Assim lhe chamávamos á cabine do Alouette lll devido á sua configuração com os vários painéis de plegsiglasse, que davam a ideia de bolhas e permitiam um ângulo de visibilidade para o exterior de mais de 180 graus.
Na frente duas portas de abrir para o exterior, e duas atrás de correr.
No seu interior á frente o painel de instrumentos, e de cada lado do mesmo na base, um conjunto de pedais para o comando do rotor de cauda, seguido de três bancos equipados com cintos de segurança.
Do lado esquerdo dos dois bancos da direita os respectivos manches de passo geral, e na frente entre pernas os de passo cíclico.
Na base entre os dois bancos da direita o manipulo de travão de estacionamento.
Em cima o pequeno painel para ligação de auscultadores e outros acessórios.
Atrás dois bancos recostáveis e alojamentos para fixação das macas.
Era este o espaço onde Piloto e Mecânico cumpriram as mais diversas missões operando esta eficaz e apaixonante máquina voadora.
Aqui compartilharam momentos que deixaram para sempre uma forte ligação emocional com o ZINGARELHO .
Que sensação levantar rodas do chão qual balão de ar quente subindo um pouco á vertical com o som do silvo do Artouste lll B, iniciando depois a velocidade para a tomada de altitude voando em direcção ao objectivo.
Quando fora das zonas de guerra, desta bolha desfrutávamos de uma visão espetacular de paisagens maravilhosas que os céus de África ofereciam e na embriaguez do vôo nos deixavam deliciados.
Que emocionante uma deslocação de Nampula para Téte, e que a partir da foz do Zambeze em Quelimane voando quase sempre a meia altura por sobre o rio fazendo escala em Mutarara, e desfrutando da beleza que a visão da paisagem estonteante este grande rio Africano nos oferecia na sua caminhada para o Oceano Índico.
Recordo que foi uma deslocação com dois Helicópteros, com os Pilotos Alferes Amilcar José Godinho e Furriel Emilio Malta da Costa, e o outro Mecânico Carlos Alberto Moleiro Lopes.
Já em zona de guerra, cada voo e cada missão eram uma aventura sentindo a adrenalina do perigo iminente, principalmente em Cabo Delgado no Planalto dos Macondes onde frequentemente éramos alvejados, ouvindo o impacto da metralha perfurando o Helicóptero e tentando escapar, por vezes com graves consequências para alguns.
As evacuações e resgate dos nossos camaradas das forças terrestres nas picadas e nas matas eram de uma entrega total para que nem uma só vida se perdesse, por vezes voando nos limites e em condições muito adversas, mas ninguém era deixado para trás.
E ali naquela Bolha era forte o sentimento de Piloto e Mecânico para tudo fazerem pela salvação de tantos jovens.
Infelizmente alguns amputados e com graves mazelas, mas puderam voltar para junto das suas famílias, o que era gratificante para nós .
Tempos longínquos, mas que continuam na memória.
BEM HAJAS ALOUETTE III !
Obrigado ZINGARELHO jamais te esquecerei.
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