Felicitou os novos pilotos, terminando por dizer que não os exortava a cumprirem o seu dever, pois tinha a certeza de que o fariam, como era timbre da Força Aérea. Agradeceu também aos pais que souberam encorajar os filhos a prestarem o serviço militar na Força Aérea, arma verdadeiramente apaixonante.




Em seguida procedeu-se á imposição dos "brevets" ao peito dos novos pilotos, pelos seus instrutores, a que se seguiu a entrega dos diplomas pelo  subchefe do Estado Maior da Força Aérea, director do Serviço de Instrução e comandantes da BA3 e do Regimento de Caçadores Para-quedistas.

Em Revista Mais Alto

sexta-feira, 27 de setembro de 2024

"MISSÃO SAURIMO 2024 – EX-MILITARES DO AB4” - DIA DO REGRESSO



ULTIMO DIA
24ago2024
A semana passou a correr e o dia não menos.
Assim, feito o check-out na unidade hoteleira, ficamos por lá a aguardar “sinais vindos do ar”, para “marcharmos” rumo à BAS-Base Aérea de Saurimo, ex-AB4 para embarcarmos para Luanda, BA1 da FAN-Força Aérea Nacional, de Angola, ex-BA9.

Por volta das 10h00, o “passarão” voador da FAN, o IL-76TD, com os seus quatro propulsores, apareceu no ar, roncando na aproximação a pista pelo lado Norte.
Tomamos o minibus e lá fomos até à BAS, onde o referido avião estacionou, desta vez não na Placa da antiga Linha da Frente, mas sim na Placa doAeroporto Deolinda Rodrigues, e do nosso inesquecível Nord que regularmente nos visitava, assim como o Fokker da DTA.

Aguardamos os procedimentos por lá e “timidamente” visionamos a “majestosa”, o Hangar da Manutenção, e a zona dos Clubes, incluindo o dos Especialistas, hoje abandonado e em ruínas, sem coberturas e as paredes semidestruídas – já se passaram 50 anos e não se lhes deu ocupação útil, nada de ressentimentos.
Por volta das 10h45 embarcamos os oito “ex-Militares do AB4”, o Brigadeiro João Pinto e seu segurança. 
Tratando-se de um voo ao “fim de semana”, no mesmo voo, embarcaram alguns militares das Forças Armadas de Angola e muitos civis, ao todo e numa estimativa, cerca de 200 pessoas voaram rumo a Luanda.
Decorrida 01h20 de voo, mais coisa menos coisa, lá avistamos Luanda, com todo o seu esplendor de uma grande Cidade de África e no caso presente a Capital da República de Angola, com uma temperatura a rondar os 25ºC, nuvens altas, encobrindo totalmente o Sol. Sol esse que mais tarde apareceu com a dissipação das nuvens.
Concluídos os procedimentos de desembarque, rumamos para umas instalações, antigas nossas conhecidas, onde funcionava a Esquadra 92 dos Nord, hoje internamente transformada numa sala de Receção de Visitas Militares, com um minibar, onde tomámos um café e comemos uns biscoitos.
Decorrido alguns minutos, munidos de bagagem, tomamos um minibus, igual a um outro onde em Saurimo e arredores fizemos todas as nossas deslocações. Rumamos pelo Cazenga, para Sul, com destino ao Restaurante “POR DO SOL”, lá para os lados do Bairro Benfica.

No restaurante à beira Mar, com vista para a Ilha do Mossulo, por lá permanecemos até cerca das 15h00, pondo em dia a conversa sobre este Extraordinário Evento, suas peripécias e extras de alguns participantes que de onde em onde, “desapareciam” da vista do Grupo, quebrando o “protocolo de segurança” – nada de muito grave. No decorrer desse almoço, com a presença de um militar da FAN, pressuponho ou do EMFAA, o que nos acompanhou por Luanda.

Seguidamente, no referido autocarro, após troca de alguns possíveis itinerários, rumamos para o centro da cidade, dirigindo-nos pela marginal, passando pelas ex-instalações do BCP21, com destino à Restinga de Luanda a qual envolve a Bacia de Luanda. Viagem de ida e volta, avistando o Forte de São Miguel, no qual funciona o Museu Militar que pretendíamos visitar, onde está o celebre T6 – 1685, meu “companheiro” no regresso do AB4 para a BA9 em 30jun75, mas tal não foi possível por estar fechado (sábado). Assim prosseguimos o “passeio” por toda a orla da Baía de Luanda, dirigindo-nos para o lado Norte, subindo em direção ao antigo Cinema Miramar e no retorno para o Aeroporto 4 de Fevereiro, passamos em frente à Embaixada de Portugal e seu Consulado, atravessando alguns dos típicos bairros do tempo colonial que por lá mantêm a sua designação.
Chegados ao aeroporto, ficamos por lá a aguardar o chek in uma parte do grupo viajava pela TAP e outro pela TAAG, sempre até chegarmos ao “free shop”, acompanhados pelo Brigadeiro João Pinto e pelo elemento do protocolo referido. Por aí, ultrapassada a alfândega e demais seguranças aeroportuárias, despedimo-nos do NOSSO ANFITRIÃO, Brig. João Pinto, agradecendo de novo, ter-nos proporcionado esta “Histórica Missão Diplomática”, o Tempo o dirá.


Chegada a hora da primeira partida, para os elementos que viajaram pela TAP, primeiro avião a partir, 22h55, foi a vez de nos separarmos ao fim destes seis dias de convívio intenso e de muitas memórias avivadas – o meu grupo aterrou em Lisboa pelas 06h30, do dia 25 de agosto de 2024; o segundo grupo que viajou pela TAAG, chegou pouco tempo depois, rumando cada um a suas casas em localidades distintas do País desde o Norte, litoral Centro e zona metropolitana de Lisboa.

FIM DA MISSÃO SAURIMO, 2024

Por: Manuel Vieira


terça-feira, 24 de setembro de 2024

"MISSÃO SAURIMO 2024 – EX-MILITARES DO AB4” - DIA 5



5º DIA SEXTA-FEIRA 23ago24

  • VISITA À CIRCULAR DE SAURIMO
  • VISITA AO SISTEMA DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA A SAURIMO
  • “PICNIC NA LAVRA DO TI MOLA”

Hoje cumpriu-se o 5° dia da visita a Saurimo e arredores, conforme “plano estabelecido”, com um extra, almoço/picnic na Lavra do Ti Mola, uma figura carismática da Lunda o qual desbravou mata e dela transformou num local “Paradisíaco” a umas dezenas de quilómetros a norte de Saurimo na margem do Rio Kuwa.

Assim de manhã pelas 09h00 visitou-se a nova Circular externa de Saurimo, onde se localiza o novo Hospital Geral de Saurimo e novos condomínios de vivendas “Bela Vista” em construção na margem do Rio Chicapa – visualizou-se à distância a Estação Elevatória de Águas e seu Tratamento para Abastecimento à Cidade, após percorrermos a referida circular, demos a volta na margem esquerda do Rio, imediatamente a seguir à ponte. 





Voltando à Circular Externa que irá descongestionar o tráfego pesado do centro da cidade, observamos um extenso novo condomínio de vivendas em construção do lado norte da referida circular, na encosta com vista para o Vale do Rio Chicapa. Mais adiante o Novo Hospital Provincial, este já em funcionamento.

Novo condomínio em construção


Novo Hospital Geral de Saurimo - circular externa


De volta à Cidade, rumamos à Estrada de ligação para Luau, onde se encontra um moderno supermercado o “Shoprite”, onde fomos às compras, para levar para o micro "Paraíso" do Tio Mola.





O "Paraíso" do Tio Mola, situa-se a leste na Estrada N180, saindo-se a 38km após saída de Saurimo e tomando-se uma picada, com cerca de 4 a 5km, rodeada por bosque denso, até chegarmos à referida "lavra".





Picada de acesso á lavra de Ti Mola
Chegada da comitiva á lavra...ambiente descontraído

Um pequeno Paraíso na beira do Rio Kuwa, pressuponho, pois, pesquisando pelos rios de Angola, o identifico, mas nomes não há referência. 

Amigo Ti Mola e
"Comandante" João Pinto

Neste PARAÍSO, a Comitiva descontraiu, bebendo umas Cucas e Vinho, aguardando o repasto para mais tarde, confecionado pelas simpáticas colaboradoras do Ti Mola e seus rapazes desta Lavra – entretanto, como já íamos preparados por indicação do “Comandante” João Pinto, munidos de fato de banho e chinelos, fomos primeiro ver e sentir a temperatura da água, fazer um primeiro reconhecimento da secção do Rio, sendo esta de água corrente e extremamente límpida, havia areia nas margens e godos no leito principal. De imediato me aventurei e dei umas braçadas e mergulhos, tendo sido seguido por outros camaradas de aventura neste local ermo algures nas Matas que rodeiam Saurimo.

Muitas fotos tiramos e que já figuram no Álbum de Fotos do Blog, entretanto publicadas, pelo que apresento só algumas, … … … pelos comentários e post’s se comprova a descrição deste paraíso às portas de Saurimo, … … … destaco aqui o Pôr do Sol, algures no Leste de Angola em Agosto de 2024.







Além do acima indicado, só hoje pode-se observar o PÔR DO SOL na Lunda-Sul, ...  

Este último dia do Programa por Saurimo, terminou pela Lavra por volta das 18h00, já luz-fusco, de onde saímos pela picada em direção à N180 e depois rumo a Saurimo, onde chegamos por volta das 19h00 – no percurso foi visível nas Aldeias ao longo do caminho as fogueiras que as iluminavam e aqueciam os seus habitantes, …   …   … como o repasto foi abundante em toda a tarde, já não houve necessidade de jantar, pelo que regressados à unidade hoteleira, houve que fazer as malas para a viagem de regresso no dia seguinte rumo a Luanda.

Por: Manuel Vieira