Heli canhão dos "primos" SAAF |
Penso que agora, tantos anos passados, não haverá problema algum em contar esta história real, que se passou comigo.
Terá sido na vasta operação Zumbo 3H (https://www.youtube.com/watch?v=0fWrFCdXmwI&t=156s), que se desenvolveu em toda a área do Batalhão e neste caso de certeza numa operação efectuada a partir do Alto do Cuito, na qual as nossas tropas foram helitransportadas para perto da zona de intervenção.
O meu pelotão não participou nessa operação onde foram
utilizados como meio de transporte para os lançamento das nossa tropas,
helicópteros dos "Primos", designação dada aos nossos amigos sul -
africanos (SAAF), que montaram base por uns dias no Alto do Cuíto.
Em conversa com o Comandante do agrupamento , salvo erro um
Tenente, que em simultâneo era o piloto do helicanhão, recebi o amável convite
para ir com ele no lançamento das nossas tropas, a bordo do canhão que ia fazer a protecção aos outros helis com os grupos de combate.
Aceitei a proposta e
aí vou eu participar voluntariamente nesta experiência "única" como
se veio a verificar de alto risco desnecessário.
Só depois compreendi, que o objectivo do convite seria
fazer-me enjoar, este facto segundo a praxe, teria como contrapartida o
pagamento de uma grade de cervejas.
Efectuado o lançamento, segue-se o regresso dos helis ao
quartel de Alto do Cuito tendo nós no
helicanhão ficado a sobrevoar a chana, e a admirar as cabras de mato que fugiam
assustadas.
No helicanhão seguia o tenente, com o respectivo cinto de
segurança, um sargento apontador do canhão, devidamente sentado com cinto de
segurança colocado. e... pasme-se!!!!,
Por insensatez minha e logicamente também do tenente, eu ia
sentado nas calmas, em equilíbrio instável simplesmente, em cima do caixote de
munições do canhão, sem cinto nem qualquer tipo de segurança.
Naturalmente que o Tenente não devia ter deixado que aquela
situação acontecesse tanto mais que naturalmente a porta do heli, estava aberta
para o canhão operar.
Mas ... o pior viria a seguir.!!!
Dá-se então a maluca odisseia para me fazer enjoar. Seguindo
o curso de um pequeno rio, afluente do rio Tempué, com o seu leito a serpentear
por entre árvores nas margens, o heli começa a seguir o trajecto do rio, com
voltas e meias voltas e eu a ver quando embatíamos numa árvore e ali ficávamos.
Pura loucura.!!!
Como não resultou, pois eu não enjoei, voltou á chana
seguindo quase rente ao solo. Surge entretanto uma cabra de mato que assustada
e a mudar frequentemente de direcção, passou a ser acompanhada pelo heli nesse
seu aflito e brusco serpentear.
Nem assim eu enjoei.!!!! Perante esta resistência, o piloto
muda de estratégia, e em plena chana
sobe o heli na vertical, com o motor na máxima potência até uma altura elevada para, uma vez lá no
cimo, "tirar motor" do heli, entrando logo de seguida em queda livre
no vazio.
Tive a sensação que as minhas entranhas me bateram na
garganta, mas refeito do susto e não dando parte de fraco disse-lhe: "Se
não enjoei desta nunca mais enjoo".
Alto Cuito - foto de Gonçalo de Carvalho |
Então o nosso “primo” dirigiu-se finalmente para a pista do
quartel e eu ofereci-lhe, seguramente após as 5 horas da tarde, hora sagrada
para o pessoal da Força Aérea Sul-africana, não uma cerveja mas um bom wisky
velho, sem ter assim de cumprir a praxe da grade de cervejas.
Moral da história: Nós e Eles ,com os nossos vinte e poucos
anos, chegávamos a correr riscos desnecessários, só porque a nossa jovem
adrenalina assim o sugeria ou permitia.
Depois, os acidentes aconteciam e éramos eventualmente mais
umas vítimas da GUERRA .!!!!
Por:
Muitos de nós cometemos actos relacionados com a idade que tinha-mos, a tenacidade reinante em nós e uma fulgurante adrenalina. Eu estive no norte e em Fevereiro de 70, julgo, fui a Luanda, no regresso tinha de esperar que a minha companhia fosse buscar o correio a Vista Alegre e com ela ia para Cambamba. Lá, travei conhecimento com 1 trabalhador da roça Maria Donzília que também esperava pelo mesmo. Combinámos e fomos de Vista Alegre para Cambamba, percorrendo 25 km. de mata, por picada, em zona perigosa. Ao chegar a Cambamba fui chamado ao comandante e, lá me safei, mas ia apanhando um grande castigo. Coisas da juventude. Um abraço.
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