quinta-feira, 30 de maio de 2024

T-6 HARVARD


Os últimos Harvard
Em 1969 foram recebidos mais 60 Harvard (42 Mk.IIA/AT-6C e 18 Mk.III/AT-6D) da Força Aérea Sul-Africana. Estes aviões foram entregues no AR/DC-Cuito-Cuanavale, destacamento do AB4, voados para lá por pilotos da SAAF e de lá voados para Luanda, com escala em Nova Lisboa por pilotos da FAP.
Nas OGMA2, em 1969
Vinham estes aviões pintados num vistoso esquema, sendo a base em alumínio com bastantes partes em "dayglo" e a parte frontal superior da fuselagem em cinzento-escuro fosco, mesmo esquema em uso na altura pelas esquadras de Instrução da SAAF. Tinham sido retiradas todas as marcas de nacionalidade tendo como identificação somente três números em ambos os lados da fuselagem traseira. Aparentemente estes números seriam os três últimos algarismos do n/s SAAF, tendo sido retirado o “7”. (informação não confirmada).
O armamento era o original da SAAF sendo:
• Duas metralhadoras Vickers .303 instaladas no bordo de ataque das asas.
Suportes para o seguinte armamento:
• 2 x 2 foguetes de 3” No.1 Mk.5.
• 2 x 2 ninhos Matra 122 com 7 foguetes SNEB de 68mm
• 2 x 2 ninhos Matra 361 com 36 foguetes SNEB de 37mm.
• 2 x 4 suportes para bombas de 20lb.
Tecnicamente, a diferença mais marcante era o funcionamento da maneta de mistura que, à semelhança de outros aviões Britânicos como o Chipmunk, empobrecia avançando a mesma. (Por este motivo o autor destas linhas quase aterrou de emergência com falha de motor perto da Barra do Cuanza, quando na aproximação a Luanda. Mas isto foi outra história…)
Apesar de todos terem sido matriculados na FAP (1501 a 1560) menos de metade destes foram efectivamente operados.
Um lote de 10 aeronaves foi enviado por via marítima para Lourenço Marques com a intenção de aí serem submetidos a IRAN sem efectivamente o terem sido. Destes, seis foram enviados para DGMFA-Alverca quando da Independência de Moçambique e quatro abandonados no DMFA3. Um lote de 25 aeronaves foi enviado directamente de Luanda, também por via marítima, para o DGMFA. Os restantes 25 aviões foram abandonados na DMFA2 quando da independência de Angola.
Os 26 aviões da serie 15 operados foram modificados nas OGMA para o padrão “Transformado”, tendo-lhes sido retirado o armamento assim como todos os dispositivos de fogo. Como particularidade mantiveram os ailerons equipados com “balance tabs” que melhoravam bastante o “roll rate” e que há muito tinham sido inibidos nos aviões das outras séries.
Os esquemas de pintura de 1960 a 1978.
No inicio dos anos 60, quando da aplicação da nova Cruz-de-Cristo, as partes amarelas e vermelhas dos aviões da EIBP foram totalmente retiradas, passando os aviões a serem totalmente na cor alumínio com a parte superior dianteira da fuselagem em preto anti-reflexão.
Os esquemas de pintura foram, no entanto, sendo alterados na seguinte forma:
BA3 – De 1968 a 1970 o Harvard Mk.III 1657 foi baseado em Tancos e utilizado para reboque de alvos. Tinha pintado o galgo, símbolo da base, em ambos os lados da fuselagem, a meio, na cor amarela. Quando o curso operacional de T-6 passou a ser ministrado em Tancos, os Harvard Mk.IV ali baseados tinham o mesmo emblema pintado sendo no entanto em preto.
BA7 – No final dos anos 60 o emblema da EIBP foi pintado no lado esquerdo da fuselagem, em frente à cabine de pilotagem. No inicio dos anos 70 e, provavelmente, inspirado no esquema de pintura dos aviões recebidos da SAAF, foram pintadas grandes partes em vermelho dayglo sendo: Carenagem do motor com a parte superior preta acrescida, deixando esta de coincidir com a faixa da fuselagem superior dianteira; parte traseira da fuselagem até à intercepção dos lemes de direcção e profundidade; pontas das asas até ao limite da matricula e até à intercepção dos ailerons.
Diversas ornamentações foram aplicadas no Ultramar extraoficialmente sendo as mais conhecidas:

BA9/AB3 - Inicialmente uma faixa vermelha foi pintada na fuselagem traseira onde, anteriormente, tinha existido a faixa na cor amarela. Com a chegada dos Harvard Mk.IV esta decoração desapareceu. Nos fins dos anos 60 todos os T-6 e Harvard do AB3 tiveram a carenagem do motor, o leme de direcção, as pontas das asas e do estabilizador horizontal pintados na cor vermelha. No lado esquerdo da fuselagem, em frente à cabine de pilotagem, foi aplicado o emblema da Esquadra Operacional, uma pantera dourada em fundo vermelho. Quando alguns aviões foram transferidos do AB3 para o AB4, estes mantiveram por algum tempo as partes vermelhas sendo retirado somente o emblema da Esquadra.
AB2 - Inicialmente alguns T-6G foram decorados com uma faixa na fuselagem traseira, o leme de direcção assim como a cobertura da antena loop em amarelo. A maioria tinha uma bonita e vistosa boca de tigre pintada na cobertura do motor. Com a chegada dos Harvard Mk.IV esta decoração desapareceu.
AB5 - Três tipos de boca de tubarão foram inicialmente pintadas na cobertura do motor sendo uma, mais comum e bem desenhada, com a boca totalmente aberta e o spinner em branco com estrias vermelhas. Noutros casos a boca era um pouco mais fechada com guelras em branco. Noutros ainda a boca esboçava simplesmente um sorriso. Estas duas ultimas decorações, pouco trabalhadas, eram de gosto discutível. Com a chegada dos Harvard Mk.IV esta decoração desapareceu.
No AB4, em 1974
A partir de 1973, com a chegada dos mísseis “Strella” (Grail) ao teatro de operações, todos os T-6 e Harvard em serviço no Ultramar, à semelhança de quase todos os outros tipos de aeronaves da FAP, foram pintados em verde-azeitona fosco anti-radiação (semelhante à cor 34102 da FS 595a) e o tamanho das marcas de nacionalidade foi substancialmente reduzido. Esta cor verde, no entanto, tinha pouca resistência ao clima tropical e, com o tempo, tinha tendência a tornar-se progressivamente num verde claro (semelhante à cor 34227).
Museu do Ar – Inicialmente os dois Harvard Mk.IV mantidos em estado de voo pelo Museu do Ar (1769 e 1774) mantiveram o ultimo esquema de pintura da FAP. Quando do Tiger Meet na BA-6 Montijo em 1976 o 1774 foi pintado com talvez o mais feliz e vistoso esquema de pintura tendo sido as partes em dayglo substituídas por amarelo/preto no padrão de tigre. Mais tarde este mesmo avião foi pintado num esquema que faz lembrar o utilizado nos anos 50, tendo no entanto a faixa amarela dianteira mais larga do que a original (com a marca vermelha de “transformado” apesar de se tratar de um Harvard original sem modificações) e Cruz-de-Cristo com dimensões que se situam entre a original e a presente.

quinta-feira, 16 de maio de 2024

NÃO SOMOS NÓS QUE ESCOLHEMOS A VIDA, É A VIDA QUE NOS ESCOLHE


"Não somos nós que escolhemos a vida, é a vida que nos escolhe"
Luso, Angola, 1969.
Era dia de São Avião no Luso, Leste de Angola, e quem pudesse ia até ao aeródromo local ver quem partia e quem chegava no "barriga de ginguba", o velho Nord Atlas da Força Aérea que fazia a ligação com Luanda. Grande programa.
O rapaz encostado à asa do T6, avião militar de treino promovido a bombardeiro, sou eu próprio, jovem Alferes Miliciano ao serviço do Exército Português.
Na altura os aviões só me interessavam enquanto ruidosas máquinas de guerra, nada mais. Nem nos meus sonhos mais delirantes alguma vez me passou pela cabeça que três anos depois estaria a caminho dos Estados Unidos para me tornar piloto profissional.
Por vezes ainda hoje custa a crer.

Por: Comandante José Correia Guedes



quinta-feira, 2 de maio de 2024

BA1 SINTRA - BREVETAMENTO DE 10 NOVOS PILOTOS DE T-37


Na Base Aérea n.º l, em Sintra, realizou-se no dia 5 de Setembro de 1972 a cerimónia do brevetamento de nove pilotos do curso básico (aviões de reacção T-37) que terminara em 31 de Agosto. 
Presidiu à cerimónia o Director do Serviço de Instrução, brigadeiro Henrique Troni, que foi recebido pelo comandante da Unidade, coronel piloto aviador Barbeitos de Sousa e pelos oficiais que ali prestam serviço. 
A iniciar a cerimónia, o coronel Barbeitos de Sousa pronunciou as seguintes palavras: 
Enquanto a razão de ser duma Força Aérea for o binómio aviões/pilotos, a cerimónia do brevetamento destes não poderá  deixar de ser a mais significativa entre todas qualquer que seja a importância numérica do contingente a brevetar. 
É à luz desta verdade que nos alegramos por ver hoje diante de nós os 10 pilotos que acabam de completar com sucesso o curso de pilotagem básica, em aviões de reacção, que começara com 16 alunos. 
Destes 10 pilotos finalistas, 4 são oficiais ao Quadro Permanente e 6 são oficiais milicianos. Todos vão receber os seus diplomas das mãos do Brigadeiro Director do Serviço de Instrução. E a 9 dos 10 (visto que 1 era já piloto brevetado) os «brevets» que bem mereceram serão impostos, pelos seus instrutores tal como se vai tornando tradição da Base Aérea n.º1.
Sobre o significado presente e futuro desta ocasião, é próprio que fatie o Comandante da Esquadrar T-37 em que se cumpriu o esforço que levou ao resultado de hoje. A mim, porém. Comandante recente desta Base, cabe pelo menos o gostoso dever de agradecer a presença, nesta singela cerimónia, do brigadeiro Director do Serviço de Instrução (ele mesmo antigo Comandante desta Unidade) bem como a de todos aqueles que hoje nos favorecem com a sua comparência. 
Ouçamos agora o capitão Silvestre. comandante da EIPB até há poucos dias
Das palavras do capitão piloto aviador Silvestre Santos arquivamos as seguintes passagens:
Esta cerimónia já faz parte integrante da vida da Base Aérea n.º l que, como Unidade de Instrução, a vê repetir-se todos os anos, e para o qual toda a unidade trabalhou em conjugação de esforços e sem desânimos.
Ela é, pois, a afirmação categórica de que a missão primária da Base Aérea n.º 1 foi integralmente cumprida.
Podeis estar certos que esta cerimónia de imposição das asas, tão cheia de significado e ao mesmo tempo tão simples e singela, perdurará para sempre nas vossas memórias como um marco importantíssimo da vossa vida.
Sois finalmente pilotos! Completastes um curso que nada fica a dever quer em dificuldade quer em conhecimentos àqueles que se fazem noutras Forças Aéreas mais evoluídas.
Podeis crer que, qualquer que seja o vosso futuro, dentro da Força Aérea ou fora dela, o curso que acabais de completar servirá sempre de base sólida para a aplicação de conhecimentos complementares que daqui em diante possais receber.
Todos os vossos instrutores têm trabalhado sempre para se manterem actualizados na técnica e nos conhecimentos, quer frequentando cursos no estrangeiro quer por estudo próprio, de modo a estarem conscientemente à altura de vou
poderem ensinar e aconselhar Foi decerto esgotante para vós ouvir «breves» intermináveis, repetir vezes sem conta diversas manobras fundamentais e executar tantos procedimentos na altura exacta; foi-vos exigida a agressividade e clareza de raciocínio indispensáveis para a nossa profissão; transmitimos tudo aquilo que achámos fundamental para iniciarem as vossas carreiras.
Não vos deslumbreis com as asas que. dentro em pouco, vos serão colocadas no peito. É a partir de hoje que tereis de as justificar pela vossa conduta no ar, no chão e também por um elevado grau, de profissionalismo.
Escolhesteis uma profissão para onde não vem quem nuer mas sim quem tem capacidade, quer física quer intelectual. Não vos iludais, contudo
, pois a época em que a  habilidade nata imperava já passou há 
muito e hoje um piloto não pode descansar à sombra do que sabe, pois corre o risco de dentro em pouco estar desactualizado. Torna-se pois imperioso, à medida, que a experiência aumenta, aumentar também e a toda a hora a nossa bagagem profissional.
Convivemos durante dez meses num elevado espírito de disciplina e, ao mesmo tempo, dentro da mais sã e sincera camaradagem. Aceitámos as vossas sugestões para que o curso se torne ainda melhor. Conhecemo-nos mutuamente; e do autodomínio dos defeitos e da valorização das virtudes resultará decerto uma Força Aérea melhor.
É para isso que todos nós estamos a trabalhar, e é aqui que vós tereis decerto quinhão importante.
Que consigais cumprir as vossas missões, para vossa realização como pilotos e oficiais e também para engrandecimento da Força Aérea, é o nosso desejo e, devo dizê-lo, não só o nosso desejo, é também a nossa convicção.


Seguiu-se a imposição das «asas» e a distribuição dos diplomas.

Revista Mais Alto 161 SET1972