O F-84 Thunderjet foi um caça diurno, propulsionado por um único turbojato, produzido pela empresa norte-americana Republic Aviation Corporation.
Projetado durante a fase final da Segunda Guerra Mundial, o Thunderjet, que constituiu, conjuntamente com o seu contemporâneo F-80 Shooting Star, a primeira geração de caças a jato de produção norte-americana, voou pela primeira vez em 1946, mas apenas em 1949, com o modelo F-84D, foi considerado totalmente operacional, tendo atingido a plena maturidade com a sua versão F-84G em 1951.
As limitações das impostas em combate aéreo pelas suas asas retas conduziram ao desenvolvimento de uma versão de asas em flecha o F-84F Thunderstreak do qual surgiria uma versão destinada ao foto-reconhecimento o RF-84F Thunderflash. As versões de asas retas foram largamente usadas na Guerra da Coreia como caças bombardeiros, mas as de asas em flecha não chegaram a tempo de serem implementadas nesse teatro. Apesar disso, foram amplamente produzidas para a USAF e países aliados dos EUA, mantendo-se em serviço em alguns até 1974.
HISTÓRIA
Em 1944, a Republic Aviation começou a trabalhar no projeto "AP-23", pretendendo desenvolver um sucessor para o seu bem sucedido caça P-47 Thunderbolt. Alexander Kartveli liderava a equipa de projeto da aeronave que deveria ser alimentada pelo primeiro turbojato Norte Americano de fluxo axial, o General Electric (GE) TG-180. O projeto preliminar foi aprovado pela USAAF que em novembro de 1945 contratou a Republic Aviation para a construção de três protótipos e uma estrutura para testes estáticos, sob a designação de XP-84. O primeiro XP-84 Thunderjet, como fora denominado, realizou o seu voo inaugural em fevereiro de 1946 na Edwards Air Force Base, na Califórnia.
Os protótipos XP-84 Thunderjet
Embora Kartveli tenha considerado adaptar a fuselagem do P-47 à propulsão jato, a ideia provou ser impraticável, e por isso o XP-84 era um projeto completamente novo que em nada se assemelhava ao Thunderbolt. O aspeto do Thunderjet era basicamente o de um “barril esticado", com uma entrada de ar no nariz, asas retas baixas, uma empenagem convencional, uma canópia de bolha deslizante e trem de aterragem triciclo.
Protótipo XP-84 |
O segundo protótipo voou em agosto de 1946, e em setembro de 1946, fixou o recorde de velocidade nos Estados Unidos de 983 km/h (internacionalmente só abaixo do britânico Gloster Meteor F.4 que atingira os 992 km/h). Este registo não duraria muito tempo devido à rápida evolução doa aviões durante este período.
Várias deficiências, descobertas durante os testes de voo do protótipo inicial conduziram a uma considerável revisão no projeto do terceiro, que surgiu como XP-84A. As alterações aumentaram o peso da aeronave, que por isso foi equipada com um motor turbojato Allison J35-A-15 com 17,8 kN de empuxo, embora o GE se mantivesse como alternativa caso houvesse problemas com o fornecimento de motores Allison (a disponibilidade de motores provaria ser uma questão problemático no programa de desenvolvimento do Thunderjet).
Mesmo antes do voo do primeiro protótipo, em janeiro de 1945, a USAAF apresentara à Republic uma encomenda de 25 aeronaves de pré-produção YP-84A para avaliação em serviço e mais 75 aeronaves de produção P-84B (a encomenda foi posteriormente alterada para 15 YP-84A e 85 P-84B).
F-84B |
Os P-84B, foram equipados com motor de Allison J35-A-15C, armado com metralhadoras Browning M3 com maior cadencia de tiro, um assento de ejeção, suportes retráteis nas asas para oito foguetes HVAR (High Velocity Air Rockets) de 12,7 cm e um suporte retrátil perto da raiz de cada asa para uma bomba de, até 225kg, ou outra carga bélica comparável. Os seriam posteriormente convertidos para este padrão.
Os primeiros P-84B, integraram o 14º Grupo de caças da a partir do verão de 1947, mais ou menos pela altura em que a USAAC se tornou na USAF, que em fevereiro de 1948 dispunha já no seu efetivo de 226 P-84B, entretanto redesignados como F-84B devido à alteração das nomenclaturas da USAF.
F-84C |
Em maio de 1948 começara a sair da linha de produção a versão F-84C, similar à versão anterior mas com o sistema elétrico revisto e um motor J35-A-13C, mais confiável. Porém as 191 aeronaves produzidas continuaram a ser consideradas pouco aptas para combate (os F-84B e F-84C passariam até 1954 para a Air National Guard (ANG) que os utilizou na instrução, e 80 iriam para a US Navy para serem convertidos em drones alvo (F-84KX).
F-84D |
Os 154 F-84D produzidos foram entregues entre novembro de 1948 a abril de 1949, sendo tolerados pela USAF, que esperava que a versão seguinte o F-84E, tornasse finalmente o Thunderjet totalmente apto para combate.
O F-84E, seria otimizado para a função de caça-bombardeiro. A fuselagem seria alongada em 30 centímetros fornecendo um cockpit mais espaçoso (um problema nas versões anteriores) , às asas mais fortes e tanques da ponta das asas melhorados, seria adicionada, a capacidade para transporte de tanques de combustível nos suportes para bombas, provisão para JATO (jet-assisted take-off), que permitia descolagem com cargas maiores. O sistema de mira era composto por um radar de tiro Sperry AN/APG-30 acoplado a um sistema de telemetria A-1CM (inicialmente A-1B) ligado às metralhadoras do avião. Manteve o motor J35-A-17D do F-84D, com o qual podia transportar uma carga bélica externa de 2040 kg.
F-84E, com dois foguetes ar-terra Tiny Tim |
Na Guerra da Coreia, o F-84E demonstrou as limitações impostas pelas suas asas retas no combate aéreo, que o impossibilitavam de ombrear em agilidade e potência os mais recentes caças de asas em flecha, North American F-86 Sabre, e o Russo Mikoyan-Gurevich MiG-15.
Consequentemente, foi relegado para as funções de caça-bombardeiro primário, e apoio próximo, para as quais mostrava excelentes capacidades (até final da guerra realizaria aproximadamente 86 mil missões com um crédito de 60% de sucesso entre os alvos terrestres atacados).
A partir de 1949 a Republic começara a projetar uma versão do F-84 com asas enflechadas com o objetivo de aproximar o desempenho do Thunderjet ao do F-86 Sabre, mas também melhorar as suas capacidades de ataque terrestre.
Porém o desenvolvimento do F-84F fora manifestamente mais demorado que o previsto e por isso em novembro de 1950 o Tactical Air Command (TAC) solicitou o desenvolvimento de uma versão interina do F-84 Thunderjet capaz de transportar armas nucleares táticas. A variante desenvolvida foi o F-84G, que seria produzida até que o F-84F Thunderstreak entrasse em produção. Porém o F-84G continuaria em produção até julho de 1953 (final da Guerra da Coreia), tornando-se a versão mais produzida do Thunderjet, com 3025 aeronaves.
F-84G |
O F-84G poderia transportar até 1.815 kg de carga bélica e foi a primeira aeronave da USAF apta para transportar e lançar armas nucleares táticas, no caso a bomba nuclear Mark 7 Thor de 545 kg de 7 a 61 quilotoneladas, usando o sistema de apoio ao bombardeamento a baixas altitudes (LABS - Low Altitude Bombing System), baseado no radar de tiro Sperry AN/APG-30.
Do total de F-84G produzidos 1089 foram para a USAF, SAC (Strategic Air Command) e TAC (Tactical Air Command). Os da USAF seguiram para a Coreia a partir de 1952, e até que as tréguas puseram fim aos combates em julho de 1953, os F-84 realizaram mais de 86000 saídas durantes as quais largaram cerca de dez mil toneladas de bombas e milhares de foguetes, com perca de 335 aeronaves a maior parte vitima de fogo antiaéreo.
Os restantes 1936 F-84G foram fornecidos aos aliados dos EUA ao abrigo dos MDAP, nomeadamente Bélgica, Dinamarca, França, Itália, Holanda, Noruega, Portugal, Turquia e Republica da China (Taiwan) e a países não alinhados como o Irão, Tailândia, e Jugoslávia. Portugal seria o último país a abater os seus F-84G ao serviço operacional da sua força aérea, em 1976, depois de os utilizar de forma intensa nas guerras da independência das suas colónias em Africa.
Nos EUA, o F-84G foi abatido ao efectivo do SAC em 1956, mantendo-se por mais uns anos na USAF e TAC, mas no final da década tinham já sido largamente substituídos pelos F-84F Thunderstreak.
Evolução para o F-84F ThunderstreakYF-84F, prototipo na sua configuração original (YF-96A) |
Por esta altura, os fundos da USAF para o desenvolvimento de novas aeronaves eram bastante limitados, e pensava-se que era possível desenvolver uma aeronave de elevado desempenho usando cerca de 60 por cento dos componentes do Thunderjet reduzindo assim os custos de desenvolvimento.
A construção do único protótipo sancionado pela USAF inicialmente designada por XF-96A devido às extensas alterações relativamente à aeronave de origem, tinha como base a fuselagem do último F-84E (49-2430) de produção. As asas foram inteiramente novas com um angulo de enflechamento de 38,5 graus e um diedro negativo de 3,5 graus. A empenagem foi também enflechada e o motor adotado foi um Allison J35-A-25 capaz de fornecer 23,58 kN de empuxo. A aeronave modificada realizou o voo inaugural em junho de 1950 demonstrando um desempenho prometedor ao atingir uma velocidade de 1115 Km/h a baixa altitude.
F-84F Thunderstreak |
No entanto apesar do Thunderstreak ter começado como um derivado do Thunderjet, no final os dois projetos definiram aeronaves substancialmente diferentes. Para além das asas enflechadas, a maior fuselagem com uma tomada de ar para o motor de maiores dimensões o Thunderstreak diferiu do Thunderjet em muitos outros aspetos. Possuía uma canópia de bolha que abria para trás em vez do sistema deslizante do antecessor, um para-brisas com blindagem frontal, dois travões aerodinâmicos laterais perfurados na fuselagem traseira substituíram o único existente na barriga do Thunderjet, à fuselagem foi adicionada uma espinha dorsal como prolongamento do estabilizador vertical e os sistemas de controlo de voo passaram a ser acionados hidraulicamente (Power-boosted flight control systems)
F-84F Thunderstreak, FA Belga |
O armamento do F-84F, e seu posicionamento era o mesmo do F-84E, seis metralhadoras Browning M3 (quatro no nariz, uma na raiz de cada asa), mas apresentava quatro suportes nas asas com uma capacidade total para 2720 kg.
O Thunderstreak não podia ser equipado com tanques de ponta de asa, mas cada um dos suportes internos podiam transportar um tanque externo de 1705 litros de combustível. Tal como o F-84G, poderia transportar uma arma nuclear tática, e lança-la com recurso ao sistema LABS.
Os Thunderstreak de produção mas tardia passaram a ter as superfícies horizontais da empenagem totalmente moveis em substituição do estabilizadores fixos e lemes de profundidade, numa forma de eliminar a sua tendência para cabrar a alta velocidade. No entanto, haveria sempre limitações nas manobras que poderiam ser realizadas com o F-84F, embora na maturidade, tenha sido considerado um avião resistente e confiável.
Durante o período de produção seriam construídos dois protótipos YF-84J, com os quais se pretendeu adaptar a aeronave aos mais potentes motores XJ73-GE-5 e XJ73-GE-7 de 38.9 kN e 39.7 kN de empuxo, respetivamente, como forma de salvaguarda dos problemas com os J65, que acabariam por ser resolvidos. Estas aeronaves tinham fuselagens mais longas e para acomodar os motores maiores e apresentavam uma distintiva bolha acima da entrada de ar do nariz (semelhante à presente no F-86 Sabre), supostamente para acomodar o radar de tiro.
F-84F Thunderstreak |
Os restantes 1301 Thunderstreak, foram exportados para países aliados dos EUA ao abrigo de programas de assistência militar (MAP), entre os quais a França, que os utilizou para ataques contra o Egito a partir de bases em Chipre durante a crise do Suez em 1956, Alemanha, Grécia, Itália, Holanda e Turquia (um F-84F turco seria o único a obter uma vitória em combate aéreo, um Ilyushin Il-28 Beagle iraquiano que invadira o espaço aéreo turco em 16 August 1962).
Satisfeita por ter obtido o satisfatório F-84F Thunderstreak a USAF decidiu utiliza-lo como aeronave de reconhecimento em substituição do envelhecido Lockheed RF-80 Shooting Star. Como a função requeria um nariz solido para alojar o equipamento de reconhecimento seria necessário implementar modificações significativas na fuselagem frontal da aeronave.
RF-84F Thunderflash |
O nariz acomodava seis câmaras uma para a frente, uma vertical, e duas de cada lado, os suportes nas asas foram mantidos para foguetes sinalizadores ou tanques externos de combustível, e, em produção, foi adicionada um spoiler à parte superior de cada asa para aumentar a taxa de rotação. As aeronaves de produção adotaram um motor Wright J65-W-7 com 34,7 kN de empuxo.
Até janeiro de 1958 foram produzidos 715 RF-84F Thunderflash, a maioria dos quais para o SAC e TAC da USAF e cerca de 386 tenham sido exportados para países aliados dos EUA. Permaneceram ao serviço da USAF até à década de 1960 e até à década seguinte nos países europeus.
Protótipos e conceitos experimentais, XP-91 Thunderceptor, XF-84H Thunderscreech, e RF-84K Thunderflash
Os dois protótipos XF-91, com diferentes configurações |
Também a asa tinha uma configuração muito incomum. Tinha um enflechamento de 35 graus, mais larga e mais espessa na ponta do que na raiz (a ideia era que esta configuração poderia proporcionar boa movimentação a baixa velocidade), podia ser girada para obter um ângulo de ataque maior nas descolagens e aterragens, e tinha slats na ponta para reduzir a velocidade de aterragem. Os conjuntos de trem de aterragem principais, com rodas em tandem, não se encaixam na asa interna, mas retraíam para a asa externa (mais espessa). O armamento previsto eram quatro canhões de 20 milímetros, mas que nunca foram realmente instalados, pois o projeto seria abandonado a favor do que viria a ser o Convair F-102 Delta Dagger.
XF-84H Thunderscreech |
XF-84H em voo |
Ao contrário das hélices convencionais que giram a velocidades subsónicas, as pás da hélice do XF-84H giravam a velocidades supersónicas produzindo um contínuo estrondo sónico, e uma onda de choque capaz de derrubar um homem a uma centena de metros de distância.
Os protótipos voaram um total de 12 voos de teste em Edwards, acumulando apenas 6 horas e 40 minutos de tempo de voo. A aeronave era tão difícil e desagradável de voar que um dos pilotos da Republic (Lin Hendrix) se recusou a voar nela uma segunda vez, e a própria de Edwards AFB viu a sua atividade severamente afetada durante os testes recebendo também inúmeras queixas.
EF-84D do Projecto Tip-Tow acoplados pelas asas ao EB-29A |
Embora o Guinness Book of Records tenha registrado o XF-84H como o avião a hélice mais rápido já construído, como tendo atingido uma velocidade máxima de 1.003 km/h, durante os ensaios, esta alegação é inconsistente com os dados do Museu Nacional da Força Aérea dos Estados Unidos, que lhe atribui uma velocidade máxima de 840 km/h, tornando-o o mais rápido avião monomotor a hélice até 1989, quando o Rare Bear, um Grumman F8F Bearcat altamente modificado atingiu 850 km/h.
Maior sucesso parece ter tido o projeto FICON (Fighter Conveyor) conduzido pela USAF (na sequência do fracasso do programa Tip-Tow) na primeira metade da década de 1950, e que envolvia bombardeiros Convair B-36 Peacemaker modificados (GRB-36D) aeronaves de reconhecimento RF-84K, Thunderflash modificados para acoplarem na baía de bombas do GRB-36D. O objetivo primário do projeto era alargar o alcance dos voos de reconhecimento, juntando ao raio de ação dos B-36 as capacidades de reconhecimento do Thunderflash. O GRB-36D transportava o RF-84K até as proximidades do objetivo, que nessa altura se desconectava do avião-mãe, executava o seu voo de reconhecimento sobre o objetivo e regressava, acoplando de novo ao Peacemaker para regressarem à base. O sucesso dos testes conduziu à conversão de dez GRB-36D e 25 RF-84K, operaram ainda que e forma limitada entre 1955 e 1956, para o SAC (Strategic Air Command).
RF-84K num teste de lançamento de um Convair GRB-36, no ambito do programa FICON |
Embora o conceito FICON fosse taticamente sonante, os voos operacionais demonstraram que a sua implementação operacional era extremamente difícil. As manobras de acoplagem e desacoplagem do Thunderflash eram um desafio só ao alcance de experientes pilotos e sob condições ideais. Em combate ou em condições climáticas adversas ou por pilotos menos experientes, as manobras revelaram-se difíceis e vários RF-84K foram danificados ao tentá-las. Além disso, acoplado ao bombardeiros o RF-84K com tanques externos de 1700 litros, encontrava-se perigosamente perto do solo durante a descolagem e aterragem, o que aumentava os riscos de acidentes. Todas estas limitações e o advento do Lockheed U-2 conduziram ao cancelamento do programa em 1956.
EM PORTUGAL
No total, até 1958 a FAP recebeu 125 F-84G Thunderjet, embora seja possível terem sido recebidos mais alguns, que não se tornaram operacionais nem receberam matrículas, servindo para fornecimento de peças sobressalentes.
O terceiro aniversário da FAP foi marcado por um lamentável acidente, talvez o maior (em numero de aeronaves envolvidas) acidente com aviões militares da história. Em 1 de Julho de 1955 oito F-84G, de uma formação de 12 aeronaves que tinham como missão sobrevoar algumas cidades durante as comemorações do terceiro aniversário da Força Aérea como ramo independente, colidiram com a Serra de Carvalho, em Vila Nova de Poiares, perto de Coimbra, em condições meteorológicas desfavoráveis, vitimando os respetivos pilotos.
Com o início das ações armadas em Angola, foi enviado para Luanda, por via marítima, um destacamento de F-84G em 25 de julho de 1961, constituindo a Esquadra 93, a operar na Base Aérea Nº 9, sob comando do então major Costa Gomes. Após a montagem no destino iniciaram os voos a partir de 19 de agosto do mesmo ano operando até 1973. Por um breve período alguns dos F-84G, da Esquadra 93, foram estacionados na Base Aérea Nº 10 na Beira, em Moçambique, com a finalidade de proteger o seu porto de mar, devido à enorme instabilidade provocada pelo processo de independência da antiga Rodésia.
Os F-84G protagonizaram também as primeiras esquadrilhas acrobáticas portuguesas. A primeira surgiu por iniciativa dos pilotos da Esquadra 20, e teve o seu grande momento quando atuou pela primeira vez além-fronteiras, com os seus F-84G no "Festival Aéreo Internacional de Madrid", no ano de 1954. Por questões de rivalidade, a Esquadra 21 decidira criar a sua própria esquadrilha, e, por sugestão do comandante da Base Aérea Nº 2, as duas esquadrilhas fundiram-se, originando assim aquela que é considerada (erradamente) a primeira formação de acrobacia em Portugal, de seu nome "Os Dragões de Portugal" ou simplesmente "Os Dragões". Atuou pela primeira vez a 30 de novembro de 1954, durante a visita oficial do presidente da Grécia, mas em 1958 os pilotos foram transferidos para a Esquadra 51 para pilotar os F-86 Sabre, ditando assim o fim da formação.
Em 1967, em Angola, foi formada com F-84G da Esquadra 93 da Base Aérea n° 9 uma patrulha acrobática, apelidada de “Os Magníficos", exibindo-se na própria cidade, Luanda, bem como em Nova Lisboa, atual Huambo, e outros locais.
O F-84 Thunderjet entrou ao serviço da Força Aérea Portuguesa em janeiro de 1953, quando foram entregues as primeiras 25 aeronaves da versão F-84G adquiridas em estado novo. Foram integradas na recém-formada Esquadra 20 e colocados na Base Aérea Nº 2 na Ota, formando a primeira unidade operacional de aviões de combate a jato em Portugal. No ano seguinte, com a chegada de outras unidades provenientes dos excedentes de países aliados, foi criada a Esquadra 21, ficando ambas enquadradas no Grupo Operacional 201, do qual fazia parte uma terceira esquadra, esta composta unicamente por aviões de treino avançado Lockheed T-33A.
F-84G da FA Portuguesa, década de 1950 |
Integrados nas Forças da NATO, tinham como missão primária a defesa do espaço aéreo nacional e tendo em vista a preparação para o desempenho da missão, as Esquadras empenharam-se em rigorosos programas de treino operacional, praticando voos de navegação em formação a baixa altitude, voo sem visibilidade, acrobacia aérea, tiro ar-solo com metralhadoras, foguetes e bombas e ainda treino de combate aéreo o que, para além das manobras de combate, incluía fogo real de metralhadoras para um alvo rebocado por um avião do mesmo tipo.
A partir de 1958, os F-84G começaram a ser substituídos na função de defesa aérea pelos F-86 Sabre, passando os Thunderjet a serem utilizados sobretudo na função de ataque ao solo e apoio aéreo próximo, até 1974, ano em que foram abatidos ao efetivo da FAP
Durante o período em que estiveram ao seu serviço, os F-84G tiveram um significativo protagonismo, na operação da recém-criada Força Aérea Portuguesa.
F-84G da FA Portuguesa, BA9, Luanda |
Em 1956 uma formação de oito F-84G, com pilotos das duas esquadras, voou da BA2 da Ota para a BA4 nos Açores, regressando sem problemas. Posteriormente ainda em 1956, outros oito repetiram a viagem aos Açores, para participaram no exercício “Estorninho”. Os Açores situavam-se no limite da autonomia dos aviões, pelo que os mesmos foram assistidos por bimotores Locheed PV-2 Harpoon. Ainda que todos os aviões tenham regressado à sem problemas, alguns pilotos referiram que, tanto à ida como no regresso, aterraram com combustível para poucos minutos de voo.
Esquadrilha de F-84G sobre a Ponte Salazar em construção |
Até 1973 a Esquadra 93 tinha perdido 10 aviões em acidentes ou incidentes. Nesse ano só dispunha de cinco aeronaves em condições de operar. Quando a Guerra do Ultramar terminou, em 1974, os poucos que ainda se mantinham operacionais foram definitivamente abatidos.
Da totalidade de 125 F-84G existentes na FAP, foram perdidas 30 aeronaves em acidentes ou incidentes, tanto em Portugal como no Ultramar.
F-84G, FAP, Patrulha Acrobática Dragões |
Um novo grupo, denominado "São Jorge", foi então formado por iniciativa da Esquadra 21, cujas aeronaves envergavam uma pintura considerada à época espetacular, dois terços posteriores da fuselagem a preto e um terço inferior em vermelho vivo, na cauda a bandeira portuguesa e o número de cauda a branco. Este grupo sobreviveu durante pouco tempo e também não ficou conhecido do grande público.
Exibição da patrulha acrobatica S.Jorge |
Atualmente vários F-84G do antigo efetivo da FAP, encontram-se em museus ou exposições estáticas. Dois estão em pedestal na porta de armas do Centro de Formação Militar e Técnica da Força Aérea, na Ota onde quatro outros (dois outros pertencem ao Museu do Ar), estão armazenados e um encontra-se no museu aeronáutico situado no Château de Savigny-lès-Beaune em França. Um dos F-84G pertencente ao Museu do Ar, foi sujeito a restauro no Aérodromo de Manobra N.º 1, em Maceda, Ovar, concluído em junho de 2016, passando a aeronave a integrar a coleção exposta naquele polo do Museu.
Em Blog AVIÔES MILITARES
Um Abraço de amizade ao AB pelo historial publicado.
ResponderEliminarO avião que está no museu do ar, foi o avião que sofreu um acidente na Ota, num treino dos DRAGÕES ,com o então Alferes PILAV Santos Gomes? Cumprimentos
ResponderEliminarMeus Amigos uma boa tarde para vós com votos de um feliz fim de semana. Que Artigo Interessantíssimo. Grato pela vossa publicação. É com mágoa que vejo a fotografia do 168, avião histórico, que ficou em terras de Angola. Quando por lá passei, em trabalho na TAAG, estava numa propriedade na Ilha de Luanda. Enfim.
ResponderEliminarObrigado AB Neves, por esta lição de história do F 84. Um Abraço
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