Pouco mais de uma semana
havia passado desde que tinha pousado em Luanda, depois de umas 18 horas no
DC-6 vindo de Lisboa.
Estava agora em Henrique
de Carvalho, na AB 4.
Lá, encontrei um
meu camarada da recruta, o Lopes (nome fictício para salvaguarda de identidade)
que, dois dias depois, em conversa com mais outros, disseram que iam à sanzala
e fui com eles.
Depois do jantar, já
lusco fusco, saímos da base, apanhando boleia de uma viatura militar. Depois andando por um caminho de terra batida, fomos em
direção à aldeia indígena, a poucos quilómetros.
Começaram a aparecer as primeiras cubatas, casas feitas de
paus e argila, cobertas com folhas de árvores e capim, ou chapas de zinco enferrujadas.
A entrada era pequena e como porta havia panos ou esteiras, que ofereciam um
pouco de proteção do frio ou calor, conforme a altura do dia. As que tinham a
porta aberta, eram escuras no interior, vislumbrando-se às vezes uma luz
alaranjada, vinda de uma pequena fogueira ou vela.
À medida que avançávamos
para o interior da sanzala, o cheiro nauseabundo ia-se sentindo cada vez mais,
temendo que o meu jantar fosse desperdiçado.
Agora
que já fazia noite, só se apercebiam vultos a passar por nós, eu completamente
desorientado. Felizmente os outros já eram veteranos deste local e sabiam bem
aonde iam. Parámos em frente de uma cubata e o Lopes, o mais experiente e
arrojado, berrou para o interior e saiu de lá uma mulher de idade indescritível
que o saudou com “moyo”, o olá da sua língua. O Lopes perguntou pela jovem que
normalmente atendia a freguesia de militares na sua cama e a mulher, sua mãe
talvez, disse que não estava ali nesse momento. Nunca vira o Lopes tão furioso.
Talvez porque me queria impressionar com os seus ares de homem que manda, ou por
lá que fosse, começou aos gritos a dizer à mulher que fosse buscar a puta que
ele conhecia pois tinha aqui clientes à espera. Claro que nesta altura, o Lopes
já havia emborcado uma série de cervejas no bar e mais umas quantas que
tínhamos trazido para o passeio.
Como dali não levávamos nada, prosseguimos para outras palhotas mas, infelizmente para ele, felizmente para mim, não houve mais ação na cama para ninguém e voltamos à base.