Em 1968, o Exército Português mandou um miúdo de 22 anos para o Leste de Angola chefiar um posto de escuta de transmissões. Alferes Miliciano Guedes, ao vosso serviço.
O objectivo era monitorar as redes telegráficas dos correios do Congo e da Zâmbia, os países vizinhos onde estavam instalados os centros de decisão política e os campos de treino do MPLA e UNITA.
Tinha comigo dois sargentos e uma dúzia de cabos milicianos, todos especialmente treinados para decifrar comunicações em código Morse. Claro que por vezes também me sentava numa "posição", o que me permitia manter um bom grau de proficiência que mais tarde se revelaria bastante útil nos aviões.
O ambiente era muito bom. Éramos um grupo de amigos a trabalhar numa unidade "ultra secreta" que sabiam muito bem distinguir "o conhaque do trabalho".
Assim, quando interceptávamos uma mensagem de interesse militar, sabíamos que a tínhamos de enviar imediatamente para o Quartel General, em Luanda, para ser analisada e receber o destino mais conveniente.
O mais divertido, porém, era quando interceptávamos mensagens de carácter privado de alguns dos nossos "vigiados". A maioria tinha a ver com casos amorosos fora do casamento. Às vezes até nos apetecia contar as novidades às respectivas "legítimas" só para lançar a confusão, mas na altura a contra informação ainda não tinha sido inventada.
Além do mais, havia razões "éticas" próprias do nosso género: um homem nunca denuncia as infidelidades de outro homem mesmo que seja em cenário de guerra.
É que há princípios, ora.
Por: Comandante
José Correia Guedes (Aviador)
Nesse tempo os miúdos sabiam guardar segredo do serviço de Estado. Agora a segurança está entregue a alguém que não tem competência para tal.
ResponderEliminarTambém fui "espião", mas no Agrupamento de Transmissões, em Bissau, escutando as redes do senegal/Dakar e Guiné/Conakry e também recebiamos muitas mensagens do género "le capoural Candé a né un bebé". Claro que parecia uma mensagem privada, mas os criptos descobriram que se tratava de um código de ataque a um aquartelamento português, portanto, não eram mensagens assim tão inofensivas como isso. Cumprimentos.
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