Percorri centenas de quilómetros numa carrinha, sobre estradas escaldantes que
se estiram através de florestas inóspitas ou de planuras
selváticas, cobertas de capim, para chegar ao Forte-Roçadas.
Este povoado encontra-se a sul da província de Huila, uma das cinco em que se
divide a vasta Angola.
Banhado pela margem esquerda do rio Cunene, o seu nome fala-nos do excelente
militar Alves Roçadas que em 1907, tendo o comando de dois mil homens, derrotou
os povos guerreiros de Além-Cunene…
Calquei pela primeira vez o seu solo ardente, numa noite fantástica de
escuridão, em que o brilho das estrelas tinha reflexos angustiosos. Levava o
coração oprimido por certo temor, pois de alguns citadinos pessimistas, eu tinha
ouvido as piores informações a respeito do Forte-Roçadas, tanto pelo seu clima
insalubre como pela imensa variedade de animais selvagens que circundavam a sua
vizinhança. Talvez por isso, apoderou-se de mim uma intensa emoção naquela
hora.
Após ter atravessado o rio Cunene, numa jangada que pretos vigorosos conduziam,
subi a uma pequena encosta.
E sob o negrume da noite eu apenas distinguia o lugar onde pisava. O mais, eram
sombras e mistério…
De longe chegavam até mim gritos estranhos acompanhados de um tan-tan
dolente - Era a sinfonia do batuque! Já tinha ouvido tais sons em outras
latitudes, mas aqui, ao ouvi-lo, surgiu na minha mente uma visão trágica desta
África misteriosa que eu tanto gostava e que que me pareceu quase desconhecida,
apesar de tantos anos por lá vividos, tanto em Moçambique (aqui menino e moço) como em Angola, já como militar.
E tive algum receio.
Já lá vão alguns anos após aquela noite, e hoje passado tanto tempo, reconheço
como eram exagerados os meus medos que se fundamentavam em perigos duvidosos e fantasiados.
Na verdade, nós muitas vezes fazemos uma má impressão desses povoados longe do
bulício das cidades, perdidos no isolamento da selva do Continente Negro.
E, contudo, lá vive-se bem. Tudo é tão simples, tudo é tão natural. Existem, é
certo, as doenças tropicais, mas a assistência médica até não era má e com
bastantes elementos preventivos para as combater. E se pensarmos um pouco,
concordamos que não é só nos lugares mais recônditos de África que há doenças
malignas. Elas existem em todo o mundo.
Quanto aos animais ferozes, não vi neles grande perigo a que muita gente se
referia. As feras só quando estão feridas ou, em casos muito excepcionais
quando têm fome, pois de contrário fogem do homem, como algumas vezes tive a
ocasião de verificar. Se assim não fosse o que seria desses negros que ainda
hoje caminham quase meio despidos, durante quilómetros e quilómetros por
caminhos sinuosos através da selva.
Forte Roçadas
A principio experimentei uma profunda saudade do meu Portugal distante, mas
também conhecia a Lunda, no Leste de Angola,onde cumpria o serviço militar como Especialista da FAP e acabei de sentir-me
feliz naquela terra ardente!
Naquela solidão imensa interrompida só pelo vento da floresta e o ribombar dos
trovões e o som inexplicável dos silêncios da noite, havia uma magia que nos
prende e nos obriga a gostar desta misteriosa África.
Os dias ali iam decorriam calmos, (poucos) pondo em êxtase contemplativo os
temperamentos românticos e sonhadores dos nossos poucos ainda anos.
Realmente o Forte Roçadas oferecia-nos panoramas lindíssimos. Muitas vezes ao pôr do Sol eu fui colocar-me num dos pontos mais elevados, experimentando a grandiosidade da paisagem. Lá para baixo para as bandas do poente, longos espaços cobertos de capim, substituídos em alguns pontos por bosques limitado. Onde predominava o embondeiro, essa árvore gigantesca que é como que a sentinela do sul.
Realmente o Forte Roçadas oferecia-nos panoramas lindíssimos. Muitas vezes ao pôr do Sol eu fui colocar-me num dos pontos mais elevados, experimentando a grandiosidade da paisagem. Lá para baixo para as bandas do poente, longos espaços cobertos de capim, substituídos em alguns pontos por bosques limitado. Onde predominava o embondeiro, essa árvore gigantesca que é como que a sentinela do sul.
E as horas decorriam serenamente…
O Sol, qual enorme globo de fogo movia-se com grande velocidade e à medida que
se aproximava da linha do horizonte aumentava de diâmetro, espalhando
colorações que iam do vermelho e amarelo ao roxo esbatido.
Maravilhoso ler este texto recordando os tempos de Africa que saudades já pouco existe do nosso tempo vivido 21 aons antes (64) um grande abraço a todos os camaradas.
ResponderEliminar