sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

A LOURA INSUFLÁVEL

N'Riquinha

O destacamento já levava mais de dois meses, e não havia nenhuma notícia que me desse a certeza de que seria substituído em breve.
N'riquinha era local de punição para quem como eu se mostrara pouco “cordato” no trato com as chefias de Henrique de Carvalho. Por isso e não só, passava a maior parte dos dias a tentar falar com quem me pudesse ouvir, à quarta-feira por volta do meio-dia passava à vertical do destacamento um avião da TAP, que fazia Luanda, Lourenço Marques e cuja Tripulação, já se habituara a que eu os contactasse, falávamos durante segundos, mas para mim era como se fossem horas de amena cavaqueira com um amigo de longa data, dias havia que só falava com eles e esse breve contacto dava-me ânimo para mais uma semana de luta pela minha saída de N'riquinha. 
Numa dessas quartas-feiras, o TAP não conseguia contacto com Luanda nem com a Beira, e chamou por N'riquinha, acabei por fazer relé do reporte do avião para a Beira, ele pediu-me para mudar de frequência e perguntou o que é que podiam fazer por nós, pedi-lhe que enviasse uns jornais ou revistas, a que ele maliciosamente, respondeu com mulheres nuas, ao que respondi, tudo o que vier à rede é peixe... Pensei que era conversa de
Os CTT do Luso
circunstância, mas passados quinze dias, avisaram-me que tinha uma encomenda de um Comandante da TAP para mim em Henrique de Carvalho. Quando veio finalmente o correio, houve uma coisa que me chamou a atenção, alguém tinha assinalado numa das luxuosas revistas um anúncio a umas bonecas suecas insufláveis, lubrificadas e com vários sons de gemidos à escolha, o endereço postal era da África do Sul, e alguém encomendou a primeira boneca em nome e com o remetente da nossa República no Luso. 
Com o sucesso registado, (as encomendas tinham que ser levantadas e pagas nos correios) alguém "diligentemente" avisou (bufou) à PIDE/DGS, de que aquilo era no mínimo suspeito. 
A "loura"
Tinham passado entretanto meses e eu encontrava-me já finalmente colocado no Secarleste no Luso, e um dia apareceu um sujeito civil, suspeito, a perguntar se alguém sabia quem é que fazia as encomendas para a África do Sul. Avisado, fui até ao hangar e falei com o homem, disse-lhe que o militar em questão estava destacado, mas se ele me desse o seu nome quando ele regressasse, contactá-lo-ia. 
Sacados os elementos, fizemos a respectiva encomenda em nome dele, à cobrança, dirigida à DGS do Luso e nunca mais ouvimos falar do sujeito.
Até que um dia ele apareceu no destacamento, a “vociferar cobras e lagartos”, pois tinha estado fora um mês e a mulher ao receber o aviso da encomenda, pensando que era para ela, foi aos correios levantá-la. Só em casa ao abrir o embrulho e ao ver o conteúdo da mesma, é que percebeu as caras de espanto dos funcionários do correio.
Tal foi o "choque" que  pôs-se a andar para casa de familiares, não sem antes ter ido ao posto da DGS dizer aos colegas o que muito bem pensava da “pancada” do marido, recusando-se a falar novamente com ele e tornando-o na chacota de toda a cidade, levando a que fosse enviado para outro local mais resguardado pois ninguém mais o levaria a sério. 


Luso, 1973 
OPC (ACO) - 71/73

1 comentário:

  1. Esse PAPALVO não merecia melhor sorte, esperemos que tenha aprendido a distinguir as circunstâncias por que um homem as vezes passa na vida. Para esses crápulas(PIDE/DGS), tudo e nada era política e contra a Nação. Deveria ter-lhe sido encomendado um das CALDAS!...

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