quinta-feira, 30 de maio de 2013

NOMES QUE FIZERAM A HISTÓRIA DA AERONÁUTICA PORTUGUESA



Manuel Gouveia

Natural da cidade do Porto, cidade onde nasceu a 4 de Fevereiro de 1890, entrou para o Exercito em 1912, integrando os Sapadores de Caminho-de-ferro. Cinco anos depois, emigrou para França integrado no Corpo Expedicionário Português. Por lá ingressou nos Serviços de Aviação e frequentou a Escola de Mecânicos de Saint Cyr, local onde se especializou em motores Gnome-Rhone e Hispano-Suisse.
Durante a guerra trabalhou como mecânico na esquadrilha francesa 124, onde figuravam alguns pilotos de origem portuguesa.Com Sarmento Beires e Brito Paes viajou até Macau, em 1924. Dois anos volvidos, finalizou o curso de pilotagem na Escola de Aviação Militar, em Sintra, e posteriormente participou na travessia nocturna do Atlântico Sul.Fez ainda parte do Cruzeiro Aereo às Colónias entre 1935 e 1936.
Morreu a 10 de Dezembro de 1966 em Lisboa.


BRITO  PAES

António Jacinto da Silva Brito Paes nasceu em Colos, Vila Nova de Milfontes, a 15 de Julho de 1884.
Em 1907, ingressou na Escola do Exército, onde estudou Infantaria. Serviu de Caçadores 5 no Batalhão e na Companhia do Niassa, da qual regressou por doença em 1912.
Obteve o brevet de piloto na Escola de Avord em 1917.
Antes disso, tinha combatido com a infantaria 15 do CEP, tendo sido condecorado com a Cruz de Guerra, Ordem de Torre e Espada e a Legião de Honra francesa.
Com o fim da Primeira Grande Guerra, foi colocado no comando da Esquadrilha de Bombardeiros e Observação do Grupo de Esquadrilhas de Aviação da República, o que coincidiu com a sua tentativa na companhia de Sarmento Beires, de cumprir a ligação aérea à Madeira em 1920,com o Cavaleiro Negro.
Em 1924 realizou o raid a Macau, também com Sarmento Beires e também na companhia de Manuel Gouveia. 
Comandou ainda o Grupo Aviação da Amadora, tendo vindo a falecer tragicamente, a 22 de Fevereiro de 1934 num choque em pleno voo de dois aviões Morane, em Sintra. Era tenente-coronel e não tinha ainda completado 50 anos.

Crédito: Euro Impala/Força Aérea Portuguesa

quinta-feira, 9 de maio de 2013

CONVERSAS NA CIDADE Nº.5



Nota Introdutória
     No périplo acostumado dos “azulinhos” e depois de terem colocado os “trens” no asfalto, sucediam-se sempre as mesmas passadas. Repetiam-se vezes sem número pelos vinte e tantos meses de comissão. Do Hotel Pereira Rodrigues, farejavam os diversos bares espalhados pela grandiosa “urbe”: Cubata, Estrela D´Alva, Mobil, Lux, Quioco, Clube de Saurimo, Cinema Chikapa, etc.
     Faziam-se tangentes à Igreja, Palácio do Governo, Correio, campos da bola, piscina, cinema – tudo à caça das pombinhas. E, de tiradas duvidosas … rumavam para as sanzalas, projectados para missões humanitárias!...
     Mas, deixem o “marrador” situar melhor a rota infinda dos más-línguas.
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Marrador – Saudosos, naquela noite quente como a febre do doente, lá estavam os nossos “magalas aéreos” a curtirem no Bar Quiouco. Porém, lembraram-se das mulatas deitadas nas cubatas sem janelas, e eis que se impulsionam para outras paragens da cidade.
 VITO – Vamos à vida?
JOCA – “Let´s e kamón”.
VITO – Estás armado em “bife”?
JOCA – Bruxito. “Kultura” meu…
VITO – Vamos em frente, passamos pelo Cubata, mas sem parar. Só miramos o pessoal por via aérea e desandamos como uma “bufa”.
JOCA – Perto do Cubata vive a família magnata da cidade!...
VITO – Eu sei. O OLIV namora a filha.
JOCA – Porra!... Sabes tudo!...
VITO – Então, ele anda no Liceu com ela. Até soube que levou a balança de pesar “kamangas” para uma aula de química.
JOCA – Ehhhh….pá! Essa, é forte! Experiências!...
VITO – Aqui em frente do Hotel mora a família Soeiro. Pessoal meu conterrâneo. Já se encontram aqui desde os primórdios e têm muitas histórias interessantes.
JOCA – Sabes alguma?
VITO – Há dias atrás não viste um leão morto num jipe?
JOCA – Vi. Foram caçadores que o mataram.
VITO – Pois bem. O Soeiro contou-me que no final da década cinquenta não existia matadouro na cidade. Os animais eram colocados numa cerca de madeira e abatidos a tiro de caçadeira por um dos cidadãos. Essa acção até servia de espectáculo à população. Um dia, o caçador apontou a espingarda para a vaca a abater porém, desviou a mira sem se saber o porquê… E a multidão logo se interrogou com o gesto do mata rezes.
JOCA – Estava louco?
VITO – Louco? Apontou a arma para além da cerca e abateu um leão que se preparava para comer a vaca!...
JOCA – Leões na cidade?
VITO – Aprende… o leão da Lunda foi muito afamado e circundava a cidade há meia dúzia de anos atrás. Frequentemente eram avistados junto ao Clube de Saurimo.
JOCA – Já não vou à Barragem do capelão!...
VITO – Podes ir… os leões não andam de carrocel!... Tens “miúfa”?
JOCA – Olha, enveredemos pela Avenida do cinema. Por aqui não há leões. Só… leoas.
MARRADOR – A cidade era pequena e fazia-se bem à pata. Do Hotel Pereira Rodrigues, tomam o rumo Oeste na direcção do cinema Chikapa. Eles lá sabem o porquê!...
VITO – Queres ver o filme “A Dama das Camélias” da Sara Montiel?
JOCA – Sabes tudo. Até as fitas que correm?!...
VITO – O OLIV informou-me pois, estará lá com a filha do magnate, proprietário do cinema.
JOCA – O sortudo!... Estes ases do Leste namoram tudo o que é rico!... É a filha do Governador, é a filha do Secretário, é a filha do pedreiro…
VITO – Essa última, não.
JOCA – Foi a que te gozou?
VITO – Amélia…trá…la…rá…la…rá…
JOCA – Canta, canta, que o teu mal espanta. Depois do filme preciso de comprar umas coisas no “fardex”.
VITO – “No problem”. Temos o tempo todo por nossa conta. Vamos visitar o Jesus na estalagem do cripto, e o Sargento Baptista que vive num apartamento alugado. Depois, vamos ao “fardex”. Seremos os primeiros a desfazer o fardo para escolhermos a roupa. O filho do proprietário já combinou com o pai a fim de sermos os primeiros a escolher as peças…antes do pessoal da sanzala.
 JOCA – Tudo por tua conta. És o “BIG”!
VITO – “BIG BEN” !...
MARRADOR – Gozões… Sempre na “carneirice” do costume. Viram a “fita” como dois adolescentes, miraram o namoro do OLIV e a sua TER – lá para os confins dos balcões, e foram visitar o Jesus e o Baptista. Depois, seguiram para os lados da Junta Autónoma de Estradas, começos da estrada para o Luso.
JOCA – O Jesus estava todo entrapado!
VITO – Não soubeste que ele deu cabo da ponte do Chikapa?
JOCA – Como, se ela é de ferro?!...
VITO – Pois, por isso mesmo é que ele esteve em coma e quase partiu deste mundo para visitar o S. Pedro…
JOCA – Já estou a ver que ele ia de mota!
VITO – Parece que foi atacado. A coisa esteve mal!...
JOCA – E o Baptista? Alugou apartamento na cidade mas… ele é solteiro?!
VITO – “Atão”… Lá tem os seus esquemas e ideias. Olha, de vez em quando vou beber umas cucas com a malta conhecida e, por vezes, temos lá umas “coelhinhas”. Tudo boa gente.
JOCA – Estou a vê-las!...
VITO – Vês…vês aquela placa a sinalizar a entrada para H. de Carvalho?
JOCA – Sim, e depois?
VITO – Foi nas proximidades dela que se deu o ataque ao Sargento Carvalho aquando do negócio das “Kamangas”.
JOCA – Tive pena pela morte desse companheiro!... Tanta gente no negócio e foi aquele o mártir!...
VITO – Segundo reza a história, antes da nossa comissão houve um soldado que conseguiu “exportar” umas boas “Kamangas” para o “puto”.
JOCA – Como?
VITO – Pagas para saberes?
JOCA – Pago. Até posso ter conveniência nisso.
VITO – Colocou as “Kamangas” num tubo da pasta de barbear, e ala que se faz a mala.
JOCA – E não acusou nada?
JOCA – O invólucro tem chumbo… aprende.
JOCA – Ahhh!... Há pouco tempo soube que o PIN e mais três, foram às compras desse “material” lá para as sanzalas  do Oeste.
VITO – Fizeram negócio?
JOCA - Ora, montados em duas motas, palmilharam alguns quilómetros. A sanzala estava em festa com os “canhicas” ou, “cilongos”, na “wino” com saias de palha e a pedirem umas “falangas” à malta. Os “gomas tchinguvos” arrufavam juntamente com a melodia dos “quissanjes”. Tratava-se da “tchisela”, uma dança muito conhecida pelos autóctones. Foi difícil encontrar o negociador. Depois de algumas incertezas… compraram-se umas pedritas que ficaram na posse do SOI.
VITO – Deu alguma coisa?
JOCA – Segundo informações… bem, as pedritas tinham carvão e foram vendidas por pouca coisa. Quem lucrou foi o SOI pois, como era o mais teso ficou com a “falanga  toda para tirar a carta de condução. Os restantes três concordaram…
VITO – Muita gente anda metida nisto!...
JOCA – A “rusga” já anda a investigar professores, polícias, e que mais?!...
VITO – Cautela, meu!
JOCA - Nesta estrada para o Luso, contou o OLIV que em viagem num T-6 com o PIN meteram um “cagaço” a um negro que vinha de “kinga” na recta.
VITO – Como assim?
JOCA – Meteram o avião a pique direitinho ao “carvão” e só tiveram a ocasião de ver a “kinga” deitada no asfalto e o sujeito a fugir pela “nhara” fora!... Disse que lá de cima…foi um espectáculo!...
VITO – “Malandrecos” esses “pilotaços”. Parecem o “Major Alvega”… da banda desenhada!
JOCA – Então, e o “fardex”? Preciso de roupa e o “tangwa” já vai alto.
VITO – Vamos lá ter com o meu amigo para saber se o pai já desatou o fardo.
MARRADOR – Volteando os fardos, lá escolhiam as calças e camisas enrugadas, provenientes da África do Sul. Eram “magotes” de roupa cedida gratuitamente para os candongueiros do comércio local. Ainda se conseguiam umas peças chiques e baratas que até faziam figura. Lembravam a roupa vendida em segunda mão, nos “Américas” nas Lajes.
…,…    …,…
     Aqui, na tasca do comerciante, desenhava-se o convívio para o jantar. Já se falava na “muamba” de galinha regada com “marufo” ou, “malufo”… da “tapioca” como sobremesa, e no célebre digestivo da “catchipembe”. Para finalizar… umas “liambadas” ou, umas baforadas na “mutopa”… se o nosso “Nzambi” deixar!...
     Maravilha… das maravilhas, esta África enfeitiçada!...            Enfim!...


Língua Quioca
Kamanga – diamante
Canhica / cilongo – jovens
Wino – dança
Falanga – dinheiro
Goma tchinguvo – tambor
Quissange – instrumento musical de palhetas
Tchisela – dança da circuncisão
Kinga – bicicleta
Nhara – savana
Tangwa – sol
Muamba – pirão ou funge com dendén
Quiouco – O pensador
Marufo – vinho feito da fermentação da seiva da palmeira
Malufo – vinho
Tapioca – papa de farinha de mandioca granulada e doce
Catchipembe – aguardente
Liamba – tabaco
Mutopa – cachimbo de água
Nzambi – Deus
Anotações:
Oliv, Ter, Pin, Soi – Nomes fictícios – mas com factos reais
Soeiro, Baptista, Jesus, Carvalho – Factos reais
Fotografias:
Recolha no “nosso” Blogue
Versos:
Hino dos Saltimbancos – Letra de Franklin Santos (uma quadra)

 Até Breve