GEN. DIOGO NETO
Manuel Diogo Neto. Este oficial é porventura o homem que mais se dedicou a causa da FAP e pelo seu espirito de servir deve ser considerado um herói nacional.
Esteve em todas as frentes de batalha, desde 1961 a 1974 e concluiu 3 missões nos 3 palcos sempre na posição de chefia.
Nasceu na capital em 1924 cursou Aeronáutica na Escola do Exército. Depois de passar por BA4, BA3, BA2 foi colocado na BA9 em Dezembro de 1960 já como Ten. Coronel. Foi o principal interveniente da defesa da população de MUCABA nos primeiros dias da guerra em Angola, juntamente com outros notáveis como Maj. Silva Cardoso e Cap. Ervedosa, teve também a sorte a seu lado, pois conseguiu suster e repelir o avanço das hordas terroristas que se preparavam para a chacina da população na igreja local, numa breve abertura do nevoeiro pormenor que fez a diferença.
Esteve em Moçambique em 1967. Em Agosto de 1968 foi comandar a BA 12 em Bissau.
Em Fevereiro de 1971 conheci-o em Monte Real, já era Brigadeiro Director do Serviço de Instrução, no dia que o cabo piloto Ângelo fez explodir 9 aeronaves em Tancos. Foi presidir a um Briefing alargado de chefias militares na manhã da explosão.
Em 1972 regressou a Moçambique onde foi Chefe do Estado Maior da FAP. Com 48 anos ainda voava em FIAT G 91. Teve um acidente sem consequências no AM de Estima em que aterrou fora da pista isto é: “foi ás couves.”
Foi Chefe do Estado-Maior da Força Aérea de 29-04-1974 a 30-09-1974.
Não pactuou com os desmandos do PREC e solicitou a passagem a reserva em 30 de Setembro de 1974. Foi considerado o pai dos Especialistas. Foi ele que decretou a passagem á reserva de especialistas com contrato de 6 anos, bastava ter concluída uma comissão no ultramar.
GEN. KRUS ABECASSIS
José Duarte Krus Abecassis, foi um militar brilhante mas inconformado, granjeou um grande número de amigos e inimigos. Defendia a ética militar, as aptidões técnicas e o comportamento profissional eram condições que deveriam privilegiar as carreiras individuais militares.
Entrou no 1º. curso da Academia da Aeronáutica, foi brevetado em Sintra e seguiu para os Açores depois de tirar o curso de Caças na OTA. Integrou o grupo de militares que foram cursar os SKYMASTER nos Estados Unidos e pelo meio foi qualificado em B17 avião que FAP nunca possuiu.
Em 1952 funda a esquadrilha dos TAM e depois de passar pelo comando operacional da esquadrilha de caças da OTA ainda foi responsável pelos TAM na India em 1957. Em 1959 integrou a 1ª. esquadrilha dos F86G e T33 na BA5. Até 1963 esteve no Montijo responsável pelos Transportes Aéreos Militares. Defendia que os TAMs embora sedeados na BA6 tinham uma representatividade e uma autonomia própria e fez com que comprasse mais uma pequena guerra com o comandante da base e oficiais superiores.
Em 1963 foi fundar as FAV na 2ª. Região Aérea em colaboração com diversos Aeroclubes existentes, nasceu assim a frota dos Austers. Em 1965 foi comandante da zona aérea de Cabo Verde e Guiné. 1968 foi comandante da BA6 e em 1969, como Brigadeiro, foi nomeado director do Serviço de Instrução. Em 1970 foi nomeado para Nampula para exercer o posto de 2º. comandante de 3ª. Região Aérea, mas o seu arqui inimigo Gen. Telo Polleri "sossegou-o" em Lourenço Marques. Pediu a passagem a reserva em 1971 e foi-lhe concedida. A FAP graduou-o, posteriormente na reserva em Maj. General.
Publicou um extenso livro, em dois volumes, designado de Bordo de Ataque sobre a sua passagem na FAP.
Retrata uma vida que viveu e sofreu pela causa. Faz uma ampla avaliação dos maus pilotos que conspurcavam a FAP a quem designa de “pelicanos “ que como é sabido é uma ave desajeitada que voa mal. Estes pelicanos eram alguns daqueles que tinham uns paisinhos com influência e amizades, passavam sem problemas nas rigorosas inspecções e criaram carapaças para se defenderem e subir na hierarquia. Eu conheci um com 1.60m de altura talvez 50kg e chegou a general e tinha pena de não poder pilotar os Dakotas, pois não chegava aos pedais. Quem seria?
GEN. SILVA CARDOSO
António da Silva Cardoso. Conheci este militar já comandante da BA9 em 1972 pela pior das razões. Num jantar foi servido um peixe grelhado que me pareceu cachucho com batata cozida, que estava com fraco aspecto e nem sequer o provei. Fui de seguida á cidade e quando cheguei por volta dos 22 horas havia um grande rebuliço, saída de ambulâncias, enfim o caos. Fiquei a saber que 29 homens foram envenenados por comida estragada, muitos deles ficaram a soro e sujeitos a lavagens de estômago. O responsável da messe era precisamente o comandante. Já era tradição, os responsáveis das messes "granjeavam" mais uns trocos, que na BA9 dado o número de homens é já uma fortuna.
Silva Cardoso, já o referi em diversos artigos neste Blog, foi um militar garboso e responsável pela vinda dos 8 PV2 a voar do Montijo até Luanda. Participou na defesa de Mucaba, juntamente com Diogo Neto, Ervedosa e outros. Não sei quando passou a general e foi nomeado Alto Comissário em Angola e Governador Interino, de Janeiro a Agosto de 1975, tendo sido sucedido por Ernesto Macedo e Leonel Cardoso, o último governador geral, que acabou por entregar o poder ao MPLA.
Tem um livro épico, "Angola, Anatomia de uma Tragédia" composto por duas partes a primeira dá a conhecer os acontecimentos militares de 1960 a 1974 e a segunda trata dos diálogos com os movimentos de libertação e os acordos que nunca cumpriram.
Escreveu ao todo dois livros. Um em que já referi escrito de forma soberba e outro eminentemente politico "25 de Abril - A Revolução da Perfídia", que não gostei. Parecia que não queria perder o comboio do PREC.
COR. SOARES DE MOURA
Augusto Cândido Pinto Coelho Soares de Moura. Este pioneiro da aviação em Angola não chegou a General por incompatibilidade com o sistema e solicitou a passagem á reserva nos finais dos anos sessenta, optando pela carreira pública onde foi responsável por uma entidade que controlava e geria a extração de madeiras de Cabinda.
Foi o primeiro Comandante do AB3 no Negage em Fevereiro de 1961 e levou para “o mato“ a família dando o exemplo a outros militares que o copiaram. Foi um homem muito respeitado e prestigiado pelo seu valor ético e profissional.
Era natural de Penafiel na freguesia de Novelas. Após abandonar a FAP dedicou-se à escrita, à investigação da história local e ao ensino. Na sua quinta da Lama, em Lodares, dedicou-se á agricultura. Ele próprio vendia os produtos que colhia, na feira semanal do Concelho. Era um homem simples. Nem os seus conterrâneos sabiam que estavam a conviver com um herói.
Escreveu dois livros: um ficou anónimo na família e o seu filho, apesar de solicitado, não o facultou. O outro não se coaduna com as habituais crónicas ou histórias de guerra, foi redigido mais ao estilo de novela a que lhe chamou "O Segundo Aviso", pois trata-se da relação de uma namorada do tempo do liceu, com uma personalidade turbulenta, que pediu ao nosso Soares de Moura para casar, ele declinou, e ela o fez com um concorrente, um militar oficial comando açoriano. Mas á socapa ele foi espreitar o enlace na Igreja do Marquês no Porto. Voltaram a encontrar-se de forma semi-clandestina em Lisboa e Luanda até que desapareceu de vez e foi para os Açores.
A incompatibilidade manifestada pelo sistema foi comum a outros oficiais por exemplo, Galvão de Melo, Krus Abecassis ou Carlos Acabado sentiram como eu a decadência da organização da FAP, a extrema vaidade e mordomias dos oficiais pilotos superiores vindos da academia e daí a sua falência operacional.
OBS:
Para a elaboração destes pequenos apontamentos bibliográficos socorri-me do trabalho do nosso A. Neves editor do Blog, e dos livros e conhecimentos do ao tempo também cabo especialista Adriano Rui, o nosso "Dr.Seca", que possui uma biblioteca invejável e rara da nossa passagem em África.
Toneta, Novembro de 2020
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