Para a primeira daquelas províncias, defendia a instalação de uma Base Aérea na região central "já fixada em Luanda e que enquadrasse 6/8 aviões Noratlas e 6/8
PV-2 (...), um aeródromo-base na região do Congo, já fixado em Negage, que enquadrasse 6/8 aviões Broussard e 6/8 aviões T-6 e um aeródromo-base na região da Lunda que enquadrasse 6/8 aviões Broussard e 6/8 aviões T-6".
Esta importante nota pedia ao EMFA a elaboração de um memorando em que "...se sintetizasse a posição definitiva da FAP no que respeita aos meios aéreos a instalar em África". Tal memorando ficava dependente do relatório a apresentar pela missão que se deslocara a França para estudar a aquisição de aviões Noratlas, Broussard e T-6 e respectivo armamento.
A 21 de Setembro, os tenentes-coronéis Lopes Magro - Chefe do Estado Maior da 2ª. RA e Soares de Moura futuro comandante do AB3, no Negage embarcam para Luanda para supervisionar a instalação do Comando e a organização de tropas e serviços inerentes.
Finalmente, a 3 de Novembro apresenta-se em Luanda o brigadeiro Pinto de Resende para formalizar a constituição da Região.
As duas primeiras unidades - a BA9 de Luanda e o AB3 do Negage - existem apenas no papel, embora os seus comandantes já se encontrem na província. A Base Aérea nº.9 - comandada pelo tenente-coronel Pereira Vaz - utilizaria as instalações de recurso facilitadas pela companhia aérea DTA no aeroporto Craveiro Lopes, em Luanda, enquanto aguardava a construção do hangar e a montagem dos quatro primeiros Auster anteriormente embarcados para Angola.
Nas semanas que antecederam o embarque do indigitado comandante da 2ª. RA, o CEMFA, general João Albuquerque de Freitas, ordenava à BA6 o aprontamento de oito bimotores PV-2 "Harpoon" para deslocação urgente e secretíssima para a BA9, no dia 17 de Novembro, desconhecendo que a missão americana do "Military Advisory Assistance Group" (MMG) estava a par das intenções do Governo português.
A 21 de Outubro, o almirante Wallis Petersen - chefe do MMG em Lisboa notifica o SSEA, mencionando que a deslocação dos "Harpoon" recebidos ao abrigo daqueles acordos carece de autorização formal dos EUA, uma vez que o material, tecnicamente, não pertence a Portugal, tendo sido meramente cedido à FAP para utilização no âmbito dos protocolos NATO.
A 7 de Novembro, Kaúlza de Arriaga envia uma nota ao ministro da Defesa Nacional, defendendo ser pouco provável que os EUA exerçam represálias, aconselhando a partida na data anteriormente fixada, antes da chegada do embaixador americano a Lisboa que deveria verificar-se apenas a 21 de Novembro. Face aos protestos de Albuquerque de Freitas, as autoridades militares americanas contemporizam e aceitam a justificação de que se estaria apenas perante mais um exercício em Angola e Moçambique e não de um deslocamento permanente dos oito PV-2 .
Após duas semanas de intensos preparativos e depois de uma espera vã pela melhoria das condições climatéricas, na madrugada chuvosa de 18 de Novembro de 1960, o major António da Silva Cardoso - comandante da Esquadra 61, recentemente equipada com P2V-S "Neptune" - descola da pista da BA6 aos comandos do PV-2 "4607" para aquela que seria a sua "missão mais difícil", descrita em grande pormenor no livro "Angola Anatomia de uma Tragédia".
A partir de 24 de Novembro, sete dos oito "Harpoon" já se encontram em Luanda, onde se juntaram aos primeiros Noratlas adquiridos à companhia francesa UAT para equipar a futura Esquadra 92.
OS PV·2 EM LUANDA
Com a chegada dos "Harpoon" e do primeiro núcleo de pessoal navegante colocado na 2ª. RA para a constituição da Esquadra 91, começava a tomar forma o Grupo Operacional 901 cujo comando será confiado ao tenente-coronel Diogo Neto, responsável pelo treino na BA2 do pessoal que posteriormente transportaria os Noratlas para Luanda.
Após um curto período de descanso, os "Harpoon" iniciam os voos de familiarização na região a norte de Luanda e efectuam algumas acções de reconhecimento e patrulhamento marítimo em busca de embarcações suspeitas, eventualmente envolvidas no desembarque de armas para as facções rebeldes. Estas missões, efectuadas a pedido do Comando Geral das FA em Angola, não resultaram em qualquer tipo de intervenção ofensiva e, pouco depois, o major Silva Cardoso regressava à Base do Montijo ao comando dos P2V-S "Neptune", deixando o capitão Borges Ervedosa a comandar a Esquadra .
As obras de ampliação da pista e de construção das infra-estruturas militares da Base, em Luanda, prosseguem a bom ritmo, ao contrário do que sucede com a construção do AB3 e das pistas de recurso no Congo, para desespero do brigadeiro Resende.
No princípio de Dezembro de 1960 existe pessoal em número suficiente para constituir três tripulações de "Harpoon", não permitindo, porém, mais do que duas saídas por dia.
A degradação da situação humanitária no antigo Congo Belga leva, entretanto,a FAP a enviar os Noratlas e os PV-2 em missões de evacuação e transporte de víveres para as populações europeias. Ao longo do mês, os aviões da Esquadra 91 executaram missões de busca e salvamento a um barco de pesca, desaparecido o norte de Luanda, e efectuaram várias saídas para reconhecimento marítimo na costa angolana. De 4 a 11 de Dezembro, o brigadeiro Pinto de Resende deslocou-se a Lourenço Marques para a reunião do Conselho Superior da Aeronáutica onde o Comandante-Chefe de Moçambique, general Pereira Nascimento, expressou a sua preocupação pelo actividade de submarinos nas águas da província e solicitou a intervenção dos meios aéreos baseados em Luanda.