quinta-feira, 3 de outubro de 2019

O CASTIGO DOS PAs DO NEGAGE.

AB3-Negage e AB4-Henrique de Carvalho

O relato que hoje vos trazemos confirma o que se constava na metrópole, antes de ser mobilizado, sobre a reputação do AB4. A Base dos desterrados, dos castigados, dos "cacimbados".
Em fins de 1969, no AB3-Negage, há uma "rebelião" de elementos da PA (polícia aérea), após o sargento SG Gomes ter agredido com uma enxada um dos seus elementos.
Este acto de todo descabido, provocou uma "manifestação" de descontentamento e a exigência de que o CPA fosse comandado por um PA e não como até ali por SGs (serviço geral).
Segundo nos relata Artur Santana, um dos desterrados:
Artur Santana no AB3
-"Fomos considerados rebeldes por defender o agredido.
 Éramos os rebeldes porque fizemos uma formatura em frente á Esquadra da PA, a pedir a demissão do capitão Brito e Cunha e do sargento Gomes. Eu era o porta voz, queríamos um boina azul a comandar-nos, que era o tenente Palma. Merecemos o apoio de alguns oficiais.
No dia seguinte, ao pequeno almoço, fomos informados pelo sargento de dia para entregarmos as armas e fecharmos os armários pois iríamos inaugurar um novo AM.
Acreditamos e fomos para o Nord que entretanto tinha chegado. Ao entrarmos estavam quatro páras armados, percebemos logo que algo de anormal se estava a passar, e estava, fomos disso informados quando estávamos quase a chegar a Henrique de Carvalho.
Quando fomos transferidos para o AB4 só trouxemos a roupa que tínhamos vestida, ou seja o camuflado, estando largo tempo á espera que nos remetessem os nossos bens pessoais. Vieram de facto muito mais tarde, porque tiveram de fazer o inventário de todos os soldados e quando nos foram entregues tivemos de conferir todos os pertences e assinar em como estava conforme.
Não fomos castigados em termos disciplinares, só lamento que a 2ª. RA tenha transferido também o comandante Oliveira Belo, uma excelente pessoa, que também acabou por sofrer as consequências deste caso.
A nossa causa era justa, pois ninguém tem o direito de agredir um soldado com uma enxada no peito originando-lhe ferimentos graves.
Com a mudança fiquei a perder pois era impedido ás águas da Base, jogava no Sporting do Negage tendo feito o campeonato provincial, era um privilegiado, mas em defesa de um companheiro fiz o que tinha de fazer e ainda bem !
Assim conheci o AB4, Henrique de Carvalho, a Lunda, a Rádio Saurimo, o cinema, uma amiga do liceu, o amigo e saudoso Carlos Fialho que faleceu em Teixeira de Sousa.
Considero-me um homem de carácter e de causas justas."

Joaquim Caratao, companheiro PA, também quis deixar o que relembra desse dia:
Joaquim Caratao
 "-Artur Santana, recordo muito bem a manhã em que o Nord chegou ao AB4, por volta das nove horas, com o pessoal PA vindo do AB3. Após o vosso desembarque, de imediato embarcou o mesmo número de militares do AB4 com destino ao AB3. A diferença é que vocês não conheciam o destino, enquanto que os do AB4 eram na grande maioria voluntários para o AB3.
A versão contada no AB4, era que teria havido uma escaramuça entre a PA e a PSP do Negage, situação que provocou uma grande incompatibilidade entre o comandante da CPA e o pessoal."

Artur Santana, quanto a esta versão, esclarece:
"-Caratão, sendo um dos principais protagonistas, afirmo, é uma história inventada para encobrir a realidade do que se passou, uma vergonha, um dito superior agredir um praça com uma enxada pondo-o em risco de vida? Por muitas razões que tivesse e não tinha, existia sempre o RDM.
Essa foi a verdadeira razão !"



Por:
                                                                        Colaboração de:



Texto editado por:A.Neves



1 comentário:

  1. Grande Homem e Militar ! Se lá estivésse , podias contar com o meu apoio ,para tudo ! Os Homens distinguem-se uns dos outros pelas atitudes e actos de Coragem! Um grande abraço Camarada ! Saudaçõs ! Honoramos Principia . 1º Cabo P A 214 / 73 Silva , Henrique de Carvalho , A B 4 , Angola

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