Em tempos extremamente conturbados do chamado “Verão Quente de 1975” por cá, por África, mais propriamente por Angola em pleno êxodo dos ditos retornados e das desavenças político militares dos Movimentos de Libertação de Angola, MPLA, FNLA e UNITA que já se vinham flagelando no após “Acordos de Alvor”, primeiro em Malange, depois em Henrique de Carvalho e escaramuças também em Nova Lisboa e luta pela hegemonia de Luanda com o beneplácito de certos actores do MFA por Angola.
As Forças Armadas Portuguesas por Angola, depois de firmada a antecipação da data de independência para 11 de Novembro de 1975, viam-se em Setembro desse referido ano numa autêntica insegurança e muitas dúvidas se nos punham como militares no terreno, dadas as ordens e contra-ordens emanadas de Lisboa sobre o seu real papel no contexto em que por lá se vivia.
Assim neste ambiente, na manhã do dia 26 de Setembro de 1975, há exactamente 45 anos, realizei sem saber quando parti para essa missão, o meu último voo por terras Angolanas no Nord nº. 6413 em voos de ida e volta a Cabinda “LU-CA-LU”.
Voámos logo de manhã a partir de Luanda, recebendo das tripulações do Boeing 707 da FAP que tinha acabado de chegar a Luanda vindo de Lisboa, os Jornais vespertinos de 25 de Agosto, com as notícias da Metrópole. Seguimos rumo ao Norte pela linha de costa, passando Santo António do Zaire e cruzando o Rio Congo, lá nos dirigimos para o Enclave de Cabinda, onde ocorriam à época as exímias explorações petrolíferas ao largo.
Aterrados em Cabinda a rapaziada do Exército retirou a carga a eles dirigida e depois fomos à Cidade...tenho dúvidas a tão longos anos, se dessa vez por lá almoçámos ou se apenas passamos algumas horas no Aeródromo de Manobra Nº. 95 da BA9.
Regressámos a Luanda, à BA9 umas horas depois, transportando mais umas dezenas de pessoas com destino à ponte aérea de retorno de nacionais a Portugal, realizando os procedimentos habituais de deixar o avião limpo e reabastecido para uma próxima missão.
Eis senão quando, o camarada José António Silva, também MMA da 3ª.73 que esteve também comigo no AB4 e que viemos no dia 30 de Junho de 75 via Nova Lisboa em parelha de T-6 para a BA9, a gritar, exclamando: “estás na lista de embarque para amanhã, para regressares à Metrópole”...a tão saborosa notícia que diariamente desejávamos aconteceu. Nesses difíceis dias de Setembro, uma semana antes, uma nossa tripulação e avião Nord da Esquadra 92 da BA9 tinha sido retida em Tchamutete por elementos da UNITA. Por vezes à tardinha ao entrar da noite, na placa ao abastecermos os Nord chegados de missões éramos “agraciados” pelo “espetáculo” das tracejantes sobre os Bairros adjacentes à pista da BA9 e Aeroporto.
NOTA FINAL: Por vezes e em muitos documentos, nomeadamente oficiais se indica que a Guerra Colonial/Ultramarina decorreu de 1961 a 1974, algo extremamente incorrecto pois como muitos dos que por lá andámos, depois de 25 de Abril de 1974, Camaradas houve que por lá perderam a vida, alvejados pelo inimigo...à sua memória aqui deixo alguns de que tive conhecimento, já em 1975:
JOSÉ LUÍS GAIÃO MONTEIRO, 1ºCb MMA, BA9 (DO-27), Caxito - sobrevoo de reconhecimento durante a tarde, tiro vindo do solo, durante refrega entre FAPLA e ELNA - 27.07.1975 cbt;
1974:
JOSÉ CARLOS RAIMUNDO DOS SANTOS, Alf. ml. PilAv. e MANUEL ÂNGELO DE MATOS PAIVA, 1ºCb MMA, BA9 (AL-III 9367), Vaco - a oriente da serra Muabi / Belize, missão op - atingido por rajadas MPLA, 12.06.1974 cbt.
CARLOS MANUEL RAMOS PAIS, 1ºCb MARME, AB 7 (AL-III helicanhão Esq703), Luenha - ZOT sul Mazoé, missão op apont. helicanhão, ating cabeça tiro IN, 02-05-1974 cbt.
SÓ PARA REFERIR OS QUE MORRERAM EM cbt – Combate (mais outros 26 pela FAP pelos três Teatros de Operações, deram a Vida pela Pátria no após 25ABR74 até à Independência da Colónias).
Às Suas Memórias, 45 anos passados, Paz às Suas Almas e que Descansem em Paz... Jovens como todos nós que por lá andámos nesse período da Nossa História.
Por: Manuel Vieira
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