Em 1966 ou 1967 não me recordo bem, na N´Riquinha, surgem três homens, um deles amparado pelos outros dois, num estado lastimoso, eu mal o vi, deu-me a impressão de que respirava por "um buraco" nas costas, ali pela zona da omoplata...
Vinham então pedir ajuda "da tropa"...e a história, contavam os dois que amparavam o ferido era de que um leão lhes dizimava a manada do gado, mas que eles perseguiram o leão e que o haviam morto mas que na contenda o leão atingira aquele nas costas e estava naquele estado, imaginava-se a morrer a qualquer momento.
O nosso comandante, o saudoso Capitão Bandeira (da C.Caçadores 1521), disse-lhes:
- "nós vamos tratar dele mas, quero ver a cabeça do leão".
Os homens saíram correndo, tudo se havia passado na zona de Santa Cruz (do Cuando), na altura já se falava que haviam grupos da Unita que andavam por ali, e a ideia de que se teve de imediato, era de que "aquilo" tinha a ver com a actividade desses grupos.
Imediatamente foi pedida uma aeronave para evacuar o homem. Não posso precisar mas passado algum tempo, talvez umas horas, chegou um PV2, recordo-me que era comandado por um Tenente que ao ver o pobre homem, como digo, dava a impressão de respirar pelas costas, olhou para o nosso Capitão com cara de poucos amigos e perguntou:
- "vale a pena levá-lo"?
Ao que o nosso capitão respondeu afirmativamente.
A historieta acabaria aqui, não fosse que dois dias depois os dois homens apareceram no nosso aquartelamento com a cabeça do leão abatido, já o outro estava no Luso e nada se sabia.
O tempo passou, talvez um mês ou mais e numa segunda feira, no semanal voo do Noratlas, lá veio o homem que tinha sido evacuado no PV2. Vinha do Luso, do hospital, risonho e contente, tinha sobrevivido.
Não era amigo nem inimigo, era um humano. A FAP fez o que pôde e ele salvou-se. Organizou-se uma patrulha para o levarem a Santa Cruz, quase a cem quilómetros, que os seus amigos fizeram pelo menos 4 vezes a pé, mas salvaram-no!
Mais uma bela historia, esta com final feliz.De locais tão bem conhecidos e percorridos por mim, em 69.Obrigado, camarada.
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